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Rudi Arno Seitz

Consultor em Silvicultura pela Florestal Gateados

Op-CP-06

A visão do produtor independente

No ano de 2005, a produção de toras de pinus para serraria e laminação no Brasil foi estimada em 32,5 milhões de metros cúbicos. Como as grandes empresas florestais basicamente estão voltadas para a produção de toras para processamento químico ou mecânico (celulose e painéis reconstituídos), deduz-se que a maior parte deste volume de toras de grandes dimensões foi produzido por produtores independentes.

E, em sua grande maioria, estes produtores são de pequeno porte, quando comparados às grandes empresas florestais. Analisar a colheita e o transporte florestal, sob a ótica do produtor independente, exige, primeiramente, reconhecer as suas características peculiares. O fator mais importante, que afeta a produção do produtor independente, é a escala de produção.

Produtores que tenham uma colheita de 10.000 m3/mês ou mais são exceção. Associado à escala está a distribuição espacial. As áreas de corte são dispersas, com pequenos volumes de corte individualmente. Isto inviabiliza a mecanização em bases tecnológicas avançadas. Outro fator importante é o sistema silvicultural. O produtor de toras deverá trabalhar com um sistema silvicultural, baseado em desbastes seletivos, visando a produção de toras de alta qualidade.

O corte raso será realizado apenas no final da rotação, após 3, 4 ou mais desbastes. E nos desbastes, o volume de madeira extraído é pequeno, quando comparado com o corte raso, que normalmente produz 70% do volume de madeira da rotação, e, mais importante, 90 a 95% do valor da madeira. Diferente das grandes empresas, o produtor independente normalmente trabalha em terrenos mais difíceis. Tanto pela declividade, quanto pela presença de pedras ou baixa fertilidade.

Estes fatores também dificultam a aplicação de tecnologias modernas a baixo custo. Associado está a pouca qualificação da mão-de-obra rural disponível. O produtor independente não tem capacidade de realizar treinamentos, dependendo daqueles realizados pelo SENAR ou SENAI. O resultado é sua quase que total dependência de profissionais contratados por terceiros, quer seja o comprador final das toras, quer seja um intermediário, que compra e revende toras.  

A produção de toras moderna, na escala dos produtores independentes, associa elementos de baixa e alta tecnologia. O primeiro desbaste, quando são retiradas toras finas do povoamento, pode perfeitamente ser feito a baixo custo, com o corte de motos-serra e arraste animal (cavalos ou mulas). Seria um custo muito elevado realizar, hoje, esta operação, com os equipamentos de alta tecnologia.

Eles existem, porém são caros e com rendimento baixo, nas condições de primeiro desbaste (não sistemático). O segundo desbaste ainda pode seguir este mesmo modelo. Já o terceiro ou quarto desbaste exigirá equipamentos mais eficientes para o arraste das toras até o carreador. No corte final, o arraste das toras deverá ser mecanizado, com os devidos cuidados, para evitar impactos ambientais negativos sobre o solo.

Nesta operação, o rendimento das máquinas aumenta consideravelmente, e a disponibilidade de maquinário de pequeno porte e baixo custo é desejável. Um caso a parte, é o carregamento de toras nos caminhões para transporte. Impõe-se, aqui, o carregamento mecanizado, com gruas. Foi-se o tempo em que as toras eram roladas individualmente sobre a carroceria do caminhão. Mesmo as toras finas do primeiro desbaste devem ser carregadas mecanicamente.

Das duas tecnologias disponíveis, as gruas independentes ou gruas montadas no caminhão, a última é mais apropriada para a pequena escala. Infelizmente, ainda estamos no início desta tecnologia no Brasil. Mas, com o aumento do custo da mão-de-obra e da escassez desta nas atividades florestais, o futuro reserva-nos grandes avanços.

Dentro de um programa de logística do transporte florestal, a característica dos caminhões de transporte é fundamental. A indústria brasileira pode colocar no mercado caminhões para quaisquer condições de terreno, estradas e cargas. Porém, para o produtor independente, normalmente, não há uma solução única. As condições das estradas florestais variam muito, dentro da propriedade e fora dela.

E somente os grandes produtores de toras têm condições de manterem um sistema viário, razoavelmente eficiente. Sem, contudo, conseguir eliminar os gargalos. A realidade é um caminhão, já muito usado, ser utilizado, no final de sua vida útil, para a retirada das toras da floresta e para o transporte até a serraria mais próxima. Se este caminhão foi projetado para esta operação, isto não é questionado. Os resultados são quebras de ponta de eixo e do diferencial, por sobrecarga.

O custo baixo da aquisição do caminhão é anulado com um custo elevado de manutenção. O sistema viário, para o produtor independente, muito depende do poder público. As estradas que interligam as áreas de produção são públicas, devendo ser mantidas pela prefeitura ou pelo estado. Infelizmente, nem sempre os administradores públicos estão conscientes dos efeitos negativos de estradas mal conservadas. O elevado custo de transporte e os impactos ambientais negativos são a conseqüência.

Mas, mesmo para manter as estradas na propriedade, o produtor depende da boa vontade das prefeituras, disponibilizando máquinas para a manutenção das estradas, com custos compartilhados. Considerando o exposto, conclui-se que o produtor independente de toras depende tanto da alta tecnologia, quanto de trabalhos manuais. Em muitos países, existem equipamentos utilizados na colheita da madeira para a pequena escala.  

No Brasil, as grandes empresas florestais deram um impulso fantástico no desenvolvimento de tecnologias de colheita e transporte de grande escala. Urge que ao produtor independente também sejam disponibilizados estes avanços, a custos compatíveis com a dimensão de sua atividade.