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Carlos Minc Baumfeld

Ministro do Meio Ambiente

Op-CP-17

Sem planeta, não haverá economia

Vivemos um drama sem precedentes na história da humanidade. A deterioração dos recursos naturais é de tal ordem, que sua capacidade de reposição se esgotou. Pelos dados da Global Footprint Network, a biocapacidade da Terra, ou seja, a capacidade de os seus ecossistemas de produzirem recursos e absorverem resíduos era de 54% em 1961.

Em 2005, portanto, antes da crise econômica global, já havia ultrapassado em 30% a biocapacidade máxima do planeta. Em outras palavras, a humanidade está consumindo o que a natureza torna disponível numa velocidade e num patamar superiores à capacidade que tem de repor. Construímos um modelo econômico que privilegia o consumo desenfreado em detrimento do próprio planeta.

Tal realidade agora é agravada pelos efeitos do aquecimento global. Se não estabilizarmos em breve as emissões de gases do efeito estufa, revertendo a curva de crescimento, o colapso ambiental do planeta será só uma questão de tempo. As economias de algumas regiões mais críticas já sofrem os impactos do aquecimento.

Se os países não adotarem medidas consistentes na convenção do clima, em dezembro, em Copenhague, pode não haver futuro para a economia nos próximos 50 anos. A crise atual pode trazer lições importantes sobre o que e onde investir para salvar o planeta. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC, na sigla em inglês, prevê que, se houver um aumento maior de 2% na temperatura global até 2100, deverá haver caos na produção de alimentos e impactos extremamente negativos em várias atividades produtivas ao redor do mundo.

No Nordeste brasileiro, pelo menos 30% de suas atividades econômicas serão fortemente afetadas. Não há mais tempo a perder. Sem uma redução sistemática e significativa nos níveis de emissão de CO2, o mundo terá que enfrentar uma crise econômica capaz de fazer com que a atual, que já mostra sinais claros de recuperação, pareça um pequeno susto.

Quando olhamos para o quadro de hoje, com queda na produção agrícola, no setor industrial e nos investimentos globais, imaginamos um quadro para daqui a menos de 40 anos, quando não será mais suficiente ter vontade política e recursos dos contribuintes dos países desenvolvidos para encontrar soluções.

Precisamos aprender com a crise atual. Se, por um lado, ela representou prejuízos econômicos para grande parte dos países, com investimentos de mais de US$ 1 trilhão para salvar bancos e empresas falidas, por outro, pode nos trazer ensinamentos preciosos. Esse é, eu diria, o lado positivo dessa crise.
Quando estive na África, em fevereiro passado, em reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - Pnuma, autoridades e especialistas de vários países buscavam formular as bases para uma nova economia, uma economia de baixo carbono.

Baseada em padrões de sustentabilidade, a economia verde foi saldada como um modelo voltado para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas e também para a recuperação econômica mundial em novas bases, em bases sustentáveis.
O Diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, um dos maiores especialistas na economia verde, defende a necessidade de novos investimentos para o renascimento econômico com sustentabilidade.

Quando esteve em meu gabinete, em Brasília, há pouco tempo, apresentou-me números otimistas de crescimento da green economy. Vem aumentando o número de empresas e governos que investem em atividades que, de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuem para a preservação e a conservação do meio ambiente, com a redução efetiva das emissões de gases-estufa.

Um estudo do Pnuma mostra que, em 2008, foram investidos US$ 155 bilhões em produção de energia limpa, superando em 5% o montante investido no ano anterior. O destaque foi para a energia solar, com investimentos de US$ 33,5 bilhões, com um crescimento de 49%.
Ainda é pouco, em termos das necessidades ambientais planetárias.

Mas, pelo menos, esses sinais apontam caminhos claros para a humanidade dar a volta por cima. São um alento, trazendo esperanças de um futuro melhor para nossos filhos e netos. Em Kyoto, o impasse entre meio ambiente e crescimento econômico resultou em metas de emissões tímidas.

Agora, do sucesso da Conferência do Clima de Copenhague, no final do ano, poderá sair um balizador importante, que revelará a real disposição dos países desenvolvidos e os em desenvolvimento para salvar o planeta. Precisamos ter em conta que não se trata de tentar proteger de crises as economias deste ou daquele país. A questão não é que economia desejamos, porque, sem planeta, não haverá economia nenhuma.