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Roosevelt de Paula Almado

Gerente de Pesquisa Florestal e MA da ArcelorMittal BioFlorestas

Op-CP-29

Desenvolvimento e desafios

Na última reunião do PTSM - Programa Temático de Silvicultura e Manejo, ocorrida em maio deste ano no Município de Telêmaco Borba-PR, tivemos a oportunidade de, em conjunto com profissionais de outras empresas florestais, prestadores de serviço e professores de várias universidades, discutir a questão dos desafios da mecanização nas empresas florestais, principalmente no que se refere à silvicultura básica, e notamos pontos em comum que fazem com que a mecanização das operações florestais seja um caminho sem volta.

A principal delas e talvez a mais importante seja a escassez de mão de obra especializada que ronda o setor; várias empresas destacaram que vivem, hoje, esse problema.

Há algum tempo, admitia-se que o maior benefício da mecanização nas operações florestais fosse a redução dos custos operacionais. Entretanto, com a diminuição da mão de obra disponível e o aumento dos custos sociais, a mecanização das operações tornou-se peça importante na busca pelo aumento da produtividade e pelo controle mais efetivo dos custos e das facilidades administrativas.

Conceitualmente, é importante destacar que mecanização e automação são duas coisas distintas: enquanto a mecanização trata simplesmente do uso de máquinas para realizar determinado trabalho, substituindo o esforço físico do homem, a automação consiste na realização do trabalho por meio de máquinas controladas automaticamente e que são capazes de se regularem sozinhas.

Ambas têm alguns desafios no setor florestal. Romper a resistência a mudanças: Diz um ditado italiano que   "Chi lascia la strada vecchia per una strada nuova sa lo che lascia, no sa lo que trova" (Quem abandona uma rua velha por uma rua nova sabe o que abandona, mas não sabe o que vai encontrar).

Às vezes, na empresas, notamos um certo receio de se fazer diferente com relação à mecanização, de se inovar,  principalmente na predisposição de se investir mais na silvicultura básica, que é o grande gargalo. Chegamos a brincar dizendo que, para a colheita, nós temos equipamentos que se igualam a uma Ferrari, e, para a silvicultura, temos um Fusquinha.

A resistência é um fenômeno natural, humano, que, quando bem administrado, permite que as pessoas evoluam, e que, finalmente, as mudanças se realizem.

O Brasil tem vocação florestal no seu DNA, que precisa ser cada vez mais gerida, fomentada, discutida e divulgada. Nota-se um destaque muito maior em favor da agricultura, e isso impacta bastante no processo de desenvolvimento, pois, na maioria das vezes, os equipamentos utilizados na área florestal são adaptações de equipamentos existentes na agricultura.

Hoje em dia, contamos nos dedos as empresas especializadas no desenvolvimento de equipamentos florestais, portanto precisamos estimular a criação dessas empresas, tendo um enfoque multidiscilpinar, exigindo-se profissionais de áreas distintas, como engenheiros mecânicos e projetistas, de preferência com experiência de campo.

Há uma carência generalizada de profissionais na área de mecanização, assim como instituições educacionais específicas com esse propósito, sendo imperiosa a necessidade de revisão dos conteúdos curriculares dos cursos de engenharia florestal no Brasil, tornando-o mais adequado à necessidade atual. A mecanização florestal custa, e uma das barreiras tem sido o retorno dos investimentos que, em geral, ocorrem em médio e longo prazo.

Durante o evento, conversamos sobre algumas necessidades de desenvolvimento para melhorarmos, principalmente, o desempenho da silvicultura básica: a plantadeira mecanizada, um sistema de irrigação para estabelecimento inicial de plantio, aplicadores de herbicida pré e pós-emergente, rebaixador de toco, subsolador, sensor de aplicação de adubo, sensor de profundidade de subsolagem, sensor de aplicação de herbicida e preparador de solo em área declivosa. Dentre as prioridades identificadas, ficou clara a necessidade de evolução na mecanização do preparo e do plantio em áreas com relevo acidentado.  

Necessitamos estar atentos às mudanças que estão ocorrendo dentro do setor florestal e, em especial, nos processos de mecanização, pois se observa uma mudança substancial no perfil e nas necessidades de atuação. Para isso, precisamos trabalhar de forma organizada; nas apresentações do evento, notei que há uma grande criatividade das empresas, os profissionais estão ávidos por resolverem seus problemas, mas eleger as prioridades e trabalhar de forma cooperativa fazem parte dessa busca, de forma a darmos passos mais largos.