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Eleandro José Brun

Professor de Silvicultura e iLPF da UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Op-CP-54

Adubos de liberação lenta em florestas plantadas
A busca pela superação do desafio de fornecer alimentação, moradia e condições adequadas de vida a uma população mundial crescente tem norteado as ações dos pesquisadores há séculos. São vários os temas de pesquisa que têm sido trabalhados na busca de resultados concretos, em laboratórios, nos viveiros e nas florestas. A missão de estabelecer florestas plantadas com qualidade tem motivado pesquisas, há várias décadas, no Brasil, unindo esforços de universidades, instituições de pesquisa e de empresas, com apoio de órgãos de fomento públicos e privados. 
 
Um dos principais desafios nesse sentido tem sido, sem sombra de dúvida, o de proporcionar uma correta nutrição às árvores, após o plantio, em um local onde as condições já não são tão controláveis como no viveiro ou no laboratório. Essas são as condições de campo, onde os efeitos aleatórios do ambiente podem ser benéficos ou, em muitos casos, adversos ao bom crescimento das plantas.
Nesse meio, um desafio frequente refere-se às perdas de fertilizantes ocorridas após a sua aplicação, quando o sistema radicular das plantas ainda não teria capacidade de absorção de toda a dose aplicada, antes que ocorram perdas. 
 
A eficiência de uma adubação é função da qualidade do fertilizante, do tipo de solo, da época, da forma, da localização e da uniformidade da aplicação e, ainda, pela umidade do solo, espécie e manejo aplicado à floresta. Caso esses fatores não sejam corretamente levados em conta, a resposta das plantas à adubação pode não ser a esperada, assim como as perdas de adubo podem ser ambientalmente indesejadas.
 
Entre as tecnologias mais modernas de adubação, o uso de fertilizantes de liberação lenta (FLL) pode ser uma solução. Existem três tipos básicos de FLL: grânulos solúveis em água; materiais inorgânicos lentamente solúveis; materiais orgânicos de baixa solubilidade, que se decompõem por ação biológica ou por hidrólise química. Os grânulos solúveis em água são apresentados na forma de produtos com liberação por períodos que vão de 1 a 18 meses, na maioria dos casos.
 
Pela lógica, o uso de FLL deveria apresentar como o seu principal case de sucesso as florestas plantadas, por aspectos como o crescimento relativamente mais lento das árvores em comparação às culturas agrícolas, permitindo um aproveitamento dos nutrientes liberados a taxas controladas no tempo, de forma proporcional ao crescimento radicular. Porém, em uma análise de estudos já realizados, percebe-se que ainda existe um caminho a ser trilhado, no sentido de estabelecer sistemas de fertilização florestal baseados em FLL, com economicidade, além da praticidade já apresentada. O que falta, então, para que FLL se tornem rotina na fertilização de florestas plantadas?
 
Antes de tudo, é preciso mencionar que resultados experimentais, em nível de floresta, ainda são poucos no Brasil, sendo coincidentes em algumas variáveis e diferenciados, com certa margem de desvio, em outras. Resultados encontrados para materiais genéticos de Eucalyptus em região com solo arenoso de baixa fertilidade não apresentaram diferenças de sobrevivência e de crescimento das plantas adubadas com fertilizante convencional e FLL, em aplicação parcelada ou única, até os 18 meses de idade, mostrando que os FLL se igualam em eficiência aos convencionais. 
 
Outros estudos com eucalipto, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, têm mostrado que os FLL têm sido tecnicamente similares aos convencionais, variando em função do clima local (umidade e temperatura do solo são os principais agentes de degradação dos grânulos e consequente liberação dos nutrientes).
 
Em estudo comparativo quanto à eficiência de fontes de fósforo de liberação lenta e imediata (fosfato natural e superfosfato) realizado com solo argiloso na UTFPR, em Dois Vizinhos, o crescimento do Pinus elliottii se mostrou sem diferenças na fase inicial, mas, com o avanço da idade, os tratamentos com aplicação de FLL se mostraram mais eficientes, pela capacidade de fornecimento de nutrientes a longo prazo, em comparação aos solúveis.
 
Tanto em nível experimental quanto de relatos de silvicultores, no Paraná, não houve percepção de diferenças significativas de crescimento da erva-mate em função da aplicação de FLL, com crescimento similar aos tratamentos adubados com fertilizantes convencionais.
 
Apesar de haver relatos, com base experimental, em áreas agrícolas, de aumento de eficiência (maior produção das culturas, tais como soja, milho, algodão, entre outras), aliado à redução de custos com adubação, esses fatores ainda não são tão claros em se tratando de florestas plantadas. Em viveiros florestais, há estudos mostrando a eficiência dos FLL em diversas espécies, tanto exóticas quanto nativas, em que a liberação dos nutrientes às raízes, em uma escala de alguns meses, tem sido algo de grande importância para a nutrição adequada e o bom crescimento da muda durante o período de viveiragem, diminuindo a necessidade de um grande número de aplicações em cobertura.
 
Nos trabalhos de pesquisa existentes, com dados de campo, a principal resposta buscada, o crescimento, tem se mostrado compatível entre os fertilizantes convencionais e de liberação lenta. Variações são relatadas nos teores foliares, principalmente quando se trata de K, nutriente de comportamento fisiológico variável já conhecido. Mesmo assim, muitos pesquisadores afimam que, a não ser em situações mais extremas, pequenas variações de teores nutricionais foliares, desde que não impliquem perdas de crescimento, são aceitáveis sob um ponto de vista de eficiência. 
 
Também devem ser analisados, uma vez que o principal foco de muitas pesquisas tem sido a diminuição das perdas de nutrientes após a aplicação do adubo no solo, os diferentes comportamentos que cada nutriente apresenta, conforme as condições do solo em que ele é aplicado. Atenção deve ser dada a solos arenosos, onde a probabilidade de perdas por lixiviação é maior, mesmo com a aplicação de adubos encapsulados (visando à liberação lenta), mesmo esse aspecto ainda carecendo de estudos mais abrangentes. 
 
Quanto se trata de P, um dos nutrientes mais limitantes ao crescimento de florestas plantadas no Brasil, mesmo com aplicações crescentes do nutriente, após o solo atingir um equilíbrio entre adsorção e disponibilização, não se tem incrementos constantes de disponibilidade. Esse fato reforça a importância de que, teoricamente, FLL teriam um papel importante nessas situações, pela liberação gradual do P às raízes, não necessitando, nesses casos, da aplicação de doses elevadas e, consequentemente, antieconômicas, de fertilizantes. Porém são situações que necessitam, ainda, de maiores estudos.
 
Considerando a similaridade de eficiência entre os fertilizantes convencionais e de liberação lenta, na maioria dos estudos já publicados ou com base na experiência operacional em muitas empresas e propriedades rurais, uma das principais vantagens do uso de FLL seria, sem sombra de dúvida, o menor número de aplicações e a consequente menor necessidade de mão de obra, algo de extrema escassez no meio rural, nos últimos anos.
 
Porém, mesmo com essa redução na mão de obra, há que se considerar que os preços mais elevados praticados nos últimos anos para os FLL têm feito com que muitas empresas e silvicultores tenham dúvidas sobre a viabilidade econômica em se optar por fertilizantes solúveis (convencionais) ou de liberação lenta. Em um levantamento realizado junto a empresas na região sudoeste do Paraná e seus fornecedores, os preços de FLL foram, pelo menos, 80% (variando até 270%) mais caros do que os convencionais. Tal fator tem feito com que, ao menos onde ainda é possível ter acesso à mão de obra, silvicultores estejam optando por manter o uso de fertilizantes solúveis convencionais ou até, em alguns casos, esteja ocorrendo um retorno ao uso de fertilizantes convencionais. 
 
Empresas florestais consultadas sobre o assunto, assim como consultores autônomos e cientistas, demonstram ainda muita cautela em recomendar o uso de FLL, uma vez que os poucos experimentos já realizados têm apresentado dados de crescimento inicial. A partir do momento em que tivermos resultados conclusivos para uma rotação completa, ao menos, repetidos em diferentes locais do Brasil, teremos mais segurança em qualquer ação nesse sentido. Enquanto isso, também, novas tecnologias deverão surgir, a ponto de tornar os custos dos FLL mais acessíveis aos silvicultores brasileiros.
 
Concluindo, após análise de casos de uso de FLL em florestas plantadas, entende-se que ainda é gritante a necessidade não somente de continuidade, mas de intensificação das pesquisas, não apenas para a obtenção de produtos mais acessíveis economicamente como também para o aprimoramento de doses, técnicas e número de aplicações, numa gama mais variada de espécies, tanto exóticas quanto nativas, assim como resultados para diferentes regiões bioclimáticas do País. Sem isso, qualquer recomendação de uso para florestas plantadas ainda apresenta alguma margem de insegurança.