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Nelson Barboza Leite

Conselheiro da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura

Op-CP-15

As cadeias produtivas e os reflexos no setor florestal

A crise financeira internacional abalou sensivelmente toda a cadeia produtiva da silvicultura. No caso da celulose e do papel, interrompeu-se um ciclo de duplicação da produção industrial, que vinha acontecendo, aproximadamente, a cada década. Esse crescimento foi alavancado com as florestas originadas, por ocasião dos incentivos fiscais, e teve continuidade com a formação de estoques das próprias empresas e com a implantação de novos empreendimentos.

A existência da base florestal constituiu-se, sempre, na principal condicionante para o crescimento. Essa crise, além de prejudicar esse ciclo virtuoso do setor industrial, abalou sensivelmente a silvicultura. Abalos em um momento de franca expansão da base florestal, de intensa discussão sobre sua identidade institucional, de adequações das legislações e no embalo de oportunidades inéditas, como o compromisso do Governo Federal assumido, recentemente, em Fórum Internacional, de aumentar os plantios de novas florestas, em favor das mudanças climáticas.

Das paralisações anunciadas, fica a sensação de que a silvicultura foi a parte mais atingida pelo golpe. É a parte de toda a cadeia de produção mais fácil de ser paralisada, mas sua retomada é muito complexa e demorada. A grande e desafiadora tarefa vai ser identificar as fragilidades, as oportunidades, o que precisa ser corrigido no curto prazo, o que pode afetar a estrutura do setor, enfim, escolher as estratégias que promovam a retomada do crescimento, sem que se percam os avanços alcançados nos últimos anos.

Algumas certezas merecem registro: os plantios paralisados vão implicar em falta de madeira. É uma questão de tempo para se ter um novo apagão florestal, e desta vez, sem remediações; alguns impactos negativos, principalmente os sociais, poderão macular a boa imagem da silvicultura, que vinha sendo construída nos últimos anos.

Lidar com esse contexto será um grande desafio para se evitar que as futuras e inevitáveis expansões industriais não sejam prejudicadas por falta de madeira ou por restrições impostas pelos incrédulos da silvicultura, que estarão de plantão juntando, nesses momentos, mais argumentos para dificultar a expansão de novos plantios.

Um desafio também para as inúmeras entidades representativas do setor, que lutam por políticas públicas e institucionais para fortalecimento da atividade. Talvez, o desafio exija a integração de todas as forças existentes, para repensar e definir novas estratégias de atuação. Não há nenhuma informação segura sobre as consequências da crise e dos seus desdobramentos.

Há, no entanto, informações suficientes, que permitem algumas deduções do que poderá acontecer, a médio e longo prazos, e das ações imprescindíveis, que necessitam de urgentes providências para se evitar danos maiores à atividade. Fala-se de paralisações e diminuições da produção, adiamento dos projetos de novas plantas e diminuição no ritmo dos programas de expansões industriais.

Essa situação, no entanto, a qualquer sinal de mudança na economia, pode se transformar e promover a retomada do crescimento. Esse filme é o mesmo da época do preto e branco e, se isso voltar a repetir-se, não será nenhuma surpresa. Mas, os impactos na silvicultura, na maioria dos casos, são irreversíveis. E o impacto das paralisações industriais refletiu diretamente em programas de plantios, de reformas, de colheitas, no mercado de madeira, nas empresas prestadoras de serviços, na produção de mudas e nos programas de fomento, dentre outros.
Toda a cadeia produtiva florestal foi afetada.

É difícil fazer o cálculo do impacto econômico, mas causam estranhos desconfortos as informações que dão conta do desemprego gerado e da descontinuidade de inúmeros compromissos com fornecedores, prestadores de serviços e fomentados. Compromissos de parceiros, que se transformaram em problemas jurídicos. Problemas dessa ordem precisam ser tratados de forma especial, pois podem prejudicar sobremaneira a imagem e a credibilidade do setor.

No caso dos fomentados, que nos últimos anos aderiram aos programas florestais e que representam um dos mais importantes avanços na relação de respeito das empresas com suas comunidades do entorno, não podem ser marginalizados numa situação de crise. Um percalço nessa relação pode tornar irreversível o descrédito dos pequenos produtores, com respeito às parcerias empresariais.

Poderemos estar, na verdade, criando na sociedade uma nova parcela de cidadãos, que vão duvidar do discurso de empresas tão elogiadas no setor. Serão inimigos dessas empresas e da silvicultura. Há muito tempo, discute-se a necessidade de um programa de comunicação, que pudesse mostrar os benefícios da silvicultura e apagar a sensação de uma atividade distante e desconhecida da sociedade.

Os fatos atuais, se mal resolvidos, podem afastar ainda mais a sociedade e gerar mais polêmicas. Não dá para evitar respingos no futuro, quando se liga a situação presente, com um passado, que lutamos para apagar e esquecer. Infelizmente, ainda para muitos, não deixamos de ser aquela atividade oriunda dos incentivos fiscais das décadas de 1970 e 80.

Aquela atividade elitista e formadora de desertos verdes, de acordo com a pregação dos que lutam, insistentemente, contra a expansão da silvicultura. Estamos longe desse passado, mas o discurso atual, fundamentado na sustentabilidade, ainda não conseguiu afastar, definitivamente, os fantasmas do passado. Há até quem aponte essas questões mal resolvidas, como uma das principais justificativas pela insensibilidade do Governo Federal, diante dos pleitos e das questões silviculturais.

Nenhuma medida governamental mais arrojada e motivadora tem sido implementada, além de apáticos instrumentos de políticas públicas, diante de crescentes demandas e de desafiantes compromissos internacionais. Fica a sensação de que falta credibilidade nos benefícios econômicos, sociais e ambientais da silvicultura e na interação desses benefícios com a sociedade.

A falta dessa inquestionável certeza pode estar impedindo que o Governo adote políticas públicas mais agressivas, que atendam às expectativas do setor, e possam promover, de fato, o seu necessário crescimento. Os impactos atuais e as novas adversidades, se não tratadas devidamente, poderão prejudicar, ainda mais, a construção da imagem positiva, que há anos o setor procura conquistar. Uma ampla reflexão de todo esse contexto é fundamental para que se estabeleçam estratégias que resgatem o crescimento do setor e, consequentemente, não deixem, que, lá na frente, expansões industriais sejam prejudicadas por falta de madeira e restrições aos plantios florestais.

Bem disse, em recente pronunciamento, o Dr. Leopoldo Garcia Brandão, um dos ícones da silvicultura brasileira: "a silvicultura está precisando, urgentemente, de uma boa chacoalhada".
É preciso falar do crescimento cíclico, das oportunidades, das dificuldades, da mistura e da necessidade de se separar essa brigas distintas, que necessitam de remédios diferentes.