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Jussi Rasinmäki

CEO da Simosol Oy

Op-CP-38

Aprimoramento de estudos de viabilidade

Usinas de energia baseadas em biomassa apresentam uma importante oportunidade de investimento não só para as empresas que fornecem bens e serviços diretamente relacionados à construção e ao funcionamento de tais plantas, mas também para investidores, comunidades locais e organizações que gerenciam ativos de matérias-primas. Para essas últimas, as usinas de energia baseadas em biomassa podem se tornar clientes valiosos ou importantes oportunidades de investimento.

Por exemplo, se os ativos florestais estiverem em locais remotos, como é frequentemente o caso, usinas de biomassa podem fornecer soluções de energia para comunidades locais, oportunidades de investimento para empresas de serviços públicos, como água e luz, e vias de negócio complementares para as empresas do segmento florestal. Em todos esses casos, deve-se avaliar a construção e a operação de usinas de biomassa, de forma confiável e precisa, com o uso de estudos de viabilidade abrangentes.

Tais estudos são baseados em simulações que consideram, entre outras, as seguintes variáveis:

1. o estoque de biomassa disponível agora e no futuro;
2. a logística (por exemplo, as redes viárias);
3. as opções tecnológicas para a planta (por exemplo, tipo de caldeira);
4. os custos operacionais; e 
5. as avaliações financeiras, incluindo as opções de financiamento.

Além disso, e principalmente, a análise deve considerar a interação entre esses cinco aspectos, uma vez que alterações em qualquer um deles podem apresentar importantes efeitos interdependentes. A precisão e a confiabilidade desse tipo de análise podem impactar diretamente o sucesso do projeto, a minimização dos riscos operacionais, a confiabilidade das projeções financeiras e, essencialmente, a capacidade de obtenção de financiamento.

Dentre os muitos fatores levados em consideração em estudos de viabilidade para usinas de biomassa, dois são os aspectos principais: a usina em si e a cadeia de suprimentos de matéria-prima que fornecerá insumos para ela. Como a usina é, de longe, o principal custo do investimento, ela tende a ser o ponto chave dos estudos de viabilidade – e com razão.

A análise de suprimento de biomassa é, geralmente, feita através do levantamento da disponibilidade regional de diferentes matérias-primas, o seu poder calorífico e sua compatibilidade com a tecnologia de geração de energia considerada para a usina, de forma a obter uma compreensão geral da adequação dos recursos de biomassa para geração de energia. Essa compreensão geral e simplificada pode, no entanto, se tornar uma armadilha no futuro, quando o investimento já tiver sido feito.

Recentemente, no Brasil, foram realizados esforços em nível nacional para aumentar a capacidade de geração de energia com base em biomassa, e já são evidentes os primeiros sinais de problemas no fornecimento de matéria-prima para as usinas estabelecidas. Com a crescente necessidade de aumento da capacidade de geração de energia, visando evitar esse tipo de problema, os gerentes de projeto devem  empregar análises mais abrangentes e completas da cadeia de fornecimento de matéria-prima, como detalhado a seguir.

Análise Aprimorada da Cadeia de Suprimentos de Matéria-prima: Para construir um modelo de simulação para investimento e operação desse tipo de usina, o primeiro passo é mapear os recursos de matéria-prima existentes na região: quais são as fontes de biomassa disponíveis, os seus níveis de produtividade e sua localização exata.

Caso esses dados espaciais ainda não estejam disponíveis, eles podem ser mapeados usando métodos de sensoriamento remoto, como imagens de satélite ou Lidar (do inglês, Light Detection And Ranging), combinados com levantamentos de campo. É essencial compreender e mapear a infraestrutura existente, a fim de obter uma visão ampla da situação.

Um abrangente mapa regional precisa ser criado envolvendo as áreas vizinhas com o potencial de fornecer biomassa, tais como terras agrícolas e florestais e toda a rede viária existente. Para estabelecer o verdadeiro potencial de matéria-prima, é necessário considerar também os usos já existentes dessa biomassa e determinar quanto dela estaria disponível como insumo para a usina, assim como os preços de mercado para os diferentes tipos de biomassa.

Dessa maneira, para estimar a produção de energia, é preciso avaliar: os níveis de estoque de cada unidade produtora de biomassa no entorno, os níveis de colheita em cada local, os tipos de matéria-prima disponíveis para a usina, a sequência de eventos de processamento de biomassa desde a colheita até a entrega e, finalmente, o nível de estoque de matéria-prima na usina de energia. Assim, é essencial analisar a disponibilidade dos insumos e o seu custo de abastecimento à usina, que compõem a interface para a simulação da cadeia de suprimentos de matéria-prima.

A análise também deve considerar as diversas possibilidades de utilização da biomassa em questão – qual é o melhor ou o mais lucrativo uso desse tipo de matéria-prima? É possível que a usina de biomassa e outras indústrias compartilhem a demanda por um mesmo tipo de matéria-prima, por exemplo. Se assim for, há um risco potencial de escassez de oferta?

Supondo que os possíveis locais para a instalação da usina já tenham sido decididos, o próximo passo no processo é relacionar as fontes de matéria-prima à usina em si. Os custos logísticos são, geralmente, importantes  na composição dos custos operacionais dessas usinas, portanto a precisão da análise dependerá da inclusão de um detalhado modelo de transportes para o fornecimento de matéria-prima. Isso é importante não só do ponto de vista dos custos, mas também do ponto de vista operacional.

A disponibilidade de biomassa pode ser altamente sazonal, tanto do ponto de vista da colheita quanto do transporte; no entanto a planta deve ser capaz de operar continuamente durante todo o ano. O terceiro e último passo na construção do modelo de análise de fluxo de caixa é o modelo operacional da planta. Ele deve incluir fatores como o investimento inicial, a estrutura de financiamento da carteira, os outros custos de funcionamento para a usina de energia que não o de abastecimento de matéria-prima e os fatores que afetam a receita de vendas, ou seja, quanto da energia contida nos insumos pode ser convertido em um formato comercial, como eletricidade, calor e frio.

Cabe inteiramente aos tomadores de decisão escolher como o financiamento de um projeto como esse deve ser feito. Como em outros projetos semelhantes, é importante definir e controlar os parâmetros associados ao investimento inicial e os custos operacionais para a planta, bem como fornecer garantias às organizações financiadoras e outras partes relevantes ao processo decisório. Por exemplo, investidores podem estar interessados em entender quais são as quantidades, os tipos e os custos das matérias-primas disponíveis para a planta, a qualquer momento, ao longo do período de investimento.

Esse tipo de modelo de análise avançada, naturalmente, apenas será útil se puder ser efetivamente usado pelas partes interessadas no projeto. Uma maneira de facilitar essa participação é tornar o modelo acessível através de interfaces especializadas capazes de incluir os aspectos espaciais da análise e todos os parâmetros do modelo. Dessa forma, por exemplo, a análise de sensibilidade se transforma em um esforço colaborativo, com os resultados facilmente disponíveis para qualquer análise adicional.

Esse tipo de abordagem de modelagem espacial para avaliação do potencial de produção de energia a partir de biomassa vem ganhando atenção no cenário internacional, e grandes organizações patrocinam a ideia. Por exemplo, um caso piloto de demonstração foi realizado, recentemente, na Indonésia, e uma análise mapeando toda a produção nacional de energia a partir de biomassa acaba de ser lançada no Paquistão como parte do Programa de Apoio à Gestão do Setor Energético (Esmap), administrado pelo Banco Mundial.

Investimentos de grande escala, tais como o desenvolvimento de usinas de biomassa, requerem grande quantidade de preparação para garantir a viabilidade desse esforço, tanto em termos econômicos quanto operacionais. Para que o projeto seja executado sem imprevistos, é importante compreender todos os aspectos relacionados à infraestrutura local, à produção de biomassa, à competição pelos insumos, à localização da planta, às possíveis opções de financiamento e às opções tecnológicas para o projeto.

A análise baseada em modelos de simulação tem o potencial de criar um entendimento mais aprofundado dos diversos aspectos que afetam o investimento e dos riscos associados a ele, especialmente no que envolve a cadeia de fornecimento de matéria-prima. Simular o funcionamento da usina permite que se enxerguem os possíveis problemas e falhas do potencial investimento, sem vivê-los na vida real. Por fim, eu diria que o modelo de simulação explícito que descreve o fluxo de matérias-primas das fontes de biomassa conhecidas para a usina consumidora é uma ferramenta indispensável para qualquer análise de viabilidade detalhada.