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Ivar Wendling

Pesquisador da Embrapa Florestas

Op-CP-03

Produção de mudas de espécies florestais no Brasil

A produção de mudas florestais no Brasil presenciou inúmeros avanços tecnológicos durante as últimas décadas, sendo o Eucalyptus o maior responsável por tal mérito. O desenvolvimento da clonagem e os primeiros plantios clonais de Eucalyptus, visando a resistência às doenças, melhoria da produtividade e qualidade dos produtos obtidos, foram um marco histórico, empreendido no final da década de 70.

A partir de então, o desenvolvimento de novas técnicas de produção de mudas teve grande impulso. Na década de 80, a micropropagação foi a grande vedete dos avanços nesta área, seguidas da microestaquia e miniestaquia, na década de 90. Ambas as técnicas focam um melhor desenvolvimento da muda, tanto em viveiro, quanto no crescimento da futura árvore no campo.

Na atualidade, praticamente todas as empresas florestais de maior porte valem-se dos processos de clonagem para produção de mudas de Eucalyptus, onde cada uma possui seus próprios programas de seleção e melhoramento genético. Em relação a outras espécies florestais no Brasil, pode-se salientar o uso das técnicas de clonagem para produção de mudas de Hevea (seringueira) e Pinus e tentativas de desenvolvimento e aplicação com outras espécies.

Paralelamente ao desenvolvimento das técnicas de clonagem, uma série de tecnologias foram desenvolvidas. A passagem da produção de mudas em recipientes tradicionais (torrão paulista, sacos plásticos) para recipientes reutilizáveis, como os tubetes, resultou na produção em canteiros suspensos, com melhorias da qualidade do sistema radicular produzido, maior mecanização do processo, melhoria nas condições ergonômicas de trabalho, diminuição de doenças e menores necessidades de aplicação de produtos químicos para seu controle.

Aliado a isto, a quantidade de substrato utilizado nos recipientes tem decrescido de forma significativa, reduzindo os custos de produção das mudas. Na linha de substratos utilizados na produção das mudas, a evolução foi baseada na troca gradativa da terra de subsolo, por outros materiais, principalmente renováveis, como cascas de árvores e grãos (casca de arroz), compostos orgânicos, estercos e húmus.

Foram desenvolvidos substratos industriais, com padrões de qualidade definidos, baseados em materiais renováveis, livres de agentes patogênicos, sementes de plantas invasoras e outras características indesejáveis. A demanda crescente por mudas florestais, aliada à necessidade de melhoria do grau genético das mesmas, levou à disponibilização de sementes cada vez mais caras e em quantidades ainda insuficientes.

Neste sentido, as técnicas de peletização entraram definitivamente no setor, visto a redução de perdas no processo de semeadura, além do aumento da uniformidade e qualidade da germinação das sementes. Embora houvesse tamanhos desenvolvimentos na área de produção de mudas de espécies florestais no Brasil, a possibilidade de verificarmos grandes avanços ainda é vigente.

Podemos citar a necessidade do desenvolvimento de semeadores automáticos nacionais, visando o aumento nos rendimentos das atividades de semeadura, diminuição de falhas ou excesso de sementes por recipiente, reduzindo os custos de produção. Visualiza-se a necessidade de desenvolvimento de outros produtos e insumos, com características renováveis, como os recipientes biodegradáveis, que possam ser plantados no campo com as mudas, que além de poderem reduzir custos de produção, resultarão em maior qualidade das mudas e melhor crescimento futuro das árvores.

Substratos a base de rejeitos de indústrias (rejeitos de celulose, serragem e outros), hoje sendo testados em nível de pesquisa, poderão entrar na linha de produção de viveiros comerciais em curto prazo. Temas estratégicos na área de biotecnologia, como a produção de mudas via embriogênese somática, também têm sido foco de intensas pesquisas, necessitando-se, entretanto, de desenvolvimentos e ajustes finais para sua utilização em escala massal.

A ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, destacou, no artigo que escreveu para a Revista Opiniões sobre o Apagão florestal (edição ago-out 2005), que a necessidade de inclusão dos pequenos produtores e agricultores familiares no processo de produção florestal seria a grande transformação da silvicultura brasileira nesta década. Neste sentido, a adaptação e o uso das técnicas de clonagem por pequenos produtores e plantadores de mudas florestais precisam ser implementados o mais rápido possível.

O setor florestal produtivo também precisa investir recursos para pesquisas com espécies nativas, visando atender lacunas existentes e subsidiar projetos ambientais - recuperação de reserva legal e restauração de florestas ciliares, por exemplo, resultando na melhoria da imagem de espécies produtivas como o Eucalyptus e o Pinus.

 Com o mesmo propósito, as instituições e empresas de pesquisa com mudas deverão dar sua contribuição, aplicando os recursos nesta linha. A Embrapa Florestas, aliada a outras instituições, tem contribuído nesta direção, desenvolvendo protocolos de produção de mudas de uma série de espécies florestais nativas potenciais (erva-mate, bracatinga, leiteiro, salix, corticeira-do-banhado, etc).

Não podemos deixar de mencionar o papel fundamental das tecnologias tradicionais do processo de produção florestal, uma vez que se percebe demasiado foco sobre temas estratégicos. Como exemplo, o Pinus na região Sul do Brasil, onde, conforme pesquisas do grupo de Entomologia da Embrapa Florestas, grandes plantios estão sofrendo ataque de pragas (gorgulho e pulgão gigante do pinus), como resultado de estresse causado às plantas, pela baixa qualidade das mudas plantadas, em associação às técnicas inadequadas de plantio e de manejo dos povoamentos.