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Manoel de Freitas

Consultor Florestal Independente

Op-CP-19

Engenharia florestal, uma história de meio século

Contar o tempo por séculos dá um valor maior aos fatos, daí preferirmos dizer que a história da engenharia florestal no Brasil já alcançou seu primeiro meio século. Tendo completado 40 anos de formatura - formei-me em 1969, pela então Faculdade de Florestas da UFPR-, imagino-me uma testemunha dessa história, coletando registros e lições, alguns selecionados para o depoimento a seguir.

Uma espantosa evolução tecnológica nas práticas florestais. Nesses 50 anos, vimos os plantios de eucalipto saírem do uso de sementes de baixo valor genético para clones de alta produtividade e com propriedades físicas apropriadas para fins específicos. Os dados indicam um salto no crescimento florestal ao redor de 100%, passando estimativamente de um incremento médio anual (IMA) de 20m3 para 40m3 por hectare, em valores medianos.

O uso de herbicidas para controle do matocompetição e a colheita mecanizada reduziram substancialmente a necessidade de mão de obra nos projetos florestais, recurso este cada dia mais escasso no meio rural. No preparo do solo, evoluímos para o conceito de cultivo mínimo, e, no campo da nutrição florestal, aprendemos que as florestas agradecem ser devidamente alimentadas. Em resumo, um substancial aumento da produtividade florestal, que nos levou ao pódio de campeão mundial na categoria.

Tivemos como indutores inquestionáveis dos progressos constatados a formidável produção sustentada de madeira de floresta plantada, que explodiu no período de 50 anos - avalia-se, hoje, uma produção de 250 milhões de m3 por ano (Abraf 2010), comparados a estimados 12 milhões de m3 lá por 1960 -, e a valorização acentuada da madeira em pé, que saltou de uma média de US$ 3,0 por m3, por volta de 1970, para US$ 26,0 por m3, nos dias de hoje.

Com essa substancial valorização da madeira, associada ao excepcional ganho em crescimento florestal, pôde o setor fazer frente à acelerada valorização do preço de terra ocorrida no período. Aceleração devidamente entendida, uma vez que quem fez a terra não está fazendo mais! Exemplos de lições, a partir da convivência com as florestas: percebi que as leis da vida atuam de forma paralela, tanto no reino humano, como no animal e no vegetal - vale dizer florestal.

Comparemos, por exemplo, os fundamentos que regem a fisiologia, nutrição, crescimento em sociedade e verificaremos como são semelhantes os comportamentos das árvores com os indivíduos dos demais reinos, nas mais variadas situações. Clones de eucaliptos revolucionaram as produtividades florestais. Muito mais do que quaisquer outros fatores, como subsolagem, cultivo mínimo e adubação intensiva e parcelada. Porém aprendi que com clone não se brinca.

É perigoso. Adaptei a advertência a partir de uma afirmação médica, de que com dor não se brinca. Tenho presenciado inúmeros fracassos, porque o empreendedor passou a plantar clone, porque era clone, sem respeitar o teste do tempo, que daria ao material genético o tempo necessário para confirmar a sua produtividade e enfrentar estações anormais de seca, ocorrências de pragas e doenças, entre outras malezas.

Algumas lições a partir da convivência com profissionais florestais: conheço alguns profissionais que nunca se sentem totalmente preparados e continuam a frequentar, ano após ano, todo tipo de curso na área, congressos, seminários, etc., e não mudam nada do que fazem no dia a dia. Nada tenho contra esse desejo de atualização, mas chega um momento em que é hora de aplicar o que se sabe. Em resumo, muitos sabem e poucos fazem.

Alguns outros perdem a noção de que o mais importante deveria sempre vir em primeiro lugar, ou, então, pretendem fazer tudo com uma precisão desnecessária e deixam de ser eficazes. Resultado: terminam reclamando que não são promovidos. Finalmente, muito comum se esquecerem de que as florestas estão sujeitas a incêndios, pragas, secas, que derrubam a média florestal e assim superestimam seus estoques.

Não se lembraram de que, quando os números se chocam com o bom senso, devem-se abandonar os dados e recomeçar a análise! Essas lições estão entre as mais observadas, já que as presenciei vezes e vezes. São numerosos os aprendizados ao longo da carreira profissional. Não me detive em relatar fatos positivos, como perceberam, já que muito pouco se aprende com o sucesso. Final da minha história: a minha formação em engenharia florestal - e penso que poderei estar falando em nome de incontáveis colegas - trouxe-me muitas alegrias, realizações e um universo de amigos.