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Everton Pires Soliman

Consultor de Proteção Florestal da Suzano

Op-CP-46

Sistema de proteção contra as pragas florestais
Insetos são invertebrados com a maior evolução, diversificação e dispersão pelo mundo, e muito deles se alimentam de plantas. Assim, como qualquer outra planta, o eucalipto está vulnerável ao ataque de insetos, que, dependendo do seu nível populacional, atingem o status de inseto-praga. Na eucaliptocultura, as pragas podem ocorrer em qualquer fase da cultura, indo desde as sementes e a produção das mudas no viveiro até a fase adulta, e mesmo pós colheita na nova rotação. 
 
O status de praga é atingido quando os custos de controle são inferiores aos efeitos diretos do inseto na perda de produtividade ou na qualidade da floresta. Os efeitos de insetos desfolhadores, como formigas, lagartas e besouros, na perda de produtividade, são mais conhecidos e quantificados do que os insetos sugadores, como psilídeos, percevejos e afídeos. 
 
A principal praga do eucalipto são as formigas-cortadeiras, principalmente as saúvas (cabeça de vidro Atta sexdens laevigata e limão Atta sexdens rubropilosa), que causam grandes desfolhas. Num estudo com simulação de desfolha em 12 clones de Eucalyptus no Brasil (Pizzi, 2016), junto ao projeto Techs-Ipef (www.ipef.br/techs), quantificou-se que, com a desfolha total ao final do primeiro ano, as árvores têm uma redução de mais de 40% a 60% no crescimento, variando para cada clone ao longo do ano subsequente, quando comparada à testemunha sem desfolha.

Essa perda de produtividade, conclui o estudo, está ligada não só à perda de oportunidade de crescimento pela não captura de luz pós desfolha, como também ao consumo das reservas de carbono para emissão de novas folhas. 
 
Tanto insetos nativos da entomofauna brasileira como, cada vez mais, insetos exóticos são os causadores de surtos nos plantios de eucalipto por todo o Brasil. Dada sua grande área plantada, longevidade da cultura (anos a décadas), múltiplos nichos microclimáticos e suas dimensões em altura, as florestas, para seu controle de pragas, requerem a estratégia do Manejo Integrado de Pragas (MIP), pois não existe uma única forma de controle capaz de ser eficientemente aplicada na cultura.

Além disso, os parasitas e parasitoides (inimigos naturais) dessas pragas passam a ser uma opção cada vez mais relevante quando eficientemente conhecida e utilizada. As ações de Manejo Integrado de Pragas são baseadas em três fases: detecção, monitoramento e controle. No setor florestal, via Protef-Ipef (www.ipef.br/protef), as empresas florestais trabalham cooperativamente sob orientação científica de pesquisadores, buscando soluções inovadoras para cada uma das fases do MIP. 
 
Na detecção, por meio de avaliações da flutuação populacional da praga-alvo e seus inimigos naturais, é possível identificar épocas de ocorrência e sua interação com o ambiente; dessa forma, é possível prevenir para controlar-se rapidamente o foco ou surto.

Uma estratégia para a detecção de pragas exóticas (psilídeo-de-concha, percevejo bronzeado e vespa-da-galha) consiste na utilização da armadilha adesiva amarela (Figura 1). Na detecção, é essencial conhecer o inseto-praga que se deseja encontrar, por isso a capacitação de equipes de campo é fundamental e deve fazer parte do MIP. 
 
Após a detecção, é preciso monitorar, momento no qual se quantifica a incidência da praga (população do inseto) e a severidade do seu ataque (dano na planta), e, para isso, adotam-se diferentes estratégias mediante peculiaridades de cada inseto (fases do ciclo, local ataque e forma de dispersão), avaliando também o controle biológico natural. 
 
É necessário um pacote de procedimentos técnicos descritos que permitam fazer uma avaliação de campo detalhada, e, devido ao tamanho da planta, essa atividade pode ser dificultada. Atualmente, pesquisadores estão aprimorando e buscando inovações tecnológicas que permitam maior eficiência de monitoramento, como uso de armadilhas atrativas, feromônios, uso de imagem de satélite, drones e coletores digitais de informações.
 
A tomada de decisão para controle ocorre após se analisarem as informações do monitoramento e conhecendo previamente os danos potenciais que a praga pode ocasionar. Mediante incidência da praga e severidade do seu ataque, adota-se uma medida ou um conjunto de medidas, tais como o controle genético, cultural, biológico ou químico, que são as mais aplicadas à eucaliptocultura. 
 
Dentro da concepção de prevenir, é possível realizar a fenotipagem de clones contra algumas pragas, dessa forma, plantam-se materiais com resistência genética em locais onde a espécie da praga é endêmica. Tal estrat égia tem apresentado elevado sucesso para a vespa-da-galha, Leptocybe invasa, por exemplo.

A prospecção de novos inimigos naturais ou avaliação daqueles conhecidos na cultura para outros alvos é mais uma estratégia de prevenir incorporada ao Laboratório de Proteção Florestal da Suzano Papel e Celulose, onde, atualmente, está em fase de validação da eficiência de Podisus nigrispinus como predador das larvas de Gonipterus platensis.
 
O controle cultural visa, por meio de atividades culturais, promover o controle direto ou indireto da praga, como a eliminação de criadouros (vespa-da-galha, Leptocybe invasa), plantios em mosaico de idades e genótipos e plantio numa época do ano em que a planta passe pelo estádio fenológico de suscetibilidade a determinada praga numa época diferente à ocorrência da praga, conhecido como assincronia fenológica (técnica passível de ser usada para o besouro amarelo, Costalimaita ferruginea). 
 
Os plantios de eucalipto possuem diversos insetos associados, alguns maléficos (pragas) e outros extremamente benéficos, como os inimigos naturais e os micro-organismos entomopatogênicos (fungos, bactérias e vírus). Os inimigos e micro-organismos atuam naturalmente, reduzindo a população da praga por meio do controle biológico natural.

Esse controle pode ser ampliado através do controle biológico aplicado com a prospecção de novas espécies e criação de inimigos naturais com eficiência comprovada, como Psyllaephagus bliteus (parasitoide do psilídeo-de-concha, Glycaspis brimblecombeii, Figura 1), Anaphes nitens (parasitóide do gorgulho-do-eucalipto, Gonipterus platensis, Figura 2) e Podisus nigrispinus (predador da lagarta parda, Thyrinteina arnobia, Figura 3).
 
 
Geralmente, os inimigos naturais são utilizados quando a incidência e a severidade da praga ainda são baixas, pois requerem um tempo para estabelecerem e serem eficazes. O controle com micro-organimos entomopatogênicos no setor florestal é uma realidade, pois há produtos biológicos comercializados e amplamente utilizados para o controle da lagarta parda com Bacillus thuringiensis e do gorgulho-do-eucalipto utilizando Beauveria bassiana.
 
O controle químico pode ser utilizado quando a incidência e a severidade indicam o nível de pré-surto. Trata-se de uma decisão técnica que deve garantir o uso racional de inseticidas no setor. Após inúmeras ações de pesquisa das empresas florestais em parceria com empresas químicas, suporte de institutos e de universidades, existem, atualmente, inseticidas registrados para controle de diversas pragas florestais, notadamente: formigas, cupins, vespa-da-galha, psilídeo-de-concha, lagarta parda, ácaro rajado (Tetranychus urticae) e percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus – Figura 4).
 
No início do cultivo com eucalipto no Brasil, os insetos-pragas eram, majoritariamente, as formigas e os cupins. Com a expansão da área plantada, algumas espécies de insetos nativos, como a lagarta parda, passaram a se alimentar da cultura, tornando-se pragas. Ao mesmo tempo, espécies que ocorriam na Austrália, centro de origem do eucalipto, chegaram ao Brasil.

Assim, um sistema robusto de proteção necessita estar sempre ativo, e a Suzano, com sucesso, o sistema de “manejo integrado”, buscando sempre inovações tecnológicas para as três fases (detecção, monitoramento e controle) que possibilitem manter nossa produtividade, ao mesmo tempo que respeita os aspectos socioambientais.