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Teotônio Francisco de Assis

Diretor da Assistech

Op-CP-58

A hora e a vez dos híbridos Corymbia
Desde que o conceito de florestas clonais foi introduzido no Brasil, entre o final da década de 1970 e início de 1980, os clones híbridos de Eucalyptus reinaram absolutos na formação de florestas como fonte de matéria-prima para as mais distintas atividades industriais. Apesar do grande salto de produtividade verificado ao longo das últimas décadas, consequência dos avanços no melhoramento genético e nas técnicas de manejo, uma série de eventos bióticos e abióticos tem dificultado a manutenção dos crescentes aumentos na produtividade florestal. 
 
Dentre esses fatores, destacam-se os insetos introduzidos nos últimos anos no País, bem como várias doenças, que têm causado danos econômicos às plantações de eucalipto. O recrudescimento de situações críticas de déficit hídrico, geadas e ventos, além de problemas como o “distúrbio fisiológico”, também têm afetado a produtividade dos plantios em distintas regiões do País. Soluções vêm sendo permanentemente buscadas para o enfrentamento desses desafios e para manter crescentes os níveis de produtividade. 
 
Nesse sentido, o desenvolvimento de genótipos adequados no gênero Eucalyptus tem sido o caminho mais indicado. Entretanto os híbridos entre espécies do gênero Corymbia estão se tornando uma alternativa aos eucaliptos na produção de matéria-prima para diversos segmentos da atividade industrial. Isso decorre principalmente do seu alto potencial de crescimento, da sua resistência à maioria das pragas e doenças atuais, da resistência ao “distúrbio fisiológico”, da maior tolerância ao déficit hídrico, da resistência ao vento e da alta densidade da sua madeira. 
 
Até o início da década de 1980, plantava-se muito C. citriodora para carvão vegetal, sobretudo em razão das características da sua madeira serem altamente favoráveis para a produção desse insumo siderúrgico. As espécies de Corymbia vieram a perder espaço para os clones de urograndis, mais produtivos e homogêneos, e acabaram sendo substituídos por esses híbridos nos plantios das empresas.

Quando foi introduzida a espécie C. torelliana, na década de 1970, devido à coincidência de florescimento e à afinidade entre essa espécie e C. citriodora, vários híbridos espontâneos começaram a aparecer nos plantios puros de ambas as espécies. O alto vigor dos híbridos chamou a atenção e se iniciou um processo de hibridização entre essas espécies, por polinização controlada. 
 
O potencial de crescimento dos híbridos era muito alto, mas sua propagação clonal em escala operacional esbarrava no baixo enraizamento desses híbridos, com a tecnologia de clonagem da época. 
 
Nos últimos anos, devido aos progressos verificados na sua clonagem, o interesse pelos híbridos de Corymbia cresceu consideravelmente. O uso da miniestaquia, junto com a exploração do efeito materno, utilizando C. torelliana como genitor feminino, com a exploração da máxima juvenilidade, utilizando brotações dos lignotubers e com o uso de estufins nos minijardins clonais, estão tornando realidade a clonagem desses híbridos em escala operacional. Com isso, os híbridos de Corymbia voltaram a ser uma alternativa de alto valor estratégico.
 
Em razão da alta densidade da sua madeira, em torno de 600 kg/m³ aos 7 anos, e da baixa relação cerne x alburno, os híbridos entre espécies de Corymbia são excelente alternativa na produção de carvão vegetal de alta qualidade. Além da alta densidade, outras características do carvão, importantes no processo de fabricação do ferro-gusa, como alta resistência mecânica e alta granulometria, também estão presentes nesses híbridos. A produtividade volumétrica de madeira tende a crescer com o uso de novos clones selecionados e, aliada à excelente qualidade da sua madeira e carvão, deve transformar, em breve, os híbridos de Corymbia na matéria-prima mais utilizada na produção de carvão vegetal no Brasil. 
 
Há até bem pouco tempo, as espécies e híbridos de Corymbia eram considerados pouco adequados para a produção de celulose. Contudo os fatores positivos já mencionados, relativos aos eventos bióticos e abióticos, além da alta densidade da sua madeira, têm sido os fatores mais atrativos na busca de clones híbridos de Corymbia para a produção de celulose. Recentemente, esses híbridos começaram a ser mais bem estudados e já fazem parte dos programas de melhoramento genético para essa finalidade.

Embora sua madeira apresente, em média, menores valores de rendimento em celulose, há variabilidade genética capaz de proporcionar a obtenção de características adequadas para celulose kraft e para celulose “solúvel”. Essa variabilidade possibilita selecionar clones de boa qualidade da madeira e com potencial para obter produtividades em níveis semelhantes àqueles observados nos clones de Eucalyptus. Como a densidade da madeira de todas as espécies de Corymbia é alta, seu uso promoverá significativa redução do consumo específico de madeira nas indústrias de celulose.
 
Os híbridos de Corymbia também possuem alto potencial para outros usos, como a produção de energia de biomassa, madeira para serraria e tratamento preservativo. Para energia de biomassa, além do bom crescimento e da alta densidade, quando comparada com os clones de eucalipto, sua madeira apresenta menores teores de umidade no mesmo tempo de secagem.

Todos esses fatores são importantes no aumento da produtividade energética, que é diretamente proporcional ao crescimento e à densidade da madeira e inversamente proporcional à umidade. Como madeira serrada, apresenta baixa propensão a rachaduras e tem aptidão para a fabricação de pisos, pois sua madeira tem dureza adequada a essa finalidade. Também é excelente para a fabricação de móveis de exteriores, como jardins e decks, além de madeira estrutural, forros e aberturas.

São também adequadas ao tratamento preservativo. Possuem madeiras de alta durabilidade natural, que pode ser incrementada via tratamento químico. Também possui menor retratilidade e menor tendência ao fendilhamento. Embora tenha menor relação cerne/alburno, o que pode aumentar o consumo de produtos preservativos, e sua alta durabilidade natural compensa essa característica.
 
Como pontos negativos, os híbridos de Corymbia possuem porcentagem de casca mais alta do que os híbridos de eucalipto e podem formar bolsas de kino na madeira. Entretanto, tem sido observada significativa variabilidade nessas características, indicando a possibilidade de que possam ser alteradas via melhoramento genético. 
 
Os clones híbridos de Corymbia mais conhecidos são provenientes de cruzamentos entre C. torelliana e C. citriodora.  Contudo, resultados de introduções recentes mostram que outras espécies de Corymbia apresentam potencial para hibridação superior ao C. citriodora. O crescimento das espécies C. maculata, C. variegata e C. henryi é significativamente superior ao de C. citriodora. 
 
Isso indica que o potencial para novos híbridos entre essas espécies, em cruzamentos com C. torelliana e outros híbridos de Corymbia, pode superar, em muito, o que já se conseguiu até hoje com os híbridos de C. torelliana x C. citriodora. Depois de serem os materiais mais utilizados nas plantações florestais do Brasil, os híbridos de eucalipto já começam a ter a companhia dos híbridos de Corymbia. Pelo menos na siderurgia a carvão vegetal, há uma forte tendência de substituição dos clones híbridos de Eucalyptus por clones híbridos de Corymbia.

É importante considerar que os híbridos de Eucalyptus estão em processo de melhoramento genético há mais de 40 anos, enquanto o melhoramento baseado em híbridos de Corymbia está apenas em fase inicial. Portanto ainda há muito a se ganhar em termos de adaptação, crescimento e qualidade da madeira. Não se imagina que híbridos de Corymbia possam substituir por completo os híbridos de eucalipto, mas certamente vão, cada vez mais, ocupar espaço nas futuras plantações florestais do Brasil.