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José Carlos da Fonseca Jr.

Diretor executivo da Ibá, com assento no Advisory Committee on Sustainable Forest-based Industries (ACSFI), da FAO

AsCP21

2021: ano da retomada verde
António Guterres, secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), referiu-se ao último relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmando: “este é um ano crucial para o futuro da humanidade”. Outrora considerado temática lateral, o desafio das mudanças climáticas se tornou assunto central nas discussões de nações e corporações.
 
É impositivo que o ser humano reveja a forma como trata a Terra até aqui. Suas atitudes estão esgotando os recursos naturais, e presenciamos, cada vez mais, o desaparecimento da biodiversidade, assim como o aumento de zoonoses. A dolorosa Covid-19 está nos fazendo sentir na pele os impactos de atitudes irresponsáveis.

Nesse cenário, o ano de 2021 é importante para começarmos a virar essa triste página da história planetária. Dois grandes eventos da ONU são fundamentais para endereçar esses desafios. A COP15, da Convenção da Diversidade Biológica, negociará o novo Marco Global de Biodiversidade, e a COP26, da Convenção do Clima, poderá, enfim, fazer com que o Artigo 6º do Acordo de Paris seja implementado de fato, e tenhamos um mercado mundial regulado de créditos de carbono. Além disso, terá lugar, em Belém do Pará, o Fórum Mundial de Bioeconomia, que, pela primeira vez, se realiza fora da Finlândia.

Hoje, nações como Estados Unidos e Alemanha possuem metas ambiciosas de descarbonização. A China anunciou seu objetivo de redução de emissões até 2060. É o mundo apostando em uma nova economia, baseada em declinantes emissões de carbono.

Esse cenário externo traz boas oportunidades ao Brasil e, especialmente, ao setor de base florestal. O País tem potencialidades para liderar o debate sobre uma retomada verde. Aqui, estão a maior biodiversidade e a maior floresta tropical do planeta, além dos 12% de água doce do mundo.
 
Já o setor de árvores cultivadas se mostra pronto para atender aos anseios de uma sociedade. Desde a semente até o produto final, essa é uma agroindústria com um olhar cuidadoso em cada etapa do processo. A indústria de base florestal opera com os dois pés na bioeconomia.
 
Atualmente, temos 1 milhão de árvores para fins industriais plantadas todos os dias. Ao todo, são 9 milhões de hectares no Brasil destinados para fins produtivos de pínus, eucalipto e teca, entre outras. Isso representa menos de 1% do território nacional e quase 100% de toda a madeira utilizada industrialmente no País.
 
Já embarcado em uma nova economia, esse é um setor que destina 5,9 milhões de hectares em áreas para conservação entre RPPN (Reserva de Proteção do Patrimônio Natural), APP (Área de Preservação Permanente) e RL (Reserva Legal). Para cada hectare plantado, outro 0,7 é conservado, indo além do que a legislação exige.

Juntas, as florestas do setor estocam ou removem 4,48 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, um volume maior do que o emitido por toda a indústria brasileira em um ano. Para além do discurso, o correto manejo sustentável dessas áreas é atestado pelos principais selos de certificações internacionais, como o FSC (Forest Stewardship Council) e o PEFC/Cerflor.
 
Na nossa indústria, o olhar para o meio ambiente também está conquistando espaço crescente. A matriz energética, por exemplo, utiliza quase 90% de fontes renováveis. Fábricas mais modernas, inclusive, geram excedentes de energia que vão para a rede pública. Tudo isso reflete no dia a dia da sociedade, com mais de 5.000 bioprodutos essenciais, como embalagens de papel, livros, cadernos, papel higiênico, máscaras cirúrgicas, pisos laminados, painéis de madeira, carvão vegetal para produção de aço verde, entre tantos outros. Itens que são fundamentais têm origem renovável, são recicláveis e biodegradáveis, em sua maioria. 

Como setor na vanguarda de avanços importantes, o que antes era só imaginado como ficção científica hoje já faz parte da realidade. Com a nanotecnologia, a celulose chegará à escala nanométrica, sendo potencial substituta de produtos de origem fóssil. Poderá, ainda, produzir fios têxteis com o emprego de até menos 90% de água e químicos. Também será fundamental para substituir as camadas de alumínio e plástico em embalagens, conferindo maior reciclabilidade e, até, mais biodegradabilidade. A lignina, utilizada para produção de energia limpa, após muitos estudos, está entrando no hall de materiais promissores e também tornará mais verdes o concreto, os termoplásticos e os bio-óleos, por exemplo.

Esse é um setor que pode iluminar o caminho que está sendo construído rumo a uma nova economia. Se o Brasil tem potencialidade, a indústria de base florestal é uma das molas que impulsionará o País na promissora rota sustentável.