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Augusto Praxedes Neto

Gerente Sustentabilidade da Jari Celulose - Grupo Orsa

Op-CP-25

Um caminho sem volta

Ao receber o convite para escrever um artigo, o que sempre é uma grande satisfação, e ao me deparar com o tema desta edição, “Desenvolvimento ou Preservação Florestal”, me dei conta de como  uma palavrinha de duas letras pode causar um grande estrago.

A conjunção “ou”, do Latim aut ou, de outro modo, aqui aplicada como alternativa. Será que no mundo globalizado e das mudanças climáticas ainda cabe essa opção, desenvolver ou preservar?

O desenvolvimento a qualquer custo já não tem mais espaço nessa nova configuração do planeta. Na natureza, também não existe jantar de graça. Um dia a conta chega! Desenvolvimento e preservação precisam caminhar juntos. Ainda há tempo, se bem que muito curto, para rever rotas, não perder mercados, fidelizar consumidores e ser mais produtivo.

Um exemplo de correção de rota é  a “Moratória da Soja”. Iniciativa inédita que reuniu, num mesmo objetivo, a Associação Brasileira  da Indústria de Óleos Vegetais - Abiove, a Associação Brasileira de Exportadores de Cereais e suas associadas e ONGs de peso como WWF, Green Peace, Imaflora, Amigos da Terra, entre outras.

Diante da possibilidade da perda  de mercados, o setor inovou  ao garantir  a não comercialização de soja oriunda de áreas deflorestadas dentro do bioma Amazônia,  a partir de julho de 2006. Em maio deste ano, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli, confirmaram que a moratória será repactuada.

O movimento contra a soja ilegal tem a adesão de 90% da cadeia produtiva no País. O “boi verde” do Pantanal é outro exemplo em biomas  sensíveis e  vulneráveis à ação humana. A maior planície alagável do planeta, recentemente, declarada pela Unesco como “Reserva da Biosfera”, hoje exporta carne  orgânica e com selo de aprovação do WWF, algo inimaginável até então.

Com visão de futuro aliada a inovação e tecnologia, por meio da Embrapa, pecuaristas da região do Pantanal criaram, em 2001, a  Associação Brasileira de Produtores Orgânicos - ABPO. O manejo do boi, segundo recentes estudos realizados com a supervisão do WWF, contribui para a conservação de 87% da vegetação nativa do pantanal.

Amazônia econômica e ambientalmente viável – Esse é um tema que posso abordar com conhecimento de causa, especialmente nos últimos 10 anos, com o Projeto Jari sob a administração do Grupo Orsa. Hoje, somos responsáveis por um dos maiores manejos particulares certificados de floresta nativa do mundo, atualmente com 545 mil hectares no Vale do Jari, região entre os estados do Pará e Amapá.

Assim como os exemplos citados, o aval de organizações independentes e de reconhecimento internacional é fundamental para agregar valor ao negócio - nesse caso, a certificação FSC - Forest Stewardship Council. Nosso modelo de manejo foi reconhecido pela FAO\ONU como um dos casos exemplares da America Latina e Caribe.

Desenvolvimento e preservação, no entanto, não podem estar dissociados do envolvimento com a sociedade e comunidades. Entendemos que estes são agentes fundamentais, seja na construção de políticas públicas ou – aqui a conjunção alternativa cai bem – como guardiões da floresta.

Um dos exemplos dessa interação são os programas de fomento voltados para pequenos produtores agrícolas que utilizam parte de nossas propriedades para o plantio de eucalipto. Realizado em áreas degradadas, previne o êxodo rural e gera renda para os pequenos agricultores da região, permitindo sua inclusão no mercado de madeira, ao mesmo tempo em que evita a pressão sobre a floresta nativa.

O fomento de curauá, espécie típica da Amazônia utilizada pela indústria automobilística na fabricação de peças internas de seus veículos, é outro exemplo. De fácil plantio, dispensa uso de fertilizantes químicos e pode ser cultivado consorciado com outras culturas. Esse projeto gera aos seus participantes renda anual de R$ 8 mil por hectare.

A Ouro Verde Amazônia, nossa empresa de beneficiamento de produtos florestais não madeireiros, entre eles a castanha-do-pará, valoriza as comunidades tradicionais extrativistas a partir de práticas justas de comércio e de uma relação equitativa e harmônica com comunidades indígenas, agricultores familiares e seringueiros da Amazônia. Desenvolvimento com preservação ambiental é um caminho sem volta!