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Douglas Seibert Lazaretti

Gerente-geral Florestal da Gerdau em MG

Op-CP-38

A energia da floresta

A indústria do aço brasileira, não diferente dos demais segmentos industriais do País, tem enfrentado um momento de grandes desafios, perdendo participação significativa na composição do PIB nacional. O processo de desindustrialização da matriz produtiva brasileira, somado à perda de competitividade sistêmica, criou um cenário de alta competição no mercado.

Um dos fatores geradores dessa perda de competitividade é o chamado “custo Brasil”, que expõe os entraves impactantes na indústria nacional, como a elevada carga tributária e taxa de juros, os altos custos logísticos e de energia elétrica, questões amplamente conhecidas e discutidas pelo setor industrial. Em um cenário onde a oferta mundial de aço é bastante superior à demanda, gerando um excedente de produção anual de mais de 500 milhões de toneladas de aço, o “custo Brasil” favorece a importação de aço, afetando ainda mais a siderurgia brasileira.

Nesse cenário desafiador e que pouco mudará no curto e no médio prazo, a inovação, que, para muitos, ainda é vista com certo receio, torna-se, agora, o maior diferencial na busca da superação da perda de competitividade. Pensar e atuar de forma inovadora tornou-se premissa para que as empresas se mantenham no mercado. A busca pela inovação é necessária em todos os aspectos, desde a inovação tecnológica, na qual se busca o desenvolvimento de novas tecnologias, passando pela inovação incremental, na qual se buscam novas formas de produzir com mais eficiência, até a inovação radical, na qual são criados novos modelos de negócio e de geração de valor aos acionistas e stakeholders.

A transformação energética da biomassa florestal está alicerçada nos processos químicos, termoquímicos e biológicos. As principais rotas de conversão da madeira são para obtenção de energia calorífica, energia mecânica e energia para transporte. Já no campo da eletricidade, as tecnologias de produção a partir da biomassa florestal podem ser divididas em dois grupos:

1. aquelas que fazem uso da biomassa como recurso energético primário, a partir da combustão direta, e
2. aquelas que fazem uso de combustíveis através de processos termoquímicos.

Uma peculiaridade da siderurgia brasileira, apresentada como diferencial de custo e sustentabilidade, é a produção de ferro gusa utilizando biorredutor, carvão vegetal de florestas energéticas. Por ser de origem vegetal, ou seja, sua matéria-prima é a madeira de florestas plantadas, o biorredutor é caracterizado como uma fonte renovável de redutor do minério de ferro e de grande interesse para a indústria.

A produção de biorredutor possui um grande potencial de inovação, ao possibilitar um novo modelo de negócio combinado à sua produção: a geração de energia térmica e elétrica. Um novo modelo tem sido estudado e testado no setor florestal: o aproveitamento de gases da carbonização para aumentar a eficiência energética do sistema. No processo de carbonização, que é a transformação química da madeira em biorredutor, ocorre a liberação de gases em alta temperatura, os quais podem ser empregados na secagem da madeira ou na cogeração de energia elétrica.

Além da otimização energética, o modelo também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, uma vez que eles serão parcialmente consumidos no processo. Atualmente, existem diversas iniciativas para aumentar a eficiência energética do processo de transformação da madeira em biorredutor, lideradas por renomadas instituições de ensino e empresas do setor.

Entretanto há inúmeras dificuldades enfrentadas e a serem superadas. Primeiramente, a tecnologia de queima ainda não está totalmente dominada. Por se tratar de um processo de produção em bateladas, modelo predominante no setor, o processo de carbonização não gera continuamente gases ricos para queima. A solução passa por diferentes etapas, que vão desde estudos e simulações de balanço de gases e mecânica de fluidos, até projetos que buscam reduzir essa instabilidade da composição dos gases que chegam à central, através da sincronização de vários fornos ligados a ela.

Em paralelo à otimização do sistema em batelada, tecnologias inovadoras para a produção de biorredutor têm surgido no mercado e possibilitam maior eficiência energética, como processos contínuos de produção. A maior parte dessas tecnologias encontra-se em fase de consolidação no mercado e merece maiores incentivos para que a técnica seja mais conhecida e dominada, gerando maior segurança ao investidor quanto à sua viabilidade econômica, antes da implantação em escala industrial.

Sem dúvida, a utilização da biomassa florestal como fonte de energia é uma alternativa que contempla a vocação natural do Brasil. Entretanto ainda são muito incipientes os incentivos governamentais em pesquisas, desenvolvimento de tecnologias e fontes de financiamento para levar essas inovações à escala industrial. O setor de florestas plantadas cumpre um importante papel ambiental na indústria nacional, reduzindo a pressão sobre as florestas nativas e a dependência de combustíveis fósseis mais poluentes, permitindo a diversificação da matriz energética com fontes renováveis.

Também contribui de forma expressiva para o PIB brasileiro (5,5 % do PIB industrial), gerando 4,5 milhões de empregos e investindo mais de R$ 150 milhões ao ano em projetos de responsabilidade social. Por essas significativas contribuições, o setor merece maior atenção dos governos estaduais e Federal, através de ações que visem reduzir a burocracia excessiva presente no segmento, considerada um dos principais entraves ao crescimento desse setor.

Em tempos em que a competitividade deve estar em contínua evolução e intimamente relacionada à sustentabilidade do negócio, o setor de base florestal, em especial o de florestas energéticas, pode se tornar um dos maiores diferenciais competitivos da indústria do aço ao inovar no seu processo. A inovação deverá trazer um novo modelo de negócio, combinando produção de biorredutor e geração de energia elétrica, através de um processo de alta produtividade, automatizado, traduzido em maior eficiência energética e menor geração de gases de efeito estufa.