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Antonio Rioyei Higa e Luciana Duque Silva

Professores de Engenharia Florestal da UF-PR

Op-CP-14

Perspectivas do melhoramento genético de pinus e eucalipto

Mais de 90% das plantações florestais existentes atualmente no Brasil são constituídas de espécies dos gêneros Eucalyptus e Pinus. Estes dois gêneros são preferidos em função do rápido crescimento e qualidade da madeira adequada para diferentes finalidades industriais, o que significa a existência de um mercado que garante maior rentabilidade ao produtor de madeira.

A otimização da rentabilidade, no entanto, só é conseguida onde são usados sistemas de produção que combinam o plantio de mudas originadas de sementes ou clones geneticamente selecionados com a aplicação de técnicas silviculturais adequadas às diferentes condições de clima e solo das áreas de plantio.

Estes assuntos são focados pelo melhorista florestal, que baseia seu trabalho na fórmula conhecida por todos: Fenótipo (F) que pode ser produtividade ou qualidade da madeira = genótipo (G) + ambiente (A) + interação genótipo x ambiente (GA), ou seja, o melhoramento florestal visa não só o melhoramento do material genético, mas também o melhoramento do ambiente de produção e o aproveitamento da melhor combinação entre o material genético e o ambiente de produção.

No Brasil, o melhoramento florestal teve seu auge de desenvolvimento nas décadas de 1970 e 1980, para atender ao Programa de Incentivos Fiscais para Reflorestamento, que demandava sementes melhoradas geneticamente para estabelecimentos de plantações de pínus e eucaliptos e para atender à demanda de genótipos selecionados para estabelecimentos de florestas clonais de eucaliptos.

Como resultado do uso de material genético melhorado e técnicas silviculturais adequadas, as plantações de pínus duplicaram e as plantações de eucaliptos triplicaram suas produtividades. Analisando os aspectos relacionados apenas ao melhoramento genético nesses últimos 40 anos, período onde se observou a consolidação de um setor florestal baseado em plantações de espécies de rápido crescimento no Brasil, observa-se uma significativa diferença entre as estratégias adotadas pelos silvicultores em relação aos pínus e eucaliptos.

Atualmente, as plantações mais produtivas de pínus estão sendo estabelecidas em talhões mono-família, com mudas produzidas a partir de sementes colhidas de clones individuais em pomares de gerações avançadas ou sementes de polinização controlada. Mudas clonadas obtidas por embriogênese somática estão sendo testadas no campo, mas ainda não são usadas comercialmente.

Assim, no caso dos pínus, já existe disponibilidade no mercado de sementes de Pomares Clonais de Sementes - PCS, de gerações avançadas de algumas espécies. Estima-se que a área instalada de PCS de P. taeda, por exemplo, seja superior a 200 hectares, o que possibilitaria uma oferta anual superior a 6.000 kg de sementes. Esta quantidade seria suficiente para atender a um plantio de 100.000 ha/ano com a espécie, área muitas vezes maior que o observado nesses últimos anos.

O que pode significar essa superoferta de sementes de P. taeda no mercado brasileiro? Uma primeira resposta poderia ser a não necessidade em se preocupar em desenvolver novos programas de melhoramento genético para a espécie. Seria só buscar as sementes no mercado. No entanto, essa resposta seria aceitável se:

a. As sementes disponíveis no mercado fossem produzidas em pomares clonais estabelecidos com matrizes selecionadas na mesma região bioclimática da área do futuro plantio. Experiências recentes mostraram que árvores originadas de sementes de gerações avançadas de seleção, produzidas em pomares clonais em locais distintos, tiveram piores performances que plantas originadas de sementes produzidas localmente de gerações menos avançadas;
b. Os produtores de mudas tiverem acesso aos resultados dos testes de progênies estabelecidos em áreas semelhantes ou próximas às áreas dos futuros plantios;
c. Os produtores de sementes de pomares clonais disponibilizarem lotes de sementes separadas das famílias de interesse do produtor de mudas, e
d. A finalidade da madeira considerada na seleção adotada pelo produtor de sementes seja semelhante à finalidade do plantio a ser estabelecido. Por exemplo, os critérios de seleção adotados por um melhorista interessado na produção de celulose e papel podem ser diferentes dos critérios de seleção de um plantador de pínus interessado em produzir madeira para serraria.

Quando essas premissas não são atendidas, os produtores de madeira interessados em obter a máxima rentabilidade em plantações de pínus devem optar por produzir suas próprias sementes, que atendam a seus próprios objetivos e que sejam adequadas para seus locais de plantios. Em contraste, a maioria das plantações de eucaliptos das empresas florestais foi estabelecida com mudas clonadas de poucos genótipos selecionados, principalmente do híbrido urograndis, obtido pelo cruzamento de E. urophylla e E. grandis.

Assim, uma das preocupações atuais dos melhoristas florestais é gerar e selecionar novos híbridos, para diminuir os riscos potenciais causados pela pequena base genética do material plantado, que pode não ter variabilidade genética suficiente para evitar grandes perdas, causadas por eventuais doenças ou inadaptações às mudanças climáticas globais, por exemplo.

Híbridos gerados por polinização controlada, seguindo estratégias de melhoramento genético definidas por melhoristas, envolvendo E. grandis, E. urophylla, E. camaldulensis, E. dunnii, E. benthamii, E. viminalis e E. globulus estão apresentando resultados altamente positivos em relação ao crescimento, resistência à seca, resistência às geadas e qualidade da madeira. Sem dúvida nenhuma, esses novos clones serão responsáveis por uma nova etapa da eucaliptocultura.

Os comentários sobre a produção de sementes própria de pínus também se aplicam quando se analisa a necessidade de desenvolver híbridos próprios de eucaliptos. Além disso, só existe disponibilidade de alguns clones de eucaliptos, cujas mudas estão sendo comercializadas atualmente no mercado. Os novos clones deverão ser protegidos e, portanto, devem ter acesso limitado.

A nova legislação de sementes e mudas deverá dificultar a multiplicação dos novos clones, pois o produtor de mudas deverá comprovar a origem dos mesmos ou ter a autorização documentada do detentor dos direitos, se o clone for protegido pela legislação de proteção de cultivares. Deve ser salientado, ainda, que a maximização da produtividade, tanto dos plantios originados de sementes, como das florestas clonais, não é conseguida apenas com o uso de sementes melhoradas ou clones selecionados geneticamente, mas também pela melhoria de todo o sistema de produção, envolvendo, assim, uma silvicultura de precisão. Silvicultura de precisão significa a aplicação de um conjunto de técnicas silviculturais, que incluem, entre outras coisas:

a. Classificação dos talhões onde serão estabelecidos os plantios em “unidades de manejo”, com base no conhecimento do solo e microclima;
b. Plantio de talhões monofamília em cada unidade de manejo, com sementes de famílias selecionadas com base em testes de progênies, ou plantio clonais com clones selecionados em testes clonais, e
c. Preparo do solo, adubação, tratos silviculturais e idade de corte, de acordo com a qualidade de sítio e capacidade produtiva de cada clone, em cada unidade de manejo.

Apesar dos resultados já alcançados nesses últimos 20 anos, usando diferentes estratégias de melhoramento genético para as espécies destes dois gêneros e das possibilidades de se melhorar ainda mais o material genético, através do melhoramento clássico baseado na hibridação interespecífica, o setor florestal, como um todo, está buscando integrar novas tecnologias genômicas para: 

a. Desenvolver novos métodos de Seleção Assistida por Marcadores Moleculares - SAM, como o Genome Wide Selection - GWS, para caracteres adaptativos (resistência ao déficit hídrico, geadas, pragas e doenças; eficiência no uso de nutrientes e água; adaptação às mudanças climáticas globais, etc) e para características de qualidade da madeira (teor de lignina, rendimento de celulose, densidade básica, ângulo micro-fibrilar, proporção de madeira juvenil/adulta, rendimento de madeira sólida livre de nós, etc), e
b. Gerar material genético mais produtivo, com melhor qualidade da madeira e resistente a fatores bióticos e abióticos, através da transgenia.

Sem dúvida nenhuma, o Brasil está a caminho e deverá ser o principal produtor mundial de fibras originadas de plantações florestais, aproveitando as áreas degradadas já existentes, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte. No entanto, esse desafio só será vencido se houver investimentos adequados em pesquisas em melhoramento florestal, visando desenvolver material genético e técnicas silviculturais adequadas, para o estabelecimento dessas novas plantações florestais.