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William Domingues de Souza

Editor Chefe

Op-CP-02

A reforma moral

Acredito que o ex-deputado Roberto Jefferson não tinha idéia da quantidade de pólvora que havia na sala quando entrou com aquela vela acessa. Ele não era nenhum amador, nem no assunto, nem no meio. Mas expôs, um grande câncer, com muito pus, que fedia demais e envolvia muito mais gente do que se poderia imaginar.

Mas, nada melhor para a cura de uma ferida do que arrancar sua casca, raspar o pus, e, se o caso exigir, amputar o membro doente. Não quero transformá-lo em herói, mas, pensando sob esta ótica, talvez possamos afirmar que, não houve, nos últimos tempos, homem de comportamento mais benéfico para a nação do que o deputado Jefferson. Agora sabemos que estamos nus. É sempre melhor saber toda a verdade.

Verdade. Nestes dias tenho pensado muito no que, afinal das contas, representa a verdade. Que importância tem para as pessoas serem dignos de confiança? Até que ponto elas devem ser incomodadas pelo fato de serem ou não confiáveis? Até quanto devemos ser previsíveis diante de fatos e situações? Estamos falando de valores, de caráter e de princípios.

Na política, nos negócios, na empresa, na família, não existe nada mais confortável do que lidar com pessoas nas quais confiamos. Aqui a verdade pode ser chamada de lealdade ou fidelidade. E, para ser enfático, pensemos: Não há espaços para se ser apenas 99% confiável. Não há espaços para o quase sempre, quase tudo...

Afinal, você aceitaria que sua mulher ou marido fosse fiel a você apenas 364 dias por ano? Isto seria ser fiel exatamente 99,73% do tempo. Quase tudo. Isto te bastaria? Se uma coisa não é totalmente verdadeira, é mentira. Certo dia ouvi que quem gosta de lingüiça e segue as leis, não deveria ver como elas são feitas. Isto por enquanto é verdade em nossa nação. Qual é a conveniência de hoje? Ser contra ou a favor?

Poucos anos atrás, um político discursava na Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, usando um vocabulário de baixíssimo nível para descrever a conduta do Governador. Naquele momento, entravam juntos no plenário o Líder do Governo e o Líder do Partido ao qual pertencia o deputado orador. Vinham de uma reunião na qual se estabelecera um acordo para o apoio da legenda ao Governador. Mais do que depressa, o Líder do Partido fez saber ao orador a nova condição que o acordo estabelecera.

E imediatamente o deputado orador complementou: “É exatamente isto o que a oposição fala deste homem sério, digno e íntegro, como o nosso Governador”. Qual é a verdade deste homem? Quais são os valores de regem sua vida? Ou, quanto ele vale? O pior de tudo é saber que os protagonistas desta história ainda vivem. Ainda são políticos.

Nós precisamos urgentemente de uma reforma política. De uma reforma tributária, judiciária e administrativa. Mas, mais do que tudo isto, precisamos de uma verdadeira Reforma Moral. Ela sim teria o poder de lastrear todas as demais reformas. É desanimador saber que não houve tempo em nossa história que tenha sido diferente. O que podemos fazer para acabar com esta vergonha?

Nem com militares, nem com civis, nem com políticos da direita ou da esquerda. Do jeito que estamos fazendo, não está dando certo. Qual seria a saída? É aí que entra você. Gostaríamos que todos os nossos políticos fossem transparentes, fiéis e leais. Mais do que isto, desejaríamos que todos a nossa volta fossem verdadeiros, independentemente de tudo, de todos e sob quaisquer circunstâncias. Todos inclui você.

Se você, como eu, estiver convencidos de que a verdade é o princípio de tudo, porque não começamos este movimento nacional? Declare que você, independentemente de tudo e de todos, a partir de hoje, falará e expressará apenas a verdade. Que jamais seus ouvidos voltarão a ouvir uma mentira contada pela sua boca.

Isto implicará em algumas mudanças de hábitos, de costumes e às vezes, até de trajeto. Comece pela sua secretária. Peça a ela que jamais volte a dizer que você não está. Quando não desejar ou não puder atender, mande dizer que você está, mas que no momento não pode atender, e que, tão logo tenha condições, retornará.

E retorne mesmo. Aos poucos, todos perceberão que você é um daqueles que só diz a verdade. Este rótulo será positivo. Estenda este comportamento para todas as outras coisas da vida. Isto envolve também as relações com o seu filho, sua esposa ou marido, seu empregado ou subordinado, seu patrão ou superior, seu fornecedor ou cliente... Isto envolvem todos.

Negue-se a participar ou ser conivente com qualquer jeitinho, suborno, corrupção, sonegação, falsidade ou mentira. Isto terá um certo custo, mas certamente terá também um prêmio. Tenha certeza disto. Você não será mais um beneficiário temporal de qualquer benesse. Mude nossa nação. Mude você. Talvez este seja o único jeito. Plante esta semente.