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Paulo Yoshio Kageyama

Professor de Ciências Florestais da Esalq-USP

Op-CP-05

A biodiversidade nas florestas plantadas

Nos vários aspectos dos benefícios gerados pelas florestas plantadas, no caso, se discorrerá sobre os do meio ambiente e, principalmente, da biodiversidade. Plantio de florestas deve ser conceituado como uma atividade rural, onde o recurso a ser utilizado é o elemento arbóreo, sendo, no geral, espécies exóticas. Quando o plantio de florestas incorpora também o aspecto da biodiversidade, respeitando as APPs e as RLs, assim como os aspectos dos serviços ambientais e sociais, pode-se ampliar o conceito para florestas plantadas.

Quanto mais distante na evolução a espécie plantada, maior a probabilidade de sucesso em relação à sua não susceptibilidade a pragas e doenças. Daí a seleção de espécies para plantio no Brasil ter recaído nos gêneros Eucalyptus (outro lado do mundo) e Pinus (hemisfério norte). No seu início, impulsionado pelos incentivos fiscais, as plantações florestais tiveram vários erros quanto aos aspectos socioambientais, já que esses fatores não eram considerados até então, o que gerou passivos importantes, que o setor de florestas plantadas vem buscando corrigir, com certo sucesso.

Nesses novos tempos, em que uma legislação ambiental vem colocando corretamente parâmetros claros para o uso adequado da terra, com a APP e a RL, sendo essenciais para aferição dessa exigência, a produção rural começa a mostrar que é possível, atendendo simultaneamente a sustentabilidade econômica e ambiental. Para se avançar mais, é importante que se inclua o terceiro tripé, o social, que tem ainda deixado a desejar.

Assim, é importante enfatizar que um segmento rural vem tomando a dianteira no sentido de respeitar a legislação quanto as APPs e RLs, com a sua restauração e recuperação, com espécies nativas locais de alta diversidade e variabilidade genética. É o setor de florestas plantadas, principalmente com as empresas de vanguarda, que vem sendo pioneiro nesse mister.

A busca de conhecimento das empresas florestais nas universidades e instituições de pesquisa tem sido constatada nessas últimas décadas. Muito embora esse procedimento esteja sendo seguido por outras commodities, isso vem sendo muito tímido e, mesmo assim, com a preocupação com as APPs somente. Vale apontar aqui um conceito importante para a sustentabilidade rural, que é o da biodiversidade como fator para a manutenção do equilíbrio ecológico das plantações.

Na década de 80, as plantações de espécies florestais tomaram um grande impulso com o uso da clonagem, substituindo as sementes, com uma diminuição drástica da diversidade genética em cultivo. Com esse passo, verificou-se um aumento significativo na susceptibilidade das plantações a eventos biológicos (pragas e doenças) e climáticos (seca e geadas).

Um talhão de 50 ha, com cerca de 100 000 árvores de um só clone, tem pouca retaguarda genética para se defender dessas adversidades. Teve-se, então, que buscar alternativas para se contrapor à diminuição da biodiversidade, e isso teve que ser nela mesma. Essas mudanças foram: restaurar as APPs, deixar sub-bosque nas plantações, implantar RLs com espécies nativas, planejar corredores, etc.

Uma empresa florestal queria fazer uma avaliação da importância da biodiversidade no equilíbrio ecológico das plantações monoclonais. Sugeri que cada talhão de 50 ha tivesse uma avaliação em termos de Tamanho Efetivo Genético (Ne), usado como parâmetro para quantificar a variabilidade genética dentro do horto. Assim, o talhão florestal teria Nota 1 se fosse monoclonal, mas teria uma Nota 100 adicional, se tivesse ao lado uma APP primária, e mais uma nota 10, se tivesse um talhão de sementes no outro lado do talhão, por exemplo.

Assim, cada talhão seria quantificado pela sua nota própria, mais as outras 4 notas, nos seus 4 lados. Essa Nota Total seria testada a partir deste parâmetro, para avaliar ataques de pragas, doenças, intempéries, etc. Os talhões florestais praticamente não recebem aplicações de agrotóxicos durante o ciclo da cultura, a não ser excepcionalmente; isso exige que o cuidado com o equilíbrio ecológico seja buscado nesse tipo de empreendimento.

As empresas vêm estabelecendo institutos e fundações associados para atenderem também aos objetivos socioambientais. Algumas propostas inovadoras vêm sendo verificadas no sentido de se juntar às ações proambientais, as parcerias com pequenos produtores familiares, compartilhando recursos, que podem ser muito importantes para os agricultores sem terras das vizinhanças.

É o caso do plantio, no primeiro ano, de culturas alimentares nas entrelinhas das plantações florestais, sendo que os agricultores seriam responsáveis pela manutenção da limpeza das ervas competidoras. Nesse sentido, vale apontar, também, a discussão intensa acerca do Bioma Pampa, quando o interesse pelas indústrias florestais vem colocando o papel da questão socioambiental no bojo do problema.

Como enfatizado, existem parâmetros ambientais claros e definidos para a consecução de florestas plantadas, sendo as APPs e as RLs as primordiais, incluindo-se, mais recentemente, os corredores ecológico-genéticos, no planejamento da propriedade. Propostas de 50 a 60% da propriedade, sendo considerada de preservação ou conservação (APPs, RLs e Corredores), em empreendimentos florestais, representam uma área considerável.

Se estas forem restauradas ou recuperadas, representarão uma grande extensão do Bioma a ser mantido,em condições próximas às naturais, com perspectivas importantes. No caso do Pampa, a vegetação nativa, basicamente de gramíneas, segundo pesquisadores da região, é considerada a melhor pastagem natural do mundo. Se essa pastagem for mantida em baixo nível de pastoreio, como moeda de negociação para manutenção das raças de gado crioulas (com pedido de certificado de procedência) por pequenos e médios criadores, isso poderia ser uma ocupação de parte do Pampa de forma muito avançada, em termos socioambientais.

Porém, deve-se enfatizar fortemente que, antes de tudo, as ações em curso pelo Ministério do Meio Ambiente, de Revisão das Áreas prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade, assim como o Mapa de Remanescentes Vegetais, ambos para o Bioma Pampa, são essenciais para qualquer discussão de ocupação em grande escala do bioma. Adicionalmente, o Zoneamento Ecológico-Econômico, que vem sendo finalizado pelo Governo do Estado do RS, fecha o tripé ambiental e socioeconômico, como exigência para o avanço nessa importante discussão.