Me chame no WhatsApp Agora!

Susete do Rocio Chiarello Penteado

Pesquisadora da Embrapa Floresta

Op-CP-46

Situação atual da vespa-da-madeira no Brasil
Coautor: Edson Tadeu Iede, Chefe-geral da Embrapa Floresta

Os plantios de pinus no Brasil abrangem uma área de, aproximadamente, 1.600.000 hectares. Introduzido em função de seu rápido crescimento e alta produtividade, em relação à sua área de origem, teve essa condição ameaçada em função do ataque de pragas, como a constatação da vespa-da-madeira, espécie exótica, registrada pela primeira vez no Brasil em 1988. Ela é considerada uma das principais pragas dos plantios de pinus, uma vez que provocou, em alguns casos, até 60% de mortalidade. Devido às condições favoráveis de estresse dos plantios e por ter sido a primeira praga exótica de importância para o pinus, a sua introdução significou uma mudança de paradigma na silvicultura do pinus no Brasil. A criação, em 1989, do Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira (PNCVM), instituído pelo Ministério da Agricultura e do Funcema – atual  Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais, foi o marco fundamental para o início das atividades para a implantação de um Programa de Manejo Integrado para a Vespa-da-Madeira no Brasil. 
 
O PNCVM contemplou ações de prevenção e controle da praga, incluindo: a) controle silvicultural, pela adoção de técnicas adequadas de manejo dos plantios de pinus, principalmente pela realização e atualização dos desbastes; b) mapeamento das áreas de Pinus spp. na região Sul do Brasil; c) monitoramento, para detecção precoce da praga, pela utilização de árvores-armadilha, mediante o seu estressamento pela aplicação de herbicidas; d) estabelecimento de medidas quarentenárias para evitar a dispersão da praga para áreas indenes, através de portaria que restringiu a movimentação de madeira atacada e de seus produtos; e) controle biológico, pela utilização do nematoide, Deladenus siricidicola, e uso dos parasitoides, Ibalia leucospoides, Megarhyssa nortoni e Rhyssa persuasoria, e f) estabelecimento de um intensivo programa de transferência de tecnologia, principalmente, treinamentos para o monitoramento e controle da praga, elaboração de publicações, folder e vídeos e divulgação na mídia. 
 
Uma análise dos 27 anos de desenvolvimento do PNCVM permite concluir que, no início, houve uma grande mobilização de todo o setor florestal, incluindo as grandes empresas, pequenos produtores, sindicatos e associações de produtores e órgãos públicos. Essa mobilização, associada ao trabalho de pesquisa e transferência de tecnologia desenvolvido pela Embrapa Florestas, com o apoio de outras instituições, resultou no sucesso do controle da vespa-da-madeira em nosso país.
 
Muitas empresas criaram equipes próprias ou contrataram empresas terceirizadas, que foram criadas com o objetivo de realizar as atividades de monitoramento e controle da vespa-da-madeira. Essas atividades passaram a fazer parte do calendário de atividades anual dos programas de manejo florestal das empresas florestais. 
 
A Embrapa Florestas, com o apoio do Funcema e das empresas associadas, desde então vem realizando pesquisas para otimizar o controle da praga. Um dos resultados com alto impacto foi a publicação, em 2014, de um comunicado técnico com os resultados sobre a substituição da gelatina pelo hidrogel na atividade de inoculação do nematoide nas árvores atacadas pela vespa-da-madeira. 
 
O uso do hidrogel, quando comparado à gelatina, permitiu uma redução de tempo e de custos da atividade de 66,7% e 46,5%, respectivamente, além de se considerar a questão da infraestrutura necessária para o preparo do inóculo com a gelatina, que requer o uso de batedeira elétrica, água gelada e água fervente, o que, para o uso do hidrogel, são dispensáveis.

Também, em 2016, foi publicada uma nova metodologia para o monitoramento da vespa-da-madeira. Até então, essa atividade era realizada ou pela utilização da instalação de árvores-armadilha ou pela aplicação da amostragem sequencial. No Paraná, uma legislação estadual (Resolução 115/2009 - Adapar-PR) determina que todo produtor de pinus, com áreas superiores a 5 (cinco) hectares e idade superior a sete anos, deve, com a finalidade de detectar e controlar a praga vespa-da-madeira (Sirex noctilio), adotar, alternativamente, uma das seguintes ações: 
a) instalação de árvores-armadilha, anualmente, no período compreendido entre os meses de agosto e setembro; ou
b) realização da amostragem sequencial, no período compreendido entre os meses de março a maio. 
 
Essa nova metodologia de amostragem, além de ser mais uma alternativa para as empresas e os produtores realizarem o monitoramento da praga, está sendo inclusa em uma nova versão da Resolução 115, a qual está sendo revisada e atualizada.

Além disso, essa metodologia permite, já no momento em que é feito o monitoramento, realizar a seleção das árvores para a inoculação do nematoide e até mesmo realizar a inoculação, reduzindo os custos das operações, considerando também que o número de árvores inoculadas será em torno de 25%, acima até do mínimo recomendado pela pesquisa, que é de 20%.
 
Porém o sucesso do programa de controle biológico da vespa-da-madeira está baseado na detecção precoce da presença da praga e na imediata utilização dos agentes de controle biológico, principalmente o nematoide, Deladenus siricidicola. 
 
Assim, a principal medida para evitar os danos dessa praga é a utilização do manejo florestal dos plantios. Porém isso nem sempre é possível ou o mais adequado para o produtor florestal, em função da finalidade do seu plantio. Atualmente, algumas empresas estão optando por fazer o plantio e realizar um corte raso entre 14 e 16 anos, sem desbastes.

Outras estão optando por realizar o primeiro desbaste mais tardio, entre 10 e 12 anos. Entretanto, uma vez que a vespa-da-madeira é atraída para árvores estressadas e que, geralmente, a partir do 7º ano o plantio começa a ser tornar mais susceptível ao ataque da praga, as condições citadas podem levar à ocorrência de danos da praga se não houver, conjuntamente, uma preocupação com o monitoramento e o controle do inseto nessas áreas.

Outro fator que poderia comprometer a eficiência do controle da vespa-da-madeira é a capacitação das equipes que realizam as atividades de monitoramento e controle. No passado, um grande esforço foi realizado por todas as instituições envolvidas no PNCVM para o treinamento de pessoal. Entretanto grande parte desses profissionais já não estão mais atuando na atividade, e muitos outros ingressaram sem treinamento.

Assim, hoje, há uma preocupação de todo o setor em retomar esse trabalho de capacitação, o que tem sido realizado pela Embrapa Florestas em parceria com Secretarias de Agricultura, órgãos estaduais de fiscalização, instituições de pesquisa, associações e sindicatos de produtores de pinus.
 
A vespa-da-madeira é um exemplo clássico do impacto que as pragas introduzidas podem causar. Porém, com a implantação do programa de manejo integrado de pragas adotado, foi possível criar mecanismos de resistência ambiental, e, dessa forma, a sua dispersão, no Brasil, tem sido controlada. Atualmente, o Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira é considerado modelo de parceria entre a pesquisa e empresas privadas, pois possibilita estratégias de manejo da praga, além de avançar em áreas como o manejo florestal.