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José Luiz Stape

Professor de Silvicultura e Ecologia da Esalq-USP

Op-CP-08

A expansão florestal no hemisfério sul

A expansão florestal no hemisfério sul está cada vez mais apoiada nos conhecimentos científicos sobre os “ecossistemas” de plantações florestais e suas interrelações ambientais e sociais. Foi-se o tempo em que “expansão florestal” significava apenas o plantio de mais árvores num projeto, fazenda ou área.

Hoje, o termo invoca uma série de premissas associadas à produtividade florestal, num primeiro momento, mas se seguindo, imediatamente, os aspectos da sustentabilidade econômica, ecológica e social do empreendimento, dentro das especificidades de cada região. A produtividade continua a ser o principal norteador de localização dos distritos florestais, porque possibilita a produção da matéria-prima madeira, componente principal do produto final celulose, com garantia de suprimento e baixos custos de produção, em função das economias de escala, em nível de talhão (alta produção por hectare) e em nível de região (grande quantidade de hectares manejados conjuntamente).

Vários países do hemisfério sul, como Brasil, Chile, Uruguai, Argentina, África do Sul, Congo, Indonésia e Nova Zelândia, dentre outros, possuem regiões edafoclimáticas aptas, ou mesmo ideais, para o desenvolvimento de espécies florestais com alta produtividade. Dentre estas, destacam-se aquelas dos gêneros Eucalyptus e Pinus, tanto nas regiões tropicais (E.grandis, E.urophylla, E.pellita, P.caribaea) como nas subtropicais (E.grandis, E.saligna, E.globulus, E.dunnii, P.taeda, P.elliottii, P.radiata).

No caso brasileiro, um amplo estudo da produtividade das florestas de Eucalyptus do setor papeleiro, através das Parcelas Gêmeas de Inventário (www.ipef.br/ppgi), mostrou um valor de 42 m³/ha/ano, e identificou que, através de melhores práticas de manejo, esta produtividade pode subir ainda para 55 m³/ha/ano. Este valor médio geral do setor é de 3 a 6 vezes superior às produtividades médias no hemisfério norte, onde predominam as áreas de clima temperado e subtropical.

No entanto, a produtividade per si não é mais o único fator a ser analisado numa decisão estratégica de grandes empreendimentos, sendo de alta relevância, na sociedade atual, o know-how e o embasamento científico dos manejos adotados, de forma que na sociedade local e internacional haja transparência das práticas de manejo e seus controles, bem como das interrelações sociais.

Assim, as amplas áreas de florestas plantadas passam a ter status de um “ecossistema”, requerendo seu profundo conhecimento científico, não só da produção de madeira, mas também do uso dos recursos naturais que necessita ou influencia, como água (quantidade e qualidade), solo (conservação e nutrição), luz e biodiversidade (no contexto da paisagem).

Novamente, vários países do hemisfério sul mostram-se adequadamente desenvolvidos nestes quesitos socioambientais, como é o caso do Brasil, África do Sul e Nova Zelândia, por exemplo. Pesquisas, que até duas décadas atrás só se realizavam no hemisfério norte, em países desenvolvidos, hoje são amplamente difundidas e utilizadas no setor florestal do hemisfério sul, destacando-se as pesquisas genéticas de melhoramento, hibridação e genômica (Genolyptus www.embrapa.br), nutrição e manejo florestal (www.ipef.br/ptsm, www.sif.org.br/nutree), ecofisiologia florestal (Produtividade Potencial do Eucalyptus e do Pinus, www.ipef.br/bepp e www.ipef.br/pppib), proteção florestal (www.ipef.br/protef, www.ufv.br/dfp) e seqüestro de Carbono (www.ipef.br/euc-flux, www.floresta.ufpr.br/fupef), dentre outras.

Assim, explica-se o porquê da realização de eventos mundiais sobre Florestas Plantadas no hemisfério sul, como o Congresso Florestal Mundial na Austrália, em 2005, e os próximos Simpósios sobre Produtividade e Sustentabilidade de Florestas Plantadas, em Outubro de 2007, na África do Sul, e em Novembro de 2008, no Brasil.

Tal gama de conhecimentos, associada a práticas operacionais de conservação de solo e água, vêm possibilitando a crescente certificação das plantações florestais nos países do hemisfério sul, atestando a idoneidade e compromisso dos empreendimentos com as regiões em que atuam. Além disso, há de se destacar que uma crescente parcela das florestas plantadas no hemisfério sul está sendo realizada junto a pequenos e médios proprietários rurais, aumentando ainda mais as opiniões e interesses, acerca dos temas florestais.

A estes novos silvicultores, faz-se necessário o rápido repasse não só dos ganhos técnicos das florestas plantadas, mas também da consciência ambiental que com ela evoluiu, para que o produtor não seja apenas um plantador de árvores, mas, além disto, um gestor do seu ambiente rural. Finalmente, não queremos deixar aqui a falsa idéia de que as relações entre os empreendimentos florestais e as suas regiões de influência estejam totalmente equacionadas, mas sim de que há competência científica cada vez maior para que os pontos de divergência sejam tecnicamente apresentados e debatidos por toda a sociedade, levando-se em consideração as particularidades locais.

A capacidade do hemisfério sul, com seus mais de vinte milhões de hectares de florestas plantadas, em atrair novos investimentos, aumenta a nossa responsabilidade (profissionais, produtores, investidores, legisladores, órgãos governamentais, educadores e cientistas), em saber localizar e gerir tais plantios, para atender esta complexa sociedade local-regional-global, em relação aos bens que demanda hoje, sem se descuidar dos bens que possa vir a demandar no futuro.