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Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Masisa

Op-CP-13

Agregação de valor na cadeia produtiva da madeira

A árvore faz parte da vida do homem de forma tão intensa que podemos dizer que seria muito difícil viver sem ela nos dias de hoje, seja pelo uso de utensílios comuns ao nosso dia-a-dia, como forma de armazenar energia solar ou como fator de melhoria de qualidade do ar e, até mesmo, como pioneiras protetoras de uma biodiversidade indispensável para nossa sustentabilidade como espécie.

Números mostram que o consumo humano de árvores situa-se em torno de 400 árvores em uma vida de 70 anos, o que significa dizer que precisamos cortar diariamente mais de 100 milhões de árvores para atender ao consumo no mundo. O homem, no entanto, sempre lidou com esse recurso natural de maneira muito primitiva e, de certa forma, irresponsável. Mas, hoje, se reconhece a escassez deste recurso e, por isso, são necessárias regras e normas específicas para seu uso.

De um modo geral, a árvore prove-nos de produtos não madeireiros como frutos, resinas, óleos essenciais, etc, e produtos madeireiros, que são objeto desse nosso apontamento. A madeira in natura ainda é muito usada no mundo como fonte primitiva de energia, para aquecimento doméstico, caldeiras industriais e outros usos energéticos, visto que a biomassa corresponde, atualmente, a 30,9% da matriz energética total brasileira, sendo 40,1% da matriz energética industrial.


É utilizada, também, para transformação em produtos como carvão vegetal siderúrgico, celulose, painéis reconstituídos e madeira sólida. A madeira beneficiada em serrarias e laminadoras, provenientes de florestas plantadas, tem hoje seu preço no mercado do sul do país variando entre R$ 52,00 e R$ 230,00 por m³, dependendo do diâmetro das toras e do manejo utilizado na floresta.

O quadro “Valor da madeira colhida e carregada na Fazenda”, apresenta os valores de madeira de processo de 8 até 18 cm de diâmetro e madeira acima de 18 cm, praticados para uso em serrarias, nos estados do sul do Brasil. Esses preços, no entanto, possuem uma relação com alguns índices macroeconômicos que influenciaram, diretamente, suas variações nos últimos anos, como o câmbio USD/REAL, o ICC-USA - Índice da Construção Civil Americano e o Saldo da Balança Comercial Brasileira.

Isso mostra, claramente, a indexação do setor florestal de madeira beneficiada com o mercado externo, especificamente o mercado americano, que fez com que alcançasse o seu valor máximo em 2004, porém vem caindo, de acordo com as oscilações desses mesmos índices. Neste momento, o mercado procura se adaptar a outros mercados, como União Européia, e ao desenvolvimento do mercado interno.

Por outro lado, as madeiras utilizadas para processo em produção de painéis constituídos, celulose e carvão vegetal, tiveram seus preços alterados, de acordo com o aumento de preço dos respectivos produtos no mercado, com a entrada de novas plantas no cenário nacional e com uma maior demanda internacional de cavacos e energia.

A madeira, que passou vários anos com valores abaixo do seu custo de produção, teve uma reação nos últimos 10 anos, com a entrada de várias plantas industriais consumidoras desse recurso, que agregam muito ao seu valor, podendo ser aumentado em mais de 11 vezes, quando comparado com o valor da madeira in natura.

No momento, os temas florestais em debate pelo setor são: fatores que irão conduzir este mercado nos próximos anos, incluindo algumas preocupações, como o desenvolvimento de novos mercados ainda não maduros; e fatores de custo que compõem a formação de florestas plantadas no Brasil. A análise, do lado do consumo, apresenta um quadro promissor, segundo as entidades que apóiam os setores produtivos de base florestal, mostrando aumento crescente do consumo brasileiro per capita - CpC, de painéis MDF que, entre 2001 e 2006, passou de 4 para 10 m³ para cada 1.000 habitantes, sendo que, na Espanha, registra-se o maior CpC de MDF, ou seja, 81 m³ por cada 1.000 habitantes.

Enfatizamos, também, o desempenho do comércio mundial de móveis, que dobrou nos últimos 10 anos. E, mesmo que o Brasil tenha aumentado em 7 vezes sua exportação, ainda assim representa somente 1% do mercado total desse produto. Outro ponto que merece nossa atenção é uma procura forte por carvão vegetal, gerada pelo grande desequilíbrio entre oferta e demanda desse produto, consumido, principalmente, pelas siderúrgicas localizadas em Minas Gerais, que deverão manter bastante aquecido o comércio de madeira para esse fim.

Um aumento da demanda de celulose de fibra curta de eucalipto no mundo, que tem 64% do seu abastecimento vindo do Brasil, também manterá alta sua influência nos preços de madeira em pé, assim como aquecido os plantios de eucalipto em todo sudeste e sul brasileiros. O déficit habitacional brasileiro está, atualmente, na ordem de 8 milhões de moradias e o país vai precisar construir 27,7 milhões de habitações até o ano de 2020, conforme previsão do Sinduscon-SP, isso indica que teremos forte procura por madeira para construção civil e painéis para móveis.

Por outro lado, um crescimento também significativo de investimentos na construção de novas plantas de painéis e celulose, motivado por esse mercado com crescimento contínuo, está gerando bastante insegurança nos preços dessa commodity e também poderá afetar os preços dos painéis reconstituídos de MDF e MDP.


Já no lado da produção florestal, o que se vê é um aumento de custo dos principais fatores de produção, terras, insumos e mão-de-obra, iniciando-se pelo preço da terra, que teve seu valor mais que dobrado nos últimos 3 anos, puxado por uma forte procura de ativos florestais e terras brasileiras por empresas estrangeiras de investimentos em negócios florestais - TIMOs, seguido de uma forte recuperação do setor agropecuário brasileiro.

Já os fertilizantes triplicaram seus preços no último ano, passando a tonelada do NPK 6-30-6, muito usado em plantações florestais, de R$ 550,00, em novembro de 2007, para R$ 1.800,00, em setembro de 2008. A dificuldade cada vez maior para obtenção de licenciamento ambiental para plantio de florestas em alguns estados acarreta não somente atrasos nos programas anuais de plantio, mas também eleva os custos de plantio, o que faz do setor florestal uma referência na adequação às leis, normas e instruções estaduais e federais, porém bem distintas das exigências feitas para outros setores do agronegócio.

O cenário mundial aponta para dois ou mais anos de baixo crescimento e redução no consumo de algumas commodities como celulose e aço, que influenciam o consumo de madeira.

Porém, o setor florestal deve ter uma visão de longo prazo e continuar seu ritmo de crescimento, preparando-se para tempos melhores, que exigirão produtos com maior qualidade, preço, especificidade ajustada ao uso industrial e origem baseada em critérios ambientais e sociais, aceitos pela sociedade. E, para isso, devemos nos preparar, buscando estabelecer novos parâmetros de medição da performance florestal brasileira, como balanço energético de cada produto, consumo de água para produção florestal, maior produtividade florestal por unidade de solo utilizado, menor abertura de estradas e movimentação de solo nos projetos florestais, ou seja, agregação de outros valores, além do econômico.