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Francisco Morato Scatolini

Consultor da T&M Consultoria Agroflorestal

Op-CP-26

Floresta adensada: alguns aspectos a considerar

O potencial de produção de biomassa pelas plantas é condicionado basicamente pelos seguintes fatores: clima (quantidade e distribuição das chuvas, temperatura e luminosidade), solo (atributos físicos e químicos) e material genético (adaptação local e capacidade produtiva), sendo que a vegetação nativa é o reflexo desse potencial em condições naturais.

Os atributos do solo, notadamente os de caráter químico, podem ser manejados através de fertilizações que garantam o suprimento adequado de nutrientes para o pleno desenvolvimento das plantas. Da mesma forma, o plantio de materiais genéticos adaptados às condições edafoclimáticas locais também concorrem para o incremento da produtividade.

Ou seja, esses dois fatores condicionadores do crescimento das plantas podem ser modificados ou ajustados de forma a elevar o potencial de produção. Já o clima, cujas características só podem sofrer alguma modificação através da utilização de técnicas de custo elevado e restrito, como irrigação e casas de vegetação, torna-se o principal fator determinante desse potencial, ou seja, é o grande gargalo ao qual devemos ajustar a densidade populacional e o layout ou espaçamento de plantio, de forma a maximizarmos a eficiência de uso da água disponível no solo.

Nesse sentido, o sucesso do plantio de florestas para produção de biomassa para fins energéticos com a utilização de toda a parte aérea das plantas (folhas, galhos, casca e lenho), e que tem como premissa a redução do ciclo de crescimento através do adensamento dos povoamentos, estará fortemente associado à magnitude do déficit hídrico local.

Diversas empresas já se depararam com uma grande mortalidade de árvores em períodos de déficit hídrico acentuado devido a uma densidade populacional acima da capacidade do sítio de disponibilizar água às plantas. Além do número de árvores/ha, um espaçamento que privilegia o adensamento na linha de plantio em detrimento de uma distribuição mais uniforme das plantas em área total vai de encontro ao uso eficaz da água disponível.

Outros aspectos importantes a serem considerados no manejo e na sustentabilidade da produção de florestas energéticas em que toda a parte aérea das plantas será retirada da área são os impactos no balanço de nutrientes e na conservação dos solos e de suas características físicas.

No que concerne ao balanço de nutrientes (adicionado - exportado), se compararmos a colheita de toda a biomassa da parte aérea com apenas a do lenho ou a do lenho e da casca, necessitariam ser repostos, em kg/ha, de forma a garantir a sustentabilidade da produção de 135 t/ha de biomassa da parte aérea:


Além dessa maior necessidade de reposição de nutrientes para cada ciclo ou rotação com a colheita de toda a biomassa da parte aérea, a redução no ciclo de crescimento através do adensamento do plantio, por exemplo, de 6 para 3 anos, mantendo-se a mesma produção de biomassa, implicará um aumento substancial na necessidade de fertilizações para que a sustentabilidade da produção seja mantida.

Com relação à remoção de nutrientes decorrentes das perdas de solo por erosão relativas à manutenção ou não dos resíduos da colheita (folhas + galhos + casca) distribuídos de maneira uniforme na área (fator C, a cobertura vegetal, da Equação Universal da Perda de Solo), estudos realizados no estado de São Paulo, embora considerem condições de solo, clima e topografia específicas, dão uma boa ideia das diferenças nas perdas de nutrientes, em kg/1000 ha, em função do tipo de colheita, considerando-se um período de 25 anos e ciclos de 7 anos:

Diversos trabalhos de pesquisa também mostram claramente o efeito da presença de resíduos da colheita sobre a superfície do solo na redução de sua compactação pelo tráfego de máquinas.

Ciclos curtos implicam mais colheitas num mesmo intervalo de tempo. Se associados à remoção de toda a biomassa, certamente elevarão os riscos de compactação e degradação de suas propriedades físicas. Não se trata aqui de dar um “banho de água fria” nas florestas energéticas de plantios adensados, mas sim de levantar questões relacionadas à sua adaptação às condições edafoclimáticas locais e aos impactos peculiares ao seu manejo, de modo a contribuir para que sejam viáveis com produções sustentáveis.