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Paulo Hartung

Presidente-executivo da Ibá

As-CP-19

A bioeconomia deve nos impulsionar
Ser sustentável é uma necessidade urgente, que envolve esforço conjunto de sociedade, setor privado e poder público. E a bioeconomia será um caminho para construirmos esse futuro que equilibra necessidades e desafios ambientais, econômicas e sociais. Temos que lidar com uma nova realidade de um novo consumidor que está mais atento à procedência dos produtos, zelando pela origem responsável e destinação adequada.

Aliás, como cidadãos, temos que incentivar esse comportamento e ensinar filhos, colegas e familiares a replicarem esses conceitos, pois as mudanças climáticas exigem uma ação forte e rápida para garantir o futuro para as próximas gerações. Como representante do setor de florestas plantadas para fins industriais, temos que abraçar ainda mais esse conceito e focar nossos esforços em consolidar esse modelo econômico que utiliza matéria-prima renovável e de baixa emissão de carbono.

O setor só tem a ganhar se a sociedade buscar, de forma consciente, produtos e setores sustentáveis. Essa indústria, geralmente, utiliza áreas antes degradadas, seguindo um plano de manejo para cada tipo de região. A indústria de base florestal possui 7,8 milhões de hectares no Brasil e estoca 1,7 bilhão de CO2 equivalente nas suas plantações. 
 
Com essa base renovável e sustentável, temos a capacidade de produzir, em grande escala, mais de 5.000 produtos e subprodutos fundamentais para a vida de todos. São pisos laminados, painéis de madeira, celulose, papel, fraldas, papel higiênico, embalagens de papel, lenços umedecidos para bebês e maquiagem, biomassa para a geração, produtos de limpeza e tecidos de viscose de fibra de celulose, entre outros. Mas a sustentabilidade do setor não está só nas florestas e na indústria, ela acompanha todo o ciclo do produto.

A gestão rigorosa dos resíduos sólidos em suas atividades e a busca de conscientização do consumidor para as práticas sustentáveis e correta destinação dos resíduos domésticos e urbanos estão entre os princípios do setor. Com isso, o Brasil figura entre os principais países recicladores de papel e papel cartão do mundo, com 5,1 milhões de toneladas retornando para o processo produtivo, em 2018. A taxa de recuperação estimada é 68% de todo o papel consumido passível de reciclagem. 
 
Apesar do alto índice, esse desempenho pode ser melhorado com a participação mais ativa dos diversos elos dessa cadeia, como o consumidor, com a ampliação da separação, e o poder público, com melhorias no serviço de coleta dos municípios. Muitos produtos de papel, que poderiam ser reciclados, não são destinados a esse fim e acabam nos lixões comuns. Por exemplo, caixas da embalagem de bombom, de remédio, de pizza e outros produtos que estão no dia a dia e têm potencial para retornar à cadeia produtiva.

Mas, se essas caixas forem misturadas com o lixo comum, inviabiliza a reciclagem dessa fibra. Diferente de outros produtos, o papel é biodegradável e se decompõe na natureza em poucos meses. Mas, mais importante do que isso, é que os produtos de base florestais são, na maioria, recicláveis, e consideramos que é possível reduzir o volume desses produtos enviados para os aterros com o correto descarte. 
 
Outra etapa importante nesse processo é de responsabilidade do poder público. Dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que prevê a responsabilidade compartilhada, cabe ao poder público evoluir na organização da coleta e na destinação dos resíduos sólidos, com a ampliação da reciclagem de produtos de diversos segmentos e a redução do volume nos lixões.

É fundamental o papel dos municípios de prover regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.  Mas ainda há muito a fazer. Em média, cada brasileiro produz quase meia tonelada de resíduos domiciliares por ano, e poucas são as cidades, dos 5.570 municípios brasileiros, que fazem coleta seletiva. E mesmo aquelas que possuem esse serviço têm baixa cobertura.

Para ajudar nesse fluxo de logística reversa, o Brasil conta com um exército de catadores de materiais recicláveis. Elo fundamental da gestão dos resíduos sólidos, com participação tanto na coleta seletiva como na separação dos materiais para reciclagem, os catadores têm garantido um volume significativo de recolhimento de aparas de papel. A maior parte do material que é encaminhado à indústria do segmento de papel chega por meio do trabalho dos aparistas.

Nessa parceria, o setor investe na adequação e na ampliação da capacidade produtiva das cooperativas e associações.  Além disso, o setor de florestas plantadas vem investindo, consistentemente, na ampliação das taxas de recuperação a cada ano, com a compra de equipamentos e o desenvolvimento de novas soluções. A indústria da reciclagem geral movimenta cerca de R$ 3 bilhões só no Brasil e envolve muita tecnologia e inovação por parte dos recicladores.

Visitei recentemente a unidade da Papirus, em Limeira, no interior de São Paulo, que utiliza em 100% de sua produção de fibras recicladas. É muito bonito e gratificante ver o papel já usado, oriundo de diversas utilidades, entrar em uma fábrica e voltar para o circulo do consumo com uma nova utilidade para o cidadão. É ali que é possível ver a etapa final de renovação, agregando riqueza e sustentabilidade para um produto que já é de fonte renovável e biodegradável.