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Luiz Ernesto George Barrichelo

Diretor Executivo do IPEF

Op-CP-14

A gestão da silvicultura brasileira

Décadas atrás, o termo “Silvicultura” tinha um sentido amplo, englobando todos os aspectos, desde o estabelecimento, condução ou regeneração da floresta até sua utilização, através de bens diretos e indiretos. Com o passar do tempo, graças à evolução da ciência e da cultura, foram sendo desdobradas áreas anteriormente anexas e correlatas, resultando no que se constitui, hoje, as “Ciências Florestais”.

Nessa nova dimensão, a silvicultura é colocada ao lado de outros ramos como ecologia florestal, melhoramento florestal, manejo florestal, controle integrado de pragas e doenças, exploração (ou colheita) florestal, só para citar alguns. Dessa forma, a silvicultura ficou reduzida ao “ato de implantar e conduzir os povoamentos florestais, atendendo às necessidades do mercado e respeitando os aspectos sociais e ambientais inerentes à atividade”.

Porém, para efeito prático, a silvicultura ainda é classificada como de nativas e de exóticas, subtendendo-se para este segundo caso, as florestas implantadas e comerciais. A gestão da silvicultura de nativas, na atualidade, está intimamente ligada à iniciativa pública e não há registro algum de sucesso mensurável e duradouro alcançado, a despeito de todas as tentativas paternalistas do Governo Federal, na região amazônica. Nesse particular, o Brasil caminha na contramão da gestão de nativas nos países do Hemisfério Norte.

Na Finlândia, por exemplo, a gestão é exclusiva de nativas (autóctenes como preferem denominar), cobrindo 76% da área do país, praticando a sonhada “silvicultura familiar”, com dois terços das florestas nas mãos de quase um milhão de proprietários privados. E tudo se resume em quatro coníferas e duas dezenas de folhosas usadas, estas últimas fundamentalmente como lenha. Em nosso país, por estarmos no “hemisfério errado” ou por sermos um dos mais ricos em biodiversidade, estamos na idade média da silvicultura de nativas.

A única chance que tivemos foi desperdiçada com a exploração desordenada, inconseqüente e predatória do Pinheiro do Paraná - uma nativa emérita, no sul do país. Por outro lado, independente de explorações pontuais de florestas tropicais para abastecimento de indústrias locais, o reflorestamento com nativas de rápido crescimento tem sido tentado com relativo sucesso para um número restrito de espécies, com destaque para o paricá (Schizolobium amazonicum) na região amazônica e no sul do Pará.

Outra espécie, o guanandi (Callophyllum brasiliensis), está sendo mais usada para um marketing através da internet. Todavia, há um novo alento nas recentes concessões florestais do Governo Federal para manejo sustentável na Floresta Nacional de Jamari, em Rondônia. É aguardar para ver. Além disso, na gestão da silvicultura de exóticas, o Brasil mostrou sua verdadeira vocação para “produzir florestas segundo suas necessidades”, inicialmente de forma irresponsável e imediatista (misto de virtude e defeito do povo brasileiro) e, hoje, dentro dos mais modernos preceitos sociais e ambientais.

Isso se deve a uma série de fatores que tem sido “cantada e decantada” em uma interminável seqüência de artigos, palestras, releases e assemelhados na mídia impressa e eletrônica no Brasil e no exterior. Os principais destaques - alguns ufanistas, destacam as privilegiadas condições edáficas (variedade e disponibilidade de solos adequados ao plantio de florestais, topografia, etc), climáticas (precipitação, temperatura, etc) insolação, disponibilidade de mão-de-obra, adaptabilidade e crescimento das espécies, entre outros.

A nosso ver, na realidade, as duas principais são, de um lado, o amadurecimento das pesquisas no meio acadêmico e, de outro, a determinação do empresariado em investir em desenvolvimento tecnológico, reciclagem e capacitação de seus recursos humanos. A silvicultura de exóticas começou a dar seus primeiros passos decisivos na década de 60, com o surgimento das primeiras escolas de engenharia florestal.

Nas décadas seguintes, a pesquisa e o desenvolvimento vieram em um crescente, colocando o Brasil em uma posição de destaque, principalmente nas culturas dos eucaliptos e dos pinus. Os trabalhos gerados nas universidades, institutos e centros de pesquisas, tanto básicas como aplicadas, permitiram visualizar um avanço constante em termos quantitativos e, importante na atualidade, qualitativos.

Cada vez mais, necessita-se de matérias-primas para utilizações específicas ou multiusos, dependendo da necessidade ou oportunidade dos empreendimentos. A isso, aliem-se os investimentos feitos pelas próprias empresas nas suas pesquisas e a valorização do recurso humano, incentivado e apoiado para a formação em pós-graduação, tanto a nível de mestrado, como doutorado.

Fato isolado no passado, nos dias atuais isso está se tornando corriqueiro nas grandes empresas que acreditam no diferencial que deve ser mantido na área florestal brasileira, quando comparada a de outros países emergentes. A integração entre os setores acadêmico e empresarial - também bastante cantada e decantada, talvez esteja mostrando o que, na disciplina de estruturas, é chamado “fadiga do material”.

No presente caso, teríamos “fadiga de significado”: a integração é visualizada, muitas vezes, como simples aproximação entre as partes, uma troca de amabilidades ou uma prestação de serviços, uma assessoria... A necessária sobrevivência da ciência florestal talvez esteja dependendo de uma nova visão no relacionamento das forças-vivas, através da interação, uma efetiva e permanente simbiose entre universidades, institutos e empresas. Hoje, mais do que nunca, o processo deve ser dinâmico e reversível. Sobretudo, vivo.