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Carlos Alberto Justo da Silva Jr.

Gerente-geral de Planejamento e Competitividade da Eldorado Celulose e Papel

Op-CP-53

Os ciclos de inovação na gestão florestal
A constante busca pela redução dos custos de produção, objetivando manter um posicionamento competitivo e agregar valor ao negócio, tem direcionado as empresas a manter ciclos contínuos de inovação. Cada vez mais, as equipes são estimuladas a usar, de forma continuada, sua capacidade intelectual, por meio de novas tecnologias, na busca de soluções aos desafios operacionais.
 
O processo criativo da inovação, além de trazer resultados materiais, reflete um maior engajamento das pessoas com o sucesso do negócio. Isso acredito ser o ponto convergente de sucesso das equipes que tive a oportunidade de integrar. Nesse contexto, existem muitas oportunidades a serem exploradas na gestão florestal.

Várias tecnologias aplicadas em outros setores, tradicionalmente o secundário, estão sendo incorporadas pelo setor primário, e não podemos estar à margem desse processo. A meu ver, o grande desafio está em superar a “última milha” da conectividade com o campo. O termo é uma tradução literal do inglês last mile e é usado em telecomunicações para referenciar a parte final da rede, do ponto de distribuição até o ponto final.

Essa é a parte com o maior custo de infraestrutura, pois não é um custo compartilhado com todos os clientes da rede, mas somente com o cliente final. É, por exemplo, a fibra ótica passada por um provedor de internet do poste onde está a rede principal até a sua casa. 
 
No caso florestal, as áreas são remotas, e as localidades, com nenhuma ou muito pouca infraestrutura de telecom. Superar essa barreira será importante para conseguirmos sincronizar dados e otimizar as decisões operacionais, em termos macro e micro, integradas, na busca pela excelência operacional, eliminando os vazamentos de produção em toda a cadeia produtiva.

Em verdade, se tivermos conectividade irrestrita no campo, com largura de banda suficiente para um alto fluxo de dados, uma infinidade de possibilidades se abrem para aplicações florestais. A grande maioria delas ainda desconhecidas para nós. É como dar visão a um cego de nascença. Um exemplo interessante disso foi no uso de drones ou VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado) na floresta. A aposta inicial era realizar levantamentos de sobrevivência de plantio aos 90 dias, utilizando as imagens de VANT.

O resultado foi um sucesso, e as imagens eram de tamanha resolução, que puderam ser utilizadas para outras aplicações, como na definição do uso do solo, antes realizada pela topografia tradicional. Posteriormente, com a adição de novos sensores e software de processamento, foi possível construir modelos tridimensionais de elevação das fazendas, simular o fluxo das águas e, com isso, melhor determinar as linhas de plantio, levando em consideração a conservação dos solos e a maximização da área efetivamente plantada.  
 
O próximo passo acredito que sejam aplicações de imagens geradas por câmeras multiespectrais acopladas aos drones, que permitem capturar frequências não visíveis a olho nu, mais adequadas a diferenciar vegetação. Isso deve permitir, por exemplo, acompanhar o crescimento da floresta, estágios de matocompetição e, possivelmente, identificar a presença de pragas e doenças. Por conseguinte, uma nova abordagem das operações, como realizar aplicações localizadas (georreferenciadas) de herbicida com helicópteros ou drones e produtos seletivos, apenas em áreas com ocorrência de matocompetição. 
 
Reduziremos a quantidade de defensivos utilizados, diminuindo custos e impactando menos o ambiente. Mas, voltando à ideia de termos comunicação irrestrita na floresta, pensemos nas possibilidades de IoT (do inglês, Internet of Things), em português “Internet das Coisas”, ou, por que não "Internet da Floresta"? Sensores nas máquinas capturando o comportamento dos componentes e do operador e dando feedback sobre seu uso mais eficiente. Máquinas “conversando” entre si (M2M) e sincronizando as operações de forma otimizada, ou, ainda, as diversas aplicações em ecofisiologia vegetal, manejo de irrigação e nutrição. Serão “as árvores” nos dizendo como maximizar o resultado esperado da produção!
 
Porém, para acompanhar essas tecnologias, é fundamental que as pessoas estejam preparadas, dispostas a mudanças e a constante aprendizado. Vamos presenciar o empoderamento dos líderes de campo, que terão, na palma das mãos, informações direcionadas às oportunidades de melhoria da eficiência operacional. Uma gestão ativa, e não ex-post facto. Essa tendência é clara. A grande maioria dos trabalhadores rurais manuseiam smartphones no seu dia a dia e têm facilidade em utilizar essa plataforma como ferramenta de consulta e de entrada de dados.
 
O uso de tecnologias mobile (portabilidade) no campo é uma realidade. A assertividade dos apontamentos operacionais sensoriados é incomparável ao tempo em que eles eram feitos em papel. A velocidade com que as informações estão disponíveis para consulta é inigualável, e a base de dados da floresta com o histórico de todas as operações realizadas e os recursos aplicados, agregadas informações de inventário, cadastro e localização espacial, permite um diagnóstico muito mais assertivo por parte do gestor florestal. É como para um clínico dar um diagnóstico, tendo acesso a uma bateria de exames atualizados e o histórico médico do paciente já na primeira consulta. 
 
Não é mais preciso conhecer as fazendas e a região para chegarmos até elas. Um GPS nos indica o caminho pela menor rota, mapeada previamente pela equipe de SIG (Sistemas de Informação Geográfica), em conjunto com a equipe de estradas. Não há mais placas identificando os talhões e o clone plantado. Não se levam mapas para o campo para ter uma visão espacial da fazenda, ou acompanhar onde está a colheita ou o plantio. Todas essas informações estão em formato digital e interativo. Logo estaremos utilizando tecnologias de realidade aumentada, integrando informações virtuais a visualizações do mundo real no mesmo plano. Essa aplicação tem enorme potencial no planejamento das operações, por exemplo.
 
Falando em planejamento, este evoluiu muito nos últimos anos, tanto em termos de programação e complexidade quanto em termos de espacialização. Cenários estratégicos de longo prazo podem ser rodados em pouco tempo, e essa rápida resposta permite mais interação dos tomadores de decisão e consequente melhor avaliação de risco. A capacidade de processamento e dos sistemas evoluiu tanto, que é possível trabalhar o microplanejamento, que acontece na menor unidade produtiva, com inúmeras restrições e metas a serem cumpridas, de forma otimizada.
 
Outra área que está em um ciclo virtuoso de inovação é o inventário florestal, que hoje já usa Inteligência Artificial (Redes Neurais) em seu processamento, com mais acurácia e menos amostras! São as máquinas substituindo e ainda amplificando a capacidade do ser humano em resolver problemas. Ainda, o uso de LiDAR (da sigla inglesa Light Detection And Ranging), que podemos traduzir como um sistema de varredura a laser, é muito promissor, mas ainda esbarra no alto custo dos sensores e do processamento. Não obstante, com a massificação dos veículos autônomos e outros equipamentos que usam essa tecnologia, seu custo dever ser bastante reduzido, abrindo caminho para o amplo uso na medição de florestas.
 
Todas essas tecnologias e seus inúmeros sensores geram uma quantidade massiva de dados. Como vimos, parte é imediatamente convertida em informação e ação, outra parte, significativamente maior e não estruturada (Big Data), fica armazenada em bancos de dados, sem uso aparente. Esta parte é tão, ou mesmo mais, valiosa do que a outra. Fazer bom uso dela é a grande oportunidade da atual gestão florestal. Nossos pesquisadores investem recursos para instalar experimentos, por exemplo, de manejo, como uma adubação tardia.

Em quantas ocasiões, por dificuldades diversas, já não foram postergadas (e registradas) tais adubações em escala operacional? Ou respostas das interações genótipo-ambiente? Fatores que influenciam a produtividade das florestas e podem se tornar limitantes ou até mesmo excludentes (e.g. distúrbio fisiológico, clima, solo, nutrição). As informações estão lá, só não estão sendo devidamente consultadas!
 
Vejo que o caminho é sair do modelo de bancos de dados tradicionais, onde os dados são padronizados, para um conceito de Data Lake Florestal, um único repositório, onde todos os dados estejam disponíveis a quem precise fazer análise sobre eles. Essa democratização da informação só é possível com o uso de ferramentas de Self-Service Business Intelligence (autoatendimento em inteligência de negócios), que permitem aos usuários criar consultas analíticas e relatórios personalizados diretamente, sem a necessidade de um especialista ou programador. O usuário se concentra no significado dos dados e não na tecnologia em si.
 
Quase nada disso existia há 10 anos, e, com a velocidade exponencial dos ciclos de inovação, possivelmente, em mais 5 anos, todas essas tecnologias serão obsoletas. Não podemos deixar para pensar em inovar amanhã. O futuro é hoje!