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Fernando Raga Castellanos

Vice Presidente da CORMA – Corporación Chilena de la Madera

Op-CP-08

Inversão do Norte e plantações florestais: grandes oportunidades para o sul

Os prognósticos de crescimento da produção de polpa de mercado indicam que esta se incrementaria entre 1990 e 2009 em 71%, uns 24 milhões de toneladas/ano, segundo o Pulp and Paper Products Council de 2005. E quase 70% deste crescimento registra-se no hemisfério sul, com projetos tão importantes como os de Veracel, Votorantim e Suzano, no Brasil, as fábricas de Botnia e Ence no Uruguai, e três grandes fábricas no Chile, duas da Arauco e uma da CMPC.

Atrás deste deslocamento das inversões em polpa, está algo que cada vez se vê mais claramente como a resposta ecoeficiente e sustentável às crescentes demandas de produtos florestais do mundo: as plantações florestais. Estas apresentam um grande atrativo às empresas de celulose, porque permitem gerar os altos volumes de fornecimento que requerem, para aproveitar suas economias de escala, em superfícies de terra relativamente pequenas, com custos muito competitivos e facilmente mensuráveis, logística relativamente mais simples e impactos ambientais controlados.

Os países do hemisfério sul, especialmente os da América do Sul, mostraram ter aptidões sobressalentes para o desenvolvimento de plantações de rápido crescimento: excelentes rendimentos, baixos custos e abundante disponibilidade de terras, econômica e ambientalmente aptas. Merece comentário o que as plantações dos países do sul estão fazendo em contribuição ao equilíbrio ambiental do planeta.

Quando a população do planeta chegar a seu equilíbrio em 9 bilhões, para logo começar a descender, provavelmente consumirá 4,8 bilhões de m3/ano. Isto poderia abastecer, em sua totalidade, uma superfície de plantações que representa apenas 6,5% da superfície atual de florestas do mundo.

As plantações permitem gerar, de forma muito ecoeficiente, os altos volumes de madeira que o homem requer, evitando que estes sejam obtidos, pressionando as florestas nativas, de modo que permitam fazer coexistir altos níveis de conservação e de produção. Ao prover produtos de madeira de baixo custo, evita-se também a substituição por outros materiais, maiores consumidores de energia, mais poluentes e/ou não renováveis.

Além disso, devemos agregar o benéfico efeito que têm as plantações em crescimento, no combate ao aquecimento global, ao postergar as emissões ou capturar carbono indefinidamente (caso de novas massas florestais de plantações colhidas em rotação perpétua), a taxas muito superiores à média das florestas. Este desenvolvimento das plantações não tem sentido sem seu aproveitamento industrial.

Este último é o que permite definitivamente absorver as demandas do mundo, libertando de pressões outras florestas ambiental-mente mais valiosas e gerando produtos de baixos custos, que permitam melhorar as condições de vida dos consumidores, uma vez que geram uma contribuição socioeconômica em nossos países, melhorando também os níveis de vida de nossa gente, através do emprego e dos efeitos econômicos indiretos.

Neste sentido, a convergência das vantagens silvícolas de nossos países do sul - que não apenas são naturais, mas também envolvem muita tecnologia - com os investimentos das empresas do hemisfério norte, podem constituir uma aliança virtuosa, tanto para os investidores, quanto para nós e também para o meio ambiente do planeta.

Assim, temos a oportunidade de transformar o setor florestal em um eixo chave do desenvolvimento para nossos países, sobre bases renováveis. Mas, para que isto se concretize e aproveitemos as oportunidades, devemos, de nossa parte, cuidar de alguns aspectos muito importantes:

 

  • Ter normas ambientais adequadas, comparáveis com as dos países desenvolvidos e cuidar para que os projetos as cumpram rigorosamente, pois não queremos atrair investidores por “dumping ambiental”. Estas regras devem ser baseadas tecnicamente e claras, pois se são difusas dão espaço à geração de conflitos, que se traduzem em riscos e custos para os investidores.
  • Cultivar o “clima para empreender”: Atitude das autoridades receptivas ao investimento; regras tributárias estáveis e incentivadoras; segurança jurídica; políticas econômicas estáveis e consistentes no tempo; e cumprimento dos compromissos institucionais, aspecto chave na construção de confianças.
  • Avaliar os projetos de forma balanceada e com visão de futuro. Não esqueçamos que a definição de sustentabilidade tem três eixos: ambiental, social e econômico, e se não criamos benefício socioeconômico, não estamos sendo sustentáveis.
  • Considerar tanto o custo ambiental das decisões produtivas, quanto o custo socioeconômico das decisões ambientais. Os objetivos ambientais podem realizar-se plenamente por diversos caminhos de distinto custo, e nossa obrigação social é não empobrecer sem necessidade a sociedade, por não otimizar a relação custo/benefício das decisões.
  • Informar, com equilíbrio e objetividade, ao público, para que saiba valorizar e acolher o desenvolvimento sustentável, e não cair em visões “ideologizadas” de um ou outro extremo.

Com certeza, há visões que têm este processo de deslocamento do investimento do norte com desconfiança, apreensão ou hostilidade. Isto é respeitável e pode ser compreensível. Sempre podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio, mas para aproveitarmos as oportunidades que nos são apresentadas para que desenvolvamos sustentavelmente nossos países e combatamos a pobreza, é melhor vê-lo meio cheio e fazer bem as coisas para enchê-lo todo.