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Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Masisa

Op-CP-09

O setor de madeira sólida e painéis, boas perspectivas, mas com risco de falta de matéria-prima

Pode-se dizer que o Brasil tem seu território bem dividido, quando falamos de negócios de base florestal. O eucalipto é plantado, principalmente, para produção de carvão vegetal e fibra para celulose, fortemente presente nos estados do sudeste, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, seguido do estado da Bahia, totalizando, nesses estados, 82% do total plantado no Brasil.

Já nos estados do sul ficam concentrados os plantios de pinus, com 67% do total brasileiro, e as plantações de acácia negra estão concentradas no estado do RS. Nestes estados, também estão presentes a maioria das indústrias que utilizam madeira sólida para produção de laminados, madeira serrada e painéis, onde são consumidos em torno de 33 milhões de toneladas de madeira de pinus e 3,5 milhões de toneladas de madeira de eucalipto, utilizadas, principalmente, pelas indústrias de madeira sólida - 70%, pela indústria de celulose - 23% e pelas indústrias de chapas - 7%.


Podemos dizer que a indústria de madeira sólida e painéis vislumbra os seguintes cenários nos próximos anos:
Compensados e OSB: Das 1.100 mil ton do total produzido, 35% são consumidos pelo setor da construção civil e, devido às previsões de crescimento forte desse setor, a demanda atual de 400 mil m³ por ano poderá aumentar entre 15 e 20% ao ano.

Madeira serrada: Esse seguimento, com característica exportadora, sofre com a valorização do real e se encontra retraído, na tentativa de colocação de seus produtos no mercado interno. Esse fato deve contribuir para o equilíbrio da oferta de madeira prime, acima de 30 cm de diâmetro.

MDF: Esse mercado encontra-se bastante equilibrado entre oferta e demanda, mas com tendências a se desequilibrar em cinco anos, se confirmadas as plantas anunciadas.

MDP: Da mesma forma, esse setor está crescendo devido à perspectiva de aumento no consumo, com resposta da indústria, anunciando novas plantas.  O problema é que na medida em que a capacidade industrial prevê aumentos significativos para os próximos anos, segundo anúncios de novas plantas, a área plantada tem aumentos menores do que as demandas, o que poderá causar problemas de desabastecimento, em alguns setores.

As previsões de investimentos nas florestas, em torno de US$ 3 bilhões, até o ano de 2012, vêm apresentando um crescimento anual de 4%, mas ainda assim, entre 2010 e 2020, poderemos ter déficits anuais de aproximadamente oito milhões de toneladas de madeira de pinus, sendo que, no PR, o maior déficit será de madeira abaixo de 18 cm de diâmetro, e no RS e SC, faltará madeira com diâmetro acima de 24 cm.


O gráfico mostra a perspectiva de apagão, para madeira com diâmetro acima de oito cm, nos estados do sul do país. O crescimento da demanda por painéis vem ocorrendo e a indústria responderá, sem dúvida, nos próximos anos, com aumento de capacidade de produção, já anunciado. As dúvidas que irão freqüentar as cabeças dos empresários são as mesmas que tiveram origem com a queda do dólar e com o aumento dos custos de produção.

A demanda por matéria-prima, a madeira, também virá como uma preocupação adicional, devido a um ordenamento florestal não ajustado, que poderá causar um desequilíbrio entre oferta e demanda. A evolução do plantio vem ocorrendo, em média, 4% ao ano, enquanto o consumo sobe bem mais que este valor.

Os preços da terra nua subiram mais de 150% nos últimos quatro anos, em algumas regiões do país e, por conseqüência, o plantio através de pequenos e médios produtores também subiu acima da expectativa.

Em 2006, plantaram-se 630 mil ha de floretas de rápido crescimento em todo Brasil, sendo que 15% desse total foi através de pequenos e médios fazendeiros. A conclusão dessa abordagem sobre o setor florestal, que sustenta a indústria de painéis e madeira sólida, não é diferente dos outros seguimentos, fibra para celulose e energia, ou seja:

1. O Brasil tem condições de aumentar sua participação no mercado interno e externo, produzindo de forma sustentável bens de consumo de origem florestal, plantando florestas cada vez mais produtivas, utilizando menos agroquímicos, através de utilização de híbridos mais adaptados e resistentes, produzindo uma madeira especial, para cada uso industrial desejado.
2. A participação dos pequenos e médios fazendeiros nessa bolha produtiva tem aumentado com resultados positivos e produzindo mais benefícios sociais e ambientais.
3. Apesar de algumas manifestações de grupos organizados contrários aos plantios de pinus e eucalipto, a sociedade vem percebendo o importante papel desse seguimento que, conduzido por empresas sérias, tem contribuído para a redução do aquecimento global, produzindo valores importantes para a vida do cidadão e ainda preservando, de maneira duradoura, reservas importantes da biodiversidade natural brasileira, que entremeiam os plantios de alta produção.
4. Através de práticas silviculturais adequadas, que minimizam os impactos ambientais e programas inteligentes de gestão participativa, empresas idôneas caminham, firmemente, com o objetivo de serem aceitas pelas comunidades onde atuam, alinhando-se à cultura local e participando, de maneira integrada e não mais paternalista, no futuro da região.