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Augusto Arlindo Simon

Gerente de Silvicultura da Tanac

Op-CP-58

Acácia: um gerador de riqueza
Em 2018, completou um século a introdução da acácia negra (Acacia mearnsii) no Rio Grande do Sul. Plantada comercialmente a partir de 1928, tendo sido trazida da África do Sul em função do elevado teor de tanino na casca, essa árvore de porte médio, originária da Austrália, rapidamente se expandiu.
 
Enquanto a indústria do couro demandava in natura toda a casca que houvesse, a madeira logo substituiu, com vantagem, outras madeiras, principalmente nativas, na geração de energia industrial ou doméstica. A fabricação de carvão ajudou a consolidar a cadeia produtiva. Com o passar dos anos, iniciou-se a industrialização da casca com produção e exportação do tanino, ao mesmo tempo em que as propriedades da madeira, com alto poder calorífico, alta densidade e baixo teor de lignina, tiveram usos industriais diversos.
 
A despeito do menor volume produzido por hectare na comparação com outras florestas cultivadas, a possibilidade de uso múltiplo sempre manteve a espécie como opção economicamente viável. Paralelamente, as caraterísticas silviculturais fizeram da acácia negra a espécie preferida de muitas propriedades de pequeno e médio porte. Destaca-se a possibilidade de consórcios com a pecuária pela boa luminosidade no interior da floresta, associada à fixação significativa de nitrogênio atmosférico por leguminosas.

A floresta consegue manter vegetação rasteira sempre verde em seu interior e permite, a cada ciclo, um solo revigorado para a agricultura de subsistência no ano de reforma. O próprio volume individual menor sempre facilitou as operações de colheita, geralmente com pouca mecanização.
 
A Tanac, fundada em 1948, compra casca e madeira descascada no mercado para atender a cerca de 50% de suas necessidades industriais. Da casca, são produzidos taninos para o setor coureiro, taninos modificados para diversas finalidades (floculantes para tratamento de efluentes industriais e água potável), aditivos para alimentação animal, adesivos e outros; e, da madeira, são produzidos cavacos para celulose e pellets para geração de energia. Importantes alterações nos mercados têm ocorrido com necessidade constante de pesquisa e inovação, com o lançamento de novos produtos, majoritariamente de exportação.
 
O mercado global, dessa forma, acaba refletindo também na oferta de matéria-prima e com os produtores enfrentando também suas próprias condições. Flutuação da área plantada, aumento do tamanho médio das plantações, maior profissionalização e mecanização das atividades, concorrência cada vez maior com outras atividades e culturas no meio rural se mesclam com eventuais vantagens e desvantagens nos últimos anos. Considerando-se esse cenário, é imperioso buscar maiores volumes de madeira e casca, aliado à redução possível nos custos de produção. 
 
Como em qualquer cultura, a produtividade é função do manejo e do material genético utilizados em cada área. Em relação ao manejo, recomendações e ajustes na experiência prática dessa floresta, que já cobriu quase 200.000 ha no estado, majoritariamente com produtores independentes, não têm sido um problema importante na acacicultura. 
 
Resultados de testes e constatações de resultados em plantios comerciais, considerando espaçamento, fertilização, idade de corte, preparo de solo, etc., em geral, têm sido bem assimilados.  Em relação ao material genético, ainda são largamente plantadas sementes comuns, “catadas” por formigas quenquéns para junto de seus ninhos nas florestas.

Os plantios da empresa são realizados com mudas de sementes provenientes de Áreas de Produção de Sementes, com duas ou três gerações de seleção. Têm sido conduzidos trabalhos de melhoramento e identificação de materiais superiores, tanto a partir de sementes originadas dos plantios comerciais quanto de novas importações da Austrália. Sem importantes interações negativas entre crescimento e os indicadores de qualidade de casca e de madeira, crescimento, forma e sanidade têm sido foco na seleção de progênies.
 
Em 2006, iniciou-se um trabalho de reprodução a partir do enraizamento de estacas que tem sido conduzido pela empresa e, atualmente, também por viveiro comercial contratado. Os primeiros plantios clonais indicam um aumento em 50% no incremento. Dessa forma, em um determinado sítio com produtividade de sementes comuns em torno de 17 m³/ha/ano, será possível 25 m³/ha/ano com todas as vantagens daí advindas.

A meta estabelecida é ainda superior, baseada em resultados experimentais. Essa expectativa, a partir de testes clonais iniciais em alguns sítios, tem garantido a sequência dos trabalhos de identificação de novos clones e o desenvolvimento da melhor técnica. 

Ao longo dos últimos anos, as escolas da UF-PR, da Esalq-USP e da UF-SM têm estudado e colaborado para os resultados já obtidos.A espécie apresenta grande dificuldade de resgate de material vegetativo a partir de árvores adultas, associada, até o momento, a baixos percentuais de enraizamento. Como cultura de pequena expressão na comparação com os gêneros Pinus e Eucalyptus, por importante que sejam os investimentos para melhorias no processo, o ritmo de desenvolvimento é menor.

Tem-se trabalhado também com reprodução por micropropagação em laboratórios independentes na busca principalmente de identificar novos clones que associem maior capacidade de enraizamento com alta produtividade. Paralelamente, iniciou-se um trabalho de manejo diferenciado nas Áreas de Produção de Sementes e estabelecimento de Pomares Clonais de Sementes com materiais conhecidos de produtividade superior às sementes comuns. 
 
Ao desafio do aumento de produtividade, somam-se dois aspectos importantes em relação à legislação e à burocracia: sendo cultura minoritária em nível de Brasil, a falta de agroquímicos florestais ou registrados para a espécie e, estando as plantações no Rio Grande do Sul, a necessidade de licenciamento ambiental para todo e qualquer empreendimento.

O simples fato de ser a silvicultura a única atividade extensiva licenciável no meio rural traz custos extras e, principalmente, a impossibilidade de realização de plantios em determinadas regiões, em detrimento de qualquer outra atividade. Fazendo frente às dificuldades, a acacicultura sempre se sustentou a partir de dois eixos principais, que são os seus diversos produtos e as dezenas de milhares de produtores de várias regiões do estado.

Dessa forma, a realidade dos mercados nacional e mundial e os desafios locais para a produção têm sido contornados. Produtos oriundos de florestas plantadas, utilizados na maioria dos casos em substituição a químicos ou de origem fóssil, estão tendo, cada vez mais, visibilidade nos diferentes mercados. Por outro lado, o desenvolvimento da cadeia produtiva é base sólida para o futuro, cuja sustentabilidade é facilmente percebida nos municípios e nas propriedades cultivadas há décadas.
 
Destaca-se também a inédita certificação de manejo florestal de pequenos produtores que se somou, em 2019, aos 16 anos da certificação da principal empresa consumidora. Com perspectiva de maior demanda para produtos cuja origem sejam florestas certificadas, se confirma o interesse de quem produz e que poderá vender matéria-prima com esse importante diferencial. Segue, dessa forma, a acacicultura como importante atividade, contribuindo para a geração de riqueza no estado do Rio Grande do Sul.