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Sergio Sesiki

CEO da Cia Melhoramentos de SP - CMSP

Op-CP-31

Temos ainda onde melhorar

Em algumas décadas, não teremos mais trabalhadores rurais! Essa afirmação tem pouca ou nenhuma aderência pelos futurólogos. Bem, nem eu concordo, só a escrevo para exercer a reflexão sobre o processo massivo de êxodo rural, que vem ocorrendo neste planeta. Sob qualquer ponto de vista, as estatísticas são desafiadas ao não apontar um país sequer que, nos últimos 50 anos ou para os próximos 50, tenha aumentado ou aumentará sua população rural.

O processo de mecanização do campo trouxe uma diminuição do número de empregos rurais; a melhoria do nível de escolaridade levou o jovem aos empregos industriais, onde encontram um teto, um banheiro, um refeitório, até mesmo uma estrutura sindical mais organizada e um sem-número de benefícios oferecidos pelo empregador urbano, com qualidade superior à sua contraparte rural e, apesar de ultrapassada, uma proteção legal trabalhista mais rigorosa.

O acesso fácil e de melhor qualidade do entretenimento e da cultura, da saúde e da educação também pesam nesse processo migratório. Desprezadas as alterações constantes da definição do significado “rural”, no caso brasileiro, a população, em 1950, situava-se em 52 milhões de habitantes, com 64% do total dessa população vivendo em área rural; em contrapartida, somente 36%, em centros urbanos.

Após o contínuo processo de êxodo rural, segundo o IBGE, em 2010, estávamos com 190 milhões de habitantes, sendo 85% desse contingente humano vivendo em cidades, portanto somente 15% da população habitando no campo. Voltemos à primeira frase deste artigo!

Em qualquer tempo, com qualquer relação entre rural e urbano, a questão a ser enfrentada pela sociedade é a qualidade de vida do cidadão. O êxodo rural é um fenômeno não controlado pelas autoridades, somente mapeado. E esse tem sido o grande problema do Brasil, a falta de consistente política pública para o País rural não contribui para a retenção da população nesses rincões.

Pequenos proprietários, posseiros, parceiros, trabalhadores permanentes ou temporários, sem dizer, lamentavelmente, das famílias presas a um exaustivo, exasperante e exploratório trabalho em troca de comida – sim, é trabalho escravo! – que vivem e trabalham em condições indignas.

Algumas solitárias e recentes políticas públicas tentam trazer esse importante segmento da sociedade rural brasileira ao século XXI. E, na verdade, está se pulando um século, pois o estilo de trabalho e o pensamento reinante ainda estão enraizados no século XIX, seja oriundo de governo, de organizações sociais, de trabalhadores ou dos empresários.

E, ainda pasmo, vejo boa parcela dos agentes envolvidos desperdiçando inteligência e esforço por ainda discutir campesinato versus agronegócio, enquanto a tecnologia já alterou radicalmente esse tema, reconhecendo que, em certas regiões do País, o latifúndio do coronelismo improdutivo ainda nos remete novamente ao império.

A questão fulcral é a pobreza da população rural. As políticas assistencialistas têm oferecido uma renda para essas famílias, isso é humano, é certo, é o que se tem que fazer de imediato.

Num processo bem mais lento, as autoridades vacilam na implementação de reais ações públicas para atração de investimentos, hesitam ao levar treinamento ao trabalhador, aproximando-o do avanço tecnológico das ferramentas industriais e biológicas no campo, e são irresolutas para capacitá-lo efetivamente a auferir uma renda de trabalho que o leve a um novo estrato social. Não estou cego aos avanços da renda do campo e do trabalhador, mas é absurdamente infantil e irresponsável celebrar o assistencialismo e não avançar na real economia.

Para erradicar a miséria em tempo não secular, os dois modelos precisam andar juntos. Os dados do PNAD-IBGE de 2009 mostram mais da metade da população rural vivendo em extrema pobreza, e não adianta a estatística de governo alterar a classificação de renda em alguns reais para cima ou para baixo; eis a verdade inexorável: falta comida na mesa da família rural brasileira.

A fixação do trabalhador no campo requer aportes de recursos públicos e privados. Trazer tecnologia não diminui o trabalho, muda sua categoria. O trabalho pesado e em ambiente hostil, até inóspito em certas partes do País, gera também fuga para os centros urbanos. Portanto qualificar o trabalhador para o manuseio de técnicas e aparelhos sofisticados melhora sua condição de trabalho, além de proporcionar um incremento importante em sua renda.

O Ministério da Agricultura anunciou, em seu Plano Agrícola e Pecuário 2012-2013, disponibilização de R$ 115 bilhões de recursos para fomentar esse setor, com juros reduzidos, entre outros benefícios. Não é pouco!

A discussão é se esses recursos chegarão a quem realmente necessita e se a sua utilização se dará de forma eficiente. A história diz que não, e, com muita vigilância de todos os atores, espero ter minha boca calada no futuro.

Não nego que empregos rurais poderão desaparecer pelo uso intensivo das novas tecnologias (de novo, a primeira frase deste texto), mas estou certo de que, imediata e simultaneamente, surgirão novos postos de trabalho no setor de serviços para abrigar o consumo de uma nova e emergente classe média rural.

No campo específico da silvicultura, sofrem-se igualmente as agruras do que acontece no campo geral. Algum progresso ocorreu, é verdade, pois o setor silvicultural está parcialmente organizado, mas ainda é escancarada a falta de proteção ao trabalhador.

Se, de um lado, para adentrar em alguns mercados, são exigidos selos de certificação internacional, portanto há boa condução nos tratos de proteção ambiental e social, em outros, ainda se encontram facilmente trabalhadores fotografados, hoje em cores, em situação idêntica àqueles que visualizamos em fotos antigas da Primeira República, em preto e branco. Só a tecnologia da máquina fotográfica é diferente. Essa dualidade da silvicultura está presente no País.

O direcionamento das críticas, e não poderia ser diferente, circula os temas de monocultura, grandes propriedades, exploração do trabalhador, sem esquecer as pesquisas biológicas. O contra-argumento só melhora o processo de avanço na produtividade silvicultural, mas é inevitável trazer tecnologia também nesse importante setor.

Moderníssimos equipamentos de colheita das florestas plantadas têm ar condicionado e se operam com joysticks. Habilidades novas exigem trabalhadores mais bem educados e, consequentemente, mais renda a eles.

Não temamos tecnologias, aprendamos com elas a ser melhores. Aprofundando ainda um pouco mais no setor silvicultural, especificamente no setor de papel e celulose, o investimento nesses campos não diminuiu os empregos da população rural.

Ao contrário, o ofertou em grande escala, além de corrigir alguns históricos problemas agrários da pequena propriedade arrendada pelo agricultor local e sem condições de mantê-la. Programas privados de fomento florestal para desenvolver essas propriedades estão mudando para melhor a sua paisagem.

Há que, certamente, preocupar-se com a monocultura, mas o setor está atento a esse problema ainda característico das florestas plantadas, e seus agentes estão se movendo. Já se veem multiculturas em seu modelo e manejadas pelas famílias que vivem no envoltório da plantação de florestas, gerando renda adicional às famílias, e as políticas públicas devem se juntar a esse novo modelo e agregar ainda mais recursos para a retenção do homem no campo.

Dentro da multicultura, a integração lavoura, pecuária e floresta é um instrumento recente de política pública. O ILPF do Ministério da Agricultura tem incentivado a diversificação e a integração dessas múltiplas atividades, a fim de manter o equilíbrio da biodiversidade do meio ambiente e pulverizar “os riscos de quebras por eventos da natureza, como as pragas, os climáticos e os de mercado”. Um bom programa que espero que saia da retórica propagandística e, de fato, promova o desenvolvimento sustentável.

É o início do fim da velha cantilena de improdutividade do pequeno produtor rural versus grande produtor. Esse modelo de fomento é bom para os dois agentes no crescimento do setor e ótima fórmula para paralisar o movimento migratório para o grande centro, para as cidades, para o litoral.

Nós da Melhoramentos Florestal estamos à frente de vários movimentos para a melhoria da renda do trabalhador, além de provocar o setor público a investir na infraestrutura básica da cidade, quando não poucas vezes o fazemos diretamente. É muito para uma empresa, é pouco para a necessidade do trabalhador. Uma missão que é conjunta, privado e público, e à que todo líder deve pessoalmente se dedicar.