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Laércio Couto

Consultor Independente em Biomassa e Bioenergia

Op-CP-26

Plantio adensado para a produção de biomassa em curta rotação

O eucalipto foi introduzido no Brasil com o objetivo de produzir biomassa para ser utilizada pelas locomotivas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro em substituição à madeira das florestas nativas. Posteriormente, tornou-se a principal matéria-prima para a produção de carvão vegetal para suprir o polo siderúrgico de Minas Gerais.

O avanço  tecnológico e científico da eucaliptocultura  permitiu que esse gênero fosse, paulatinamente, substituindo a madeira nativa nos mais diversos usos da biomassa para energia, como na secagem de grãos, na produção de cerâmicas e no uso diário como lenha nas casas no interior do Brasil. O aumento do preço dos combustíveis fosseis, aliado aos problemas por eles causados ao meio ambiente, levou a maioria dos países desenvolvidos a buscar alternativas para atenderem às suas matrizes energéticas.

Assim, as energias hidráulica, eólica, solar, geotérmica, das marés e da biomassa, se tornaram, de repente, objetos de estudos por universidades e centros de P&D em todo o mundo. Por outro lado, a necessidade de mitigar a ação dos gases causadores do efeito estufa e diminuir seus efeitos nas mudanças climáticas tem levado a maioria dos países a estudar a produção de biomassa florestal em plantios adensados e de curta rotação.

Países como os Estados Unidos, o Canadá e os membros da Comunidade Europeia necessitam de grandes quantidades de energia para aquecimento durante o inverno. A biomassa florestal, na forma de pellets, tem sido um componente extremamente importante na composição da matriz energética desses países. As modificações na legislação ambiental nesses países, tem elevado consideravelmente a demanda por pellets para substituição de carvão mineral nas suas usinas térmicas.


O Canadá e os Estados Unidos têm sido os principais fornecedores de pellets para a Europa. O Brasil tem potencial para ser um importante player nesse mercado. O principal problema enfrentado hoje pelos potenciais produtores de pellets para exportação no Brasil seria a péssima infraestrutura de logística existente no País. Nos Estados Unidos, no Canadá e em vários países da Europa, há muito tempo já vêm sendo estudados os plantios florestais para produção de biomassa para energia em curta rotação (SRWC - Short Rotation Wood Crops), principalmente com espécies do gênero Populus e Salix.

No Brasil, uma primeira tentativa de se plantar eucaliptos em espaçamentos adensados ocorreu no início da década de 70, em Minas Gerais, pelo setor de siderurgia a carvão vegetal. Naquela época, ainda não havia no Brasil a eucaliptocultura clonal como existe hoje. A variabilidade genética das mudas levava a uma competição intraespecífica extremamente acirrada nos plantios adensados, e os resultados não foram os esperados, levando as empresas a abandonarem aquela linha de pesquisa e desenvolvimento.

A introdução da eucaliptocultura clonal no Brasil, por pesquisadores da então Aracruz (hoje Fibria) proporcionou condições para que, em 2011, se implantasse com sucesso o plantio adensado de eucaliptos clonais em Itamarandiba-MG, em um projeto piloto com o apoio da Cemig, Aneel, CNPq, ArcelorMittal, UFV e Renabio. Esse trabalho deu origem a uma tese de doutorado e duas dissertações de mestrado, além de vários trabalhos científicos e o primeiro World Bioenergy Award dado pela World Bioenergy Association a um pesquisador brasileiro.

A partir do primeiro trabalho realizado com o plantio adensado de eucalitpos clonais para produção de biomassa para energia em curta rotação, várias empresas, em diferentes estados do Brasil, iniciaram plantios pilotos e novos estudos. A Ramires  Reflorestamento foi uma das primeiras empresas do setor florestal a estabelecer, no Mato Grosso do Sul e no Maranhão, uma área experimental com vários clones de eucaliptos plantados em diferentes espaçamentos iniciais adensados.

No setor sucroalcooleiro, a Usina Rio Pardo, de Avaré-SP, estabeleceu também uma área com 4 clones no espaçamento inicial de 3 m x 1,5 m, visando à produção de biomassa para suprimento da sua térmica de cogeração de eletricidade nos 5 meses do ano quando não existe bagaço de cana disponível. No estado de Goiás, a Comigo implantou também uma área experimental, visando à produção de biomassa de eucalipto em curta rotação para a secagem de grãos.

No estado do Tocantins, a GMR Florestal foi  a pioneira em um plantio experimental de eucaliptos clonais no espaçamento de 3 m x 0,5 m. Na Bahia, a ERB - Energias Renováveis do Brasil, implantou uma grande área no espaçamento de 3 m x 1 m, com o objetivo de produzir biomassa em curta rotação para a cogeração de eletricidade e produção de vapor para empresas no Polo de Camaçari.


Em Lins-SP, o Grupo Bertin estabeleceu a maior área experimental da América Latina, e talvez no mundo, plantando vários clones de eucaliptos em diferentes espaçamentos iniciais, simples e duplos, visando à produção de biomassa para cogeração de eletricidade e a fabricação de pellets. Quando se fala em escala de produção, a Suzano Energia Renovável é, sem dúvida, a empresa brasileira com a maior área de plantio de eucaliptos clonais em espaçamentos adensados, para a obtenção de biomassa em curta rotação para a produção de pellets para exportação ao mercado Europeu.

Os plantios estão sendo realizados no Nordeste, onde a empresa vai implantar, também, novas fábricas de celulose  de fibra curta. Observa-se que, inicialmente, o objetivo dos plantios adensados de eucaliptos clonais era, principalmente, a produção de biomassa para ser usada como fonte de energia na secagem de grãos e na produção de pellets, vapor e eletricidade.

No entanto, dirigentes de empresas da área de chapas de fibras e de celulose, como a Duratex e o Grupo Orsa, demonstraram interesse em conhecer também o comportamento desses novos plantios de eucaliptos clonais, bem como a qualidade da biomassa produzida.

Testes já foram realizados para a produção de pellets e chapas de MDF com a biomassa produzida a partir desses eucaliptos clonais, plantados no espaçamento de 3 m x 0,5 m e colhidos com 2 anos de idade.

Os resultados foram animadores e estimularam essas empresas a continuarem suas pesquisas e a instalarem os seus próprios experimentos. Os estudos do plantio adensado parecem já ter fornecido uma base adequada para seu estabelecimento em escala comercial.

Estudos ainda deverão ser realizados visando à redução dos custos de implantação e manutenção, bem como o conhecimento da parte nutricional de tais tipos de plantio e sua influência na qualidade, principalmente, dos pellets produzidos, que têm padrões bastante restritos no teor de cinzas e de cloro. No momento, as atenções se concentram no desenvolvimento de equipamentos de colheita na qual a árvore já seja transformada diretamente em cavacos, e, de preferência, deixando as folhas no campo, para que haja uma ciclagem natural de nutrientes, pelo menos de uma parte deles. Em outros países já existem equipamentos para a colheita de Populus e Willows, mas não para o eucalipto.

Recentemente, uma empresa de equipamentos agrícolas trouxe para o Brasil, uma colheitadeira para ser testada na colheita de eucaliptos clonais em plantio adensado e de curta rotação, visando a produção de biomassa para energia. Até o momento a máquina parece apresentar boas soluções e com as modificações necessárias poderá ser utilizada para a colheita florestal de plantios energéticos de eucaliptos em grande escala. Uma universidade brasileira e um grupo de empresas do setor florestal estão iniciando os testes com esse equipamento.

Novas pesquisas nessa área deverão cuidar da utilização da biomassa para a produção de carvão vegetal e de biocombustíveis pelo processo de pirólise da madeira e de etanol a partir da hidrólise enzimática. Por outro lado, outras espécies florestais que não necessariamente do gênero Eucalyptus estão sendo também testadas, principalmente para terras localizadas em regiões com baixo índice de precipitação pluviométrica, como, por exemplo, a Leucena.

A Renabio - Rede Nacional de Biomassa para Energia, juntamente com o Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, por meio da Sociedade de Investigações Florestais, têm sido as principais instituições envolvidas nas pesquisas para a produção de biomassa a partir do plantio adensado de eucaliptos clonais em curta rotação.

Importante mencionar também o trabalho desenvolvido pela Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, do NIPE – Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético, da Unicamp, da IEA Bioenergy, da Universidade de Toronto, da World Bioenergy Association e nas empresas que apoiaram a Renabio e que replicaram o experimento original, com as inovações e modificações necessárias para o avanço da área.