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Luís Fernando Silva

Gerente Sênior de Produção de Fibras da International Paper

Op-CP-51

A qualidade como caminho
Em tempos de incertezas climáticas, novos desafios surgem para que o setor florestal continue abastecendo o parque industrial brasileiro com fibras de alta qualidade. Esses desafios têm se apresentado tanto na expansão de área plantada como na produtividade das nossas florestas, e, entre outros pontos críticos, como diversidade da base genética, manejo nutricional, manejo de ervas daninhas, monitoramento e manejo de pragas e doenças.

Nesse contexto, gostaria de destacar a gestão da qualidade operacional como um ponto relativamente simples e crucial para garantir a demanda por fibra de alta qualidade e manter a competitividade do nosso setor. O principal ponto é como garantir que todo esforço realizado pela área de pesquisa no desenvolvimento de todo o pacote tecnológico não seja comprometido no momento da execução. Nossa experiência tem mostrado que fazer bem feito da primeira vez é o melhor caminho, com reflexos diretos tanto em custos como na uniformidade da floresta, e, consequentemente, na maior produtividade por unidade de área cultivada.
 
A necessidade da qualidade em sistemas de produção surgiu no período das produções em massa, em meados do século XX, e vem ganhando cada vez mais espaço nas empresas, sendo que, atualmente, o conceito evoluiu para a visão de Satisfação do Cliente. Temos novas ferramentas a serviço do manejo florestal que permitem o acompanhamento de todo o ciclo da floresta. 
 
O avanço das tecnologias de monitoramento por meio de VANT (veículo aéreo não tripulado) tem possibilitado o monitoramento da qualidade, de forma processual, para gerenciar indicadores de qualidade das operações florestais. Além disso, temos utilizado novos indicadores, como o PC50 e o PV50 como medidas de homogeneidade da floresta. O PV50 é um índice que vem se popularizando na área florestal e tem como objetivo capturar a uniformidade de um povoamento, uma vez que esse indicador reflete diretamente na produtividade florestal. Ele consiste na soma do volume de 50% das menores árvores de uma parcela em determinada idade. 
 
Desse modo, o seu valor máximo é igual a 50%, sendo que valores acima de 36% representam uma floresta com homogeneidade adequada (detalhes consultar Hakamada et al., 2015). O PC50 apresenta o mesmo conceito, no entanto, ao invés de utilizar volume individual, é utilizada a área de copa em florestas com 6 meses de idade.
 
Como resultado prático dessa abordagem, vamos iniciar com os avanços na produção de mudas no viveiro. Com critérios cada vez mais rígidos aplicados ao processo de produção de mudas, conseguimos avançar no padrão de qualidade do produto expedido para o plantio. Com isso, temos mudas mais resistentes para enfrentar todo tipo de adversidade no início do seu desenvolvimento no campo.

O ponto de partida para alcançar esse resultado é olhar o viveiro como etapa chave para garantir que toda tecnologia desenvolvida a montante chegue ao campo e potencialize a produtividade. Para tanto, é necessário deixar de ver a muda somente pelo lado do custo e passar a ver como um investimento certo, cujos resultados aparecem no campo com ganhos na sobrevivência, garantindo valores acima de 98% aos 45 dias pós-plantio (veja infográfico), minimizando o replantio e aumentando significativamente a uniformidade do plantio florestal.
 
Paralelamente, aplicam-se os mesmos padrões de qualidade nas operações iniciais da preparação da área para receber as mudas produzidas com alto nível de qualidade. No campo, esse processo inicia-se com o microplanejamento, que busca a convergência das áreas de pesquisa, silvicultura, geoprocessamento, estradas, segurança e meio ambiente, de forma antecipada, para que toda operação esteja preparada antes de iniciar qualquer tarefa na área. A partir daí, segue o controle de qualidade das operações chave, como profundidade da subsolagem, largura da faixa de preparo, localização dos fertilizantes, manejo da matocompetição com herbicidas pré e pós-emergentes. 
 
O uso de sensores com mapeamento por GPS garante tanto dosagem quanto localização da aplicação dos insumos, para evitar as queimas no caso dos herbicidas e maximizar a utilização dos fertilizantes aplicados. O resultado da intensificação dos controles nessa etapa, associado a mudas de boa qualidade, proporcionou uma melhora de 14% no PC50, que mede a homogeneidade das copas das plantas aos 6 meses de idade, e uma melhora de 13% no PV50, que mede a homogeneidade do volume individual das árvores aos 24 meses de idade (veja infográfico), o que representa um enorme potencial de produtividade no final do ciclo.
 
Uma vez garantido que tudo foi feito da forma certa, do jeito certo e na hora certa, na fase inicial da floresta até os primeiros 12 meses de idade, inicia-se o acompanhamento dos indicadores de qualidade da floresta ao longo de todo o ciclo até a colheita florestal. Esse acompanhamento é extremamente importante para antecipação e reação imediata a qualquer intercorrência climática ou de manejo que provoque algum distúrbio na floresta. Medidas localizadas no manejo da mato-competição e/ou no manejo nutricional entre 2 e 4 anos de idade da floresta têm surtido efeitos para garantir as produtividades esperadas (veja infográfico). 
 
A evolução de ferramentas de monitoramento da floresta por meio de imagens de satélite ou sensores de radar associado à aplicação de modelos ecofisiológicos tem suportado o entendimento e o discernimento entre os impactos climáticos e de manejo da floresta, facilitando, assim, a identificação do potencial de resposta e o direcionamento das ações corretivas por meio de um plano de recuperação da produtividade em florestas de 2-4 anos de idade (veja infográfico).
 
As incertezas climáticas são uma realidade que chegaram para ficar. Para enfrentar esse desafio, o setor precisa de articulação e de integração na busca por soluções comuns que apontarão para os caminhos a serem trilhados no futuro. Enquanto isso, a única certeza que temos é a de que a aplicação de todo o conhecimento gerado nas últimas décadas da forma correta e precisa é a melhor maneira de garantir a gestão dos fatores que estão sob o nosso controle, de forma a maximizar a produção das nossas florestas e garantir o abastecimento do nosso parque florestal para continuar ocupando posições de destaque no cenário mundial.