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Moacir José Sales Medrado

Diretor da MCA – Medrado e Consultores Associados

OpCP63

Ações sinérgicas no setor de florestas plantadas
No ambiente empresarial brasileiro, sinergia quase sempre significa fusão e aquisição de empresas, resultando em diferença positiva entre o valor de mercado de uma nova empresa e o das que lhe deram origem. Assim, os efeitos sinérgicos são, quase sempre, relacionados a aumento de receitas, redução de custos, diminuição de impostos e diminuição dos custos de capital. Por isso grande parte da sociedade tem uma ideia de que as empresas florestais brasileiras são voltadas para dentro delas mesmas.
 
A valorização de cada uma das empresas florestais é importantíssima, mas o território onde elas interagem visando a um resultado “ganha-ganha”, com reflexos intra e intersetorial, deve ser ainda mais valorizado. É nele onde a simples competição entre empresas cede espaço para projetos sinérgicos de grande impacto para a sociedade. Ressalto, como representantes de tais territórios, organismos como a Universidade Federal de Viçosa (Sociedade de Investigações Florestais - SIF), a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz” (Instituto de Pesquisa Florestal - IPEF), a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

A SIF congrega 19 empresas associadas e atua em 37 temas nas áreas de silvicultura, manejo de recursos florestais, ambiência, proteção florestal, tecnologia de produtos florestais. Com o Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), tendo sido credenciado pela EMBRAPII para atuar na área de fibras florestais (produção e qualidade das fibras, conversão das fibras em materiais e produtos e em energia e combustíveis), pode-se esperar um grande crescimento dessa instituição quanto a relacionamento com outros entes públicos e privados.

O IPEF congrega 16 associadas e mantém 11 programas cooperativos de grande importância em colaboração com 23 instituições, dentre as quais a ESALQ, a UFV, a EMBRAPA e a Universidade Federal de Lavras, além do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Desenvolve uma grande lista de projetos cooperativos com elevada sinergia nas áreas de tecnologias LiDAR (PROLiDAR), Melhoramento Florestal (PCMF), Silvicultura e Manejo (PTSM); Proteção Florestal (PROTEF); Mecanização e Automação Florestal (PCMAF); Monitoramento Ambiental em Microbacias Hidrográficas (PROMAB); Fluxos de Carbono e Água em Eucalipto (EUCFLUX); Pesquisa do Pinus no Brasil (PPPIB) e Certificação Florestal (PCCF). É importante ressaltar o Projeto RADAR IPEF de inovação, cujo objetivo é classificar startups e pesquisas com potencial para resolver problemas vividos por empresas do setor produtivo florestal.

A EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) tem contrato de gestão com o Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Ministério da Educação (MEC), atuando cooperativamente com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas.

Trabalha focada em demandas empresariais, compartilhando risco na fase pré-competitiva da inovação e apoia temas como biotecnologia, materiais e química, mecânica e manufatura, tecnologia da informação e comunicação e tecnologias aplicadas. Conta com mais de 50 unidades, sendo uma ligada ao Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da UFV e outra ligada à UFLA, através da Agência UFLA de Inovação em Geotecnologias e Sistemas Inteligentes no Agronegócio, a ZETTA, que nasceu de experiências exitosas do Laboratório de Estudos em Projetos em Manejo Florestal (LEMAF).

Na Embrapa, além da Rede de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, são vários os programas sinérgicos, com destaque para os seguintes: a) Projeto Biomas, que reuniu o trabalho de 400 pesquisadores de 21 unidades da Embrapa e 50 instituições de pesquisa nacionais; b) Projeto Genolyptus, que une universidades e empresas do setor florestal; c) Projeto Controle da Vespa da Madeira; e d) Projeto Família Sis, com ênfase no SisEucalipto. 

Vale ressaltar que a avaliação de impacto dos Projetos Controle da Vespa da Madeira (parceria com o Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais – FUNCEMA) e SisEucalipto indicou, em 2019, benefícios econômicos de 215 e 403,7 milhões de reais, respectivamente. Além dos benefícios econômicos, tais projetos têm gerado, anualmente, benefícios sociais (manutenção de emprego) e ambientais por assegurarem produtividades mais elevadas nos sítios de plantio, evitando a abertura de novas áreas para plantios e o aumento da fixação de carbono pelos povoamentos.

Dentre os projetos sinérgicos de caráter intersetorial, destacaremos aquele que deu origem à Estratégia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (E-iLPF) e que une quatro dos maiores componentes do Produto Interno Bruto do setor primário nacional − madeira, carne, grãos e leite. A E-iLPF, inicialmente restrita a uma ideia de projeto silvipastoril, trabalhada entre a Embrapa Florestas e unidades de pesquisa da área animal (gado de corte, pecuária Sul e pecuária Sudeste), foi ampliada pela Diretoria Executiva da Embrapa com a incorporação do esforço agropastoril (integração lavoura-pecuária) já em consolidação na empresa.

A partir daí, programou-se um workshop na Embrapa Gado de Leite, em Sete Lagoas, MG, em junho de 2008, reunindo unidades da Embrapa de todos os biomas, o MAPA e algumas instituições parceiras, como Bunge, Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, Emater – PR e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG. Nesse workshop, foi estabelecido o conceito da tecnologia: “A ILPF é uma estratégia que visa à produção sustentável, que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais realizadas na mesma área, em cultivo consorciado em sucessão ou rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica.”
 
A partir do workshop, a estratégia iLPF passou a ter apoio do Programa de Agricultura de Baixo Carbono – Programa ABC, a maior linha de crédito para agricultura de baixa emissão de carbono no País. A evolução da E-iLPF fez com que, em 2013, a Presidência da República instituísse a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e que surgisse a Rede iLPF, que tem fortalecido a estratégia junto à iniciativa privada.

A partir da ação da Rede, em 2015, foi lançada a marca-conceito carne carbono neutro e, por último, em parceria com a Embrapa, a Nestlé lançará a marca Fazendas Netzero para emissões. Os dois conceitos abrangerão milhares de propriedades rurais e centenas de empresas das cadeias produtivas de carne e leite. Outro desdobramento da Estratégia Nacional de iLPF poderá acontecer com o aço carbono neutro, principalmente, no Norte de Minas, onde a produção florestal está ligada principalmente às indústrias de siderurgia.
 
De acordo com a Plataforma ABC da Embrapa, em 2018, cerca de 17% dos 15 milhões de hectares com sistema produtivo integrado incluíam a árvore como componente de sistemas silvipastoril ou agrossilvipastoril.