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Rodrigo Zagonel

Gerente de Silvicultura e Viveiros da Fibria-ES/BA

Op-CP-35

Colheita para áreas fomentadas

Para entender os desafios das atividades de silvicultura e colheita, precisamos voltar um pouco no tempo e entender o início dos programas de fomento no Brasil, na década de 1980. Os programas, em sua maioria, surgiram com ações de extensão rural, tanto na área privada quanto na governamental, e tinham como objetivo principal diversificar a cultura agrícola e difundir o plantio florestal em pequenas propriedades, aumentando a cobertura florestal, gerando renda e, em alguns casos, desmistificando o uso de espécies exóticas para produção de madeira.

Ao longo do tempo, os programas evoluíram e tornaram-se negócios que, hoje, movimentam milhões de reais em investimentos na formação de florestas, através de programas de Fomento e/ou Poupança Florestal.

Atualmente, o Brasil possui 6,6 milhões de hectares de florestas plantadas, um número expressivo que, quando comparado a um país de base territorial parecida com a nossa, como Estados Unidos (25,3 milhões de hectares plantados), revela uma excelente oportunidade de ampliação da indústria florestal brasileira.

Ainda na linha da comparação, o modelo de parceria e/ou fomento é extremamente consolidado no território americano hoje, são poucas as áreas de florestas que possuem como proprietários as indústrias de transformação.

Entendendo o potencial dessa modalidade, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas - Abraf, a evolução de área plantada através dos programas de fomento foi superior a 30 mil hectares/ano (espécie Eucalyptus) entre os anos de 2010 e 2012, confirmando a tendência de crescimento. 

Com base nisso, é possível compreender o desafio que existe nas atividades de silvicultura e colheita florestal, em que há necessidade de capital intensivo e mão de obra especializada para sua execução.

As atividades de silvicultura, hoje, têm enfrentado a escassez de mão de obra: à medida que o País cresce e vive um período de pleno emprego, a atividade de silvicultura não dispõe da mesma oferta de trabalhadores que obtinha no passado, forçando a uma mudança rápida nas atividades e caminhando para um processo de mecanização acelerado.

Esse processo de mudança tem sido lento nas atividades de fomento, pois alguns fatores impactam adicionalmente, como necessidade de homologação de fornecedores pelas contratantes e órgãos de certificação, dispersão de áreas, dificuldade de acessos e monitoramento da aplicação dos pacotes tecnológicos contratados entre empresas e produtores.

Nas atividades de colheita, o desafio é na mesma proporção: diferente da silvicultura, a tecnologia já existe há muito tempo e será empregada em maior escala a cada dia; os produtores de madeira e/ou prestadores de serviço irão necessitar investir cada vez mais em maquinário pesado para compensar os aumentos de custo da mão de obra, através de uma maior produtividade, elevando, assim, sua rentabilidade.

Um fato adicional é que, apesar de inúmeras linhas de crédito terem sido disponibilizadas, o acesso a elas tem sido um dificultador apresentado pelos produtores, em face do grau de exigências de documentação e garantias para liberação do crédito, que, consequentemente, geram atraso na mecanização.

As operações florestais em áreas de fomento devem ser encaradas como um mercado crescente nos próximos anos que demandará um modelo específico para atendimento, com módulos dedicados e multitarefas, em que várias atividades possam ser executadas por uma mesma equipe ou equipamento, gerando menores deslocamentos e maior produtividade.

O momento necessita de uma rápida adaptação, pois os programas de fomento têm uma vantagem adicional a qualquer outro modelo: contam com a transferência tecnológica integral e apoio técnico das empresas, e isso deverá servir como incentivo à evolução tecnológica, que, neste momento, ocorre nas atividades de silvicultura e na colheita, principalmente nas áreas declivosas.

A oportunidade que existe em fazer diferente e desenvolver novas regiões com vocação florestal é imensa e vem sendo bem explorada pelas empresas e novos fundos de investimentos, que observam no Brasil uma excelente oportunidade de negócio.

Por fim, os desafios das operações florestais em áreas de fomento não são diferentes das enfrentadas pelos grandes produtores de madeira no Brasil ou no mundo, estamos em um momento em que muitos paradigmas serão quebrados ou, no mínimo, questionados, mas a mudança vai ocorrer por uma simples questão: competitividade produtiva e financeira.  Foi isso que norteou, ao longo dos anos, a indústria florestal brasileira, e nada melhor que um novo ciclo evolutivo para nos manter na liderança do setor.