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Carlos Clemente Cerri

Professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP

Op-CP-28

A pegada de carbono

É premissa para o cálculo do carbono footprint ou “pegada de carbono” de qualquer produto quantificar a emissão de gases do efeito estufa de todas as fases de sua produção, uso e descarte.  No caso dos produtos do agronegócio, são três os principais gases: CO2 (gás carbônico), CH4 (metano) e N2O (óxido nitroso).

A unidade de expressão dos resultados é o equivalente em CO2 (eq CO2), que facilita a comparação das pegadas de carbono dos vários produtos. Uma unidade derivada do eq CO2 é o equivalente em carbono ou eq C, que corresponde à proporção de carbono na molécula de CO2. Daí o surgimento do termo “pegada de carbono”.

Uma das primeiras dúvidas que surgem quando é feito esse tipo de cálculo diz respeito ao valor a ser adotado para o Potencial de Aquecimento Global (PAG) de cada gás emitido para o ambiente durante as etapas de produção. Medidas cada vez mais precisas vêm modificando o valor dos PAGs ao longo dos anos, o que faz com que o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) também vá alterando os valores usados em seus cálculos de inventários das emissões de gases do efeito estufa. 

A “pegada de carbono” de um mesmo produto, calculada com base em PAGs diferentes, pode levar a resultados finais diferentes. Por isso é preciso estar bem atento aos valores que estão sendo adotados nos cálculos quando se pretende comparar estudos conduzidos por diferentes grupos de pesquisa.

A determinação do valor da pegada de carbono de um produto é o primeiro passo para as ações subsequentes. A partir dele, os técnicos podem direcionar suas ações aos principais focos de emissão de gases do efeito estufa na tentativa de reduzir as taxas associadas aos produtos do agronegócio.

Essas ações mitigadoras devem estar em conformidade com as boas práticas agrícolas, de modo a manter a produtividade. Agindo assim, o produtor contribui diretamente para a sustentabilidade do planeta, pois, de um lado, ele estará atenuando as causas do aquecimento global e, de outro, agregando valor aos seus produtos.

Os países importadores já anunciaram as suas exigências para a compra dos produtos do agronegócio brasileiro. Essa talvez seja a próxima barreira que nossas exportações terão que enfrentar, e, por isso, precisamos ser proativos e nos preparar, para não sermos pegos de surpresa, ou termos nossos produtos desvalorizados, ou, pior ainda, declarados impróprios para exportação.

Cálculos da “pegada de C” de produtos do agronegócio brasileiro, elaborados por equipes do exterior, sobretudo da Europa, começam a ser publicados em revistas de grande circulação internacional.

A maior parte desses cálculos não está correta porque se baseia em dados não condizentes com a realidade brasileira. Cálculos feitos com dados padrão (default) chegam a inviabilizar a exportação de nossos produtos, como é o caso do biodiesel da soja.

Felizmente, o Brasil possui corpo técnico e conhecimento científico análogo ao dos países desenvolvidos e, por isso, tem bases para rebater essas afirmações incorretas e, assim, viabilizar as nossas exportações.

O agronegócio brasileiro tem dado, ultimamente, o suporte econômico necessário ao desenvolvimento do País. Não podemos, portanto, permitir que novas barreiras, como a ambiental, nos sejam impostas pelos importadores, prejudicando nosso desenvolvimento.

A saída para esse iminente impasse é o contínuo apoio às instituições de pesquisa nacional, para que elas possam produzir e divulgar as informações técnicas condizentes com a nossa realidade. Dessa forma, nosso agronegócio estará mais protegido, assim como o bem-estar de  nossa sociedade.

No que tange ao ambiente, não devemos estar preocupados somente com a questão da mitigação dos gases do efeito estufa. Outros indicadores da sustentabilidade ambiental, como, por exemplo, o aumento da quantidade de carbono do solo através do processo de sequestro, o uso racional da água e, sobretudo, a preservação da biodiversidade do solo e vegetação, ao mesmo tempo em que são riscos, são também  oportunidades para  a valorização do setor empresarial.