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Roberto Gava

Presidente Executivo da Apre - PR

Op-CP-10

Visão estratégica regional e florestal

De saudosa lembrança são os dois Programas de Desenvolvimento para Papel e Celulose, desencadeados pelo governo federal, a partir de 1966. Embora com foco principal voltado a esse segmento, dependente, até então, das exauridas florestas nativas, teve uma magnitude que extrapolou qualquer previsão otimista. Deflagrou uma nova matriz madeireira, impulsionadora de um empreendedorismo até o momento desconhecido.

Mesmo assim, não conseguiu impregnar nos planejadores, pós esses programas, a abrangência dos benefícios por eles gerados. É antiga a afirmação: quem esquece a história, tende a repeti-la. A maior prova é um Brasil territorialmente gigante, perdendo vergonhosamente para a pequena, mas eficiente, Finlândia (4% do território brasileiro). Assim como uma grande árvore está bem arraigada, também a cultura do cultivo florestal o está, profundamente, naquele país.

Iniciativas pífias do governo central querem apontar para soluções acanhadas, sem preocupação com um norte estratégico, propício para uma nação do porte continental do Brasil. Enquanto isso, deixamos ociosas as terras abundantes e pouco produtivas, se comparadas com a renda proporcionada pelo cultivo florestal. Frente a esse quadro de visão umbilical, algumas iniciativas regionais são corajosamente tomadas.

O Paraná busca essa correção de rumos. Inicialmente, está corrigindo uma distorção institucional, copiada da esfera federal. O cultivo florestal necessita ser transferido para a área governamental, estatuída para gerir a produção agrícola, isto é a Secretaria da Agricultura. A mesma distorção precisa ser corrigida na escala federal, uma vez que está no Ministério do Meio Ambiente a gestão da silvicultura.

O curioso é que parcela do nosso setor titubeia em reivindicar tais ajustes. O Paraná trabalha na implantação de seu Programa Floresta Madeira, para seus próximos 100 anos, PFM/100, alicerçado no princípio da produção leiteira. Quer ir além, dos 800 mil ha com florestas plantadas e representantes de meros 4% de seu território, mesmo assim a silvicultura comercial tem despontando no 2° lugar na pauta de seu agronegócio exportado.

Essa pujança, no entanto, mostra um alerta preocupante. Atualmente, nossas florestas plantadas geram 29 milhões de m³, frente ao consumo de 32 milhões anuais. Temos que pensar grande para apagar este sinal amarelo e suprir as projeções futuras. Toda propriedade, por menor que seja, pode produzir leite e floresta comercial.

Produzirão madeira para atender às suas necessidades, as do Brasil e beliscar o mercado internacional, no qual participamos, com tímidos 2,5%. A gestão do patrimônio resultante poderá recorrer ao cooperativismo florestal, proposta embutida no referido programa. Os modelos estão em diversos lugares, principalmente na pequena região francesa de Bordeaux, com um milhão de hectares plantados com pínus.

Além do mais, o Paraná é escola em cooperativismo, facilmente replicável para o setor florestal. Os diversos subprogramas do PFM/100 objetivam, também, despolarizar os pontos consumidores, de modo a induzir o surgimento de cadeias produtivas micro-regionais. Sairemos do discurso social, e entraremos com o engajamento do pequeno produtor.

Com esse companheirismo, ficará mais fácil conclamá-lo a se comprometer com as normas ambientais, doravante indispensáveis, uma vez que os tradicionais cultivadores florestais já dão exemplo de atendimento às normas legais. Caso incluamos a variável energética renovável - e não podemos desprezá-la, o Brasil deveria, urgentemente, enveredar na senda da silvicultura comercial, muito mais como colaborador para uma situação mundial catastrófica, que meramente degustador, que ainda não é de um produto florestal cultivado e rendoso.

Por esse prisma, podemos superar os EUA, que guarda combustível fóssil em depósitos subterrâneos, ao passo que nós podemos fazer o mesmo, porém na superfície, através da estocagem energética em árvores. Temos que aproveitar a nossa bagagem acumulada em pesquisas e tecnologias, alavancas que somadas às dádivas divinas naturais, credenciam-nos a sair do “deitado em berço esplêndido”, onde oficialmente cantamos

As críticas esvoaçantes contra as espécies exóticas são fruto de meros descuidos, facilmente corrigíveis por nós, cultivadores das mesmas. O pínus recebeu a seguinte definição, por parte dos plantadores paranaenses: “é um maravilhoso tigre verde, cujos filhotes devem permanecer na jaula com seus pais.” Revela a corajosa guinada em direção a uma nova postura empreendedora, sintonizada com os cuidados ambientais, que a produção deve perseguir, a fim de continuar crescendo, para gerar a madeira que nós e o mundo demandamos.

Outro mito que está caindo é o aspecto hídrico da floresta plantada com espécies exóticas. Os resultados parciais do projeto conduzido pela Universidade Federal de Santa Maria, RS, em floresta plantada no Brasil, está indicando que a água coletada em plantios de pínus é de superior qualidade, comparada com a coletada na área testemunha, com campo.

Certamente, outros mitos cairão, na medida em que externalizarmos nossa ação colaboradora na eliminação das arestas ambientais, geralmente produzidas por outros agentes, de forma que possamos proclamar nossa parceria espontânea na recomposição da biodiversidade, por ser ela de capital importância.

Plantar florestas comerciais jamais foi reflorestamento! Este vocábulo é um dos responsáveis pela pecha silenciosa que é lançada contra a nossa atividade, promotora de uma cândida, porém maldosa esperteza. A leitura é que o nosso setor foi tomador de incentivos fiscais para o reflorestamento e, em seu lugar, distorcida egoisticamente, fala-se que promoveu monoculturas com espécies alienígenas.

Nessa questão, reside boa parte da aversão inconsciente que paira na sociedade e, por decorrência, nas estruturas governamentais e judiciárias. Nós realizamos a silvicultura comercial ou o cultivo florestal. A sociedade ainda sabe pouco sobre a nossa atividade, embora seja incapaz de prescindir de seus produtos. Vamos pôr o talhão (bloco) na rua! Experiências pontuais confirmam que esta assertiva está correta. Por que os estados e o país não crescem robustamente no cultivo florestal? Os governos que respondam!