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Xico Graziano

Especialista em Meio Ambiente

Op-CP-22

Solução inteligente

Noutro dia, promovendo meu Almanaque do Campo, livro que lancei recentemente, destaquei o fato de o Brasil ainda manter preservados 517 milhões de hectares de florestas nativas, representando 60,7% do território nacional. Alguns estudantes presentes na palestra que eu ministrava duvidaram do número. Tive que provar.

Os ambientalistas, muitas vezes, apreciam raciocinar com o apoio negativo dos desastres ecológicos e se surpreendem quando enfrentam alguma informação positiva sobre o meio ambiente. Por isso fui ao ataque: nosso país não apenas mantém grande parcela da vegetação original, como está formando novas florestas.

Aí sim aumentou a incredulidade da minha jovem assistência. “Como assim?!” “Fácil”, retruquei. Existem quase 7 milhões de hectares plantados com florestas. Em comparação, todos os cafezais brasileiros somam 2,3 milhões de hectares. Quer dizer, crescem bilhões de árvores por aí afora.

A luta pela informação continuou. “Mas não são espécies exóticas”, me questionaram. “Sim”, respondi. O pinus e o eucalipto são tão estrangeiros quanto o arroz com feijão nosso de cada dia, a laranja e o café do lanche, a alface e o tomate da salada... Nenhuma dessas plantas comestíveis tem origem tupiniquim, embora ninguém as cultive com preconceito.

Utilizo essa pequena história para me amparar no combate ao catastrofismo ecológico e seus raciocínios preconceituosos. A polêmica discussão sobre o Código Florestal atesta a capacidade de confusão que reina sobre a agenda verde em nosso país.

Falsos argumentos, quase sempre, baseiam a radicalização do embate entre ambientalismo e ruralismo, recheado de “achismos” que machucam o bom senso. É perfeitamente possível produzir no campo sem degradar a natureza, embora seja necessário encontrar, através da tecnologia e da cultura humana, os limites dessa disputa pelo uso dos recursos naturais disponíveis.

Certas sociedades do passado entraram em declínio, ou mesmo soçobraram, devido ao desmatamento desenfreado, conforme mostra Jared Diamond em Colapso, seu magnífico livro. Soa ridículo exigir que a agropecuária brasileira retroceda, abandonando áreas ocupadas historicamente pelas culturas e criações que permitiram desenvolver a civilização.

Por outro lado, seria o cúmulo da imbecilidade imaginar que a expansão agrícola devesse seguir o rumo do passado perdulário, degradando a natureza. A necessária adequação do Código Florestal não vai afetar nem a fome no mundo nem o aquecimento global. Esses argumentos extremistas embasam bons discursos, mas nada constroem.

Reconhecer e valorizar a agricultura consolidada do País, exigindo boas práticas de produção, não impede avançar na proteção da biodiversidade. Nesse contexto, existe, com certeza, muito espaço para a silvicultura brasileira avançar, ocupando novas e importantes áreas do território, gerando empregos, renda e divisas.

Tal expansão, que julgo inevitável, não poderá ocorrer sob a encrenca dos dualismos estéreis, como aquele que demoniza as espécies exóticas versus o que sublima os plantios florestais. Quem vislumbra o futuro com boa ventura deve apostar no profissionalismo.

A oportunidade política de mais bem encaminhar a agenda florestal se abre com a posse dos novos mandatários, na União e nos estados. Todos estão organizando seus novos planos de trabalho. Chegou a hora de fugir dos chavões – ruralistas ou ambientalistas – e partir para as soluções, acompanhadas de políticas públicas eficazes. Falar em apagão florestal também já cansou a turma.

Ao finalizar, chamo a atenção para um ponto fundamental na agenda da nossa silvicultura: a necessidade de se investir mais na comunicação com a opinião pública. Não adianta reclamar que os incautos adversários da silvicultura só dizem abobrinhas e causam futricas. Torna-se necessário mostrar à sociedade as vantagens das florestas plantadas e convencê-la disso.

E fazê-las, efetivamente, se tornarem realidade, embasando o marketing do setor. Tudo com total transparência. O Brasil não pode temer a agenda ambiental. Pelo contrário, deve tomá-la como um desafio e uma grande oportunidade de liderar a economia verde mundial. Nesse caminho, contará com a força da sua silvicultura. Uma solução inteligente, com certeza.