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Antonio Francisco Jurado Bellote

Pesquisador da Embrapa Florestas

Op-CP-03

Interação solo versus planta e a sustentabilidade da produção das florestas plantadas

A produtividade das florestas plantadas, assim como de qualquer outra cultura agrícola, pode ser definida como a produção de biomassa por unidade de área. Muitos fatores estão envolvidos neste processo, que é uma integração das peculiaridades bioquímicas, fisiológicas, genéticas e morfológicas dos vegetais, submetidos à influência do ambiente e das técnicas de cultivo empregadas.

Entender e controlar os possíveis padrões de crescimento e desenvolvimento do vegetal são fatores cruciais na manutenção ou mesmo no aumento da produtividade. Isto é verdadeiro em ambientes onde o solo é o principal fator limitante para a manutenção da produtividade e, intensificado, quando as disponibilidades de nutrientes minerais e de água também o são.

Ambientalmente, as florestas plantadas contribuem para reduzir a pressão sobre as naturais, concorrendo para a sua preservação, assim como dos recursos naturais nela existentes. Entretanto, a rápida taxa de crescimento das espécies florestais plantadas, no Brasil, impõe elevada demanda sobre os recursos do solo, o que tem levantado a questão da sustentabilidade desses sistemas, quando intensivamente manejados.

Para o propósito aqui apresentado, sustentabilidade de florestas de rápido crescimento é definida como a habilidade do solo em prover, indefinidamente, as mesmas quantidades de água e de nutrientes e, conseqüentemente, contínuas taxas de produção atual de biomassa da mesma espécie, crescendo no mesmo regime climático.

Esta definição assume não existir mudanças no clima e requer que o solo, nas suas propriedades intrínsecas, não altere sua habilidade de fornecer água e nutrientes às plantas. Diante destas definições e considerando que todo sistema de produção de biomassa vegetal, onde se utiliza o solo como meio de propagação das plantas, é um processo extrativista, entende-se como um sistema sustentável aquele que:

1. as técnicas de manejo não afetam negativamente os processo de fornecimento de nutrientes e água para as plantas;
2. não restrinja o desenvolvimento da área superficial de absorção das raízes;
3. possa ser melhorado, através de práticas silviculturais (isto é, adubação, manejo dos atributos do solo e aumento na eficiência da planta, em capturar água e nutrientes minerais, por via da melhoria genética ou de técnicas a ela associadas).

Em síntese, as práticas silviculturais - especialmente, as relacionadas com a entrada, a saída e a ciclagem de nutrientes, entre o ambiente e a planta - o processo e a intensidade de colheita são fatores a serem considerados para um padrão de produtividade economicamente viável, em sucessivas rotações, sem a exaustão do solo.

Sob o aspecto nutricional, é importante conhecer de que forma as plantas desenvolvem-se, acumulando biomassa e absorvendo nutrientes. Assim, é fundamental o conhecimento das necessidades nutricionais das plantas, bem como os processos de acumulação, exportação e ciclagem dos nutrientes, durante o seu ciclo de desenvolvimento.

Estes conhecimentos possibilitam estimar as necessidades reais, durante o ciclo vegetativo, as quantidades de nutrientes depositadas pela serapilheira e exportadas pela colheita e, conseqüentemente, orientar práticas silviculturais e de adubação, que mantenham a produtividade do sítio. De todas as práticas silviculturais utilizadas, a colheita florestal é a operação mais agressiva, em termos de prejuízos ao sítio, como também a principal fonte de exportação de nutrientes, podendo levar ao exaurimento do solo, após sucessivas rotações.

Por essa razão, recomenda-se que apenas o tronco das árvores seja retirado do sítio, reconhecendo-se a importância das folhas, galhos e casca para a proteção do solo e manutenção do ciclo de nutrientes no sistema. O problema da exportação de nutrientes é agravado pelas rotações curtas e exploração de árvores jovens. Esta situação pode, genericamente, remover mais nutrientes que o corte em idades mais avançadas, causando um efeito negativo para a sustentabilidade de produção.

A manutenção dos resíduos da colheita (casca, galhos, folhas e ponteiras das árvores), embora não solucione o problema de saída de nutrientes do sistema, minimizaria os efeitos da exportação dos nutrientes, que devem ser repostos através da adubação. Destes, a casca merece destaque especial, pois ela acumula altas quantidades de nutrientes e sua permanência no campo, após a colheita, é de grande importância na sustentabilidade da produção. A exportação intensiva da casca, através de rotações sucessivas, contribui, assim, para a diminuição da produtividade.

 Mesmo sendo a adubação uma prática comum em plantios de Eucalyptus, ela é insuficiente para repor os nutrientes exportados. Soma-se a isto o processo de colheita, que envolve o corte, o arraste e o baldeio mecanizado da madeira para fora da área de plantio. A utilização de máquinas pesadas nesta atividade induz a alterações nos atributos do solo, afetando, com isso, sua densidade e porosidade, com conseqüências graves à sua capacidade de retenção e disponibilização de água para as plantas.

A sustentabilidade da produtividade é, na verdade, uma forma de assegurar condições para que o sítio florestal mantenha uma produtividade ideal almejada, por ciclos sucessivos de rotação, considerando os aspectos social, econômico e ambiental. Como o plantio e o manejo das florestas de rápido crescimento causam alterações no solo, estas devem ser corrigidas por ocasião de novos plantios. Embora existam muitos resultados de pesquisas sobre este assunto, eles ainda não são suficientes para um completo entendimento e uma recomendação adequada e segura dos procedimentos, que devem ser conduzidos para garantir uma produtividade florestal sustentada, durante sucessivas rotações.