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Fernando Henrique da Fonseca

Presidente da Abraf

Op-CP-05

Uma atividade benéfica à nação, porém, que exige paciência

O Brasil possui, aproximadamente, cinco milhões de hectares de florestas plantadas. A tabela em destaque mostra a situação do nosso país em relação a outros países do mundo. Entretanto, esse quadro não reflete a vocação natural do Brasil para o cultivo de árvores. O Brasil tem 850 milhões de hectares de terras, e, de forma aproximada, podemos dividí-las segundo o seu uso.

São 540 milhões de florestas nativas, 220 milhões de pastagens, 23 milhões de plantio de soja e menos de 5 milhões de hectares plantados com floresta de rápido crescimento (eucalipto), ou seja, 0,6% de todo o território brasileiro. Temos abundância de luz, calor, precipitação pluviométrica farta e bem distribuída ao longo do ano todo, espaço e mão-de-obra disponível, tecnologia de ponta e a maior produtividade mundial. Isso é refletido nos índices de crescimento elevados e ciclos de colheita curtos.

As condições de solos e climáticas favoráveis fazem com que os plantios de florestas cresçam como em nenhum outro lugar do planeta. Para efeito de comparação, enquanto no Brasil produz-se 500 metros cúbicos por hectare, num período de 14 anos, no Canadá, para se produzir essa mesma quantidade de madeira, leva-se 300 anos.

Recentemente, comemoramos 100 anos do cultivo do eucalipto no Brasil, uma história marcada pela incompreensão e por muitos mitos. Ressalta-se que vários destes mitos são importados de países assustados com os nossos altos índices de produtividade do cultivo de árvores. Dizem que o eucalipto é ruim, por ser uma espécie exótica, proveniente da Austrália, como se exóticas não fossem a cana-de-açúcar, o café e praticamente todas as plantas cultivadas com as quais convivemos no nosso dia-a-dia.


Outros muitos apregoam que o eucalipto seca a terra, o que está cientificamente provado como inverdade, uma vez que o consumo de água é equivalente ao de outras plantas existentes em qualquer quintal, e, ao contrário, o eucalipto tem função reguladora das taxas de infiltração do solo, durante as chuvas. A atividade, como um todo, emprega mais de 6 milhões de pessoas, se considerarmos toda a cadeia produtiva.

O setor Primário absorve 500 mil, o setor Secundário 900 mil e ainda 4,6 milhões de postos de trabalhos, são gerados por Empregos Indiretos. Além de grande empregador, o setor é grande gerador de divisas para o país, com superávit de quatro bilhões de dólares anuais, na balança comercial. Esse superávit é o resultado de cinco bilhões de dólares em exportações, contra um bilhão de dólares em importações.

Outra consideração importante refere-se ao índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em áreas pobres do Brasil, verificando-se índices mais elevados nas cidades que têm maior concentração de cultivo de florestas. Considerando o setor de florestas plantadas, do ponto de vista ambiental, o balanço também é extremamente positivo. São preservados mais de dois milhões de hectares de áreas protegidas, como preservação permanente ou reserva legal, número superior aos outros países do mundo, considerando-se a área preservada, em relação à área plantada.

A produção de celulose, por exemplo, é 100% feita com madeira proveniente de florestas plantadas, diferentemente de grandes produtores mundiais, como o Canadá, Finlândia e Indonésia, que utilizam florestas nativas. Ao plantar árvores, estamos ainda contribuindo para a questão do seqüestro de CO2, promovendo o desenvolvimento sustentável, diminuindo a pressão sobre as florestas nativas, que têm o ciclo de renovação muito mais lento.

Geralmente, o plantio é feito com o aproveitamento de áreas degradadas, não concorrendo com outros produtos agrícolas. Por meio da utilização de técnicas modernas de cultivo, temos garantia de altíssima produtividade, a maior do mundo. A plantação é colhida e replantada, formando um ciclo constante, fazendo com que a floresta esteja sempre em crescimento e renovação e, conseqüentemente, “seqüestrando” mais CO2.

Com o plantio de árvores, estamos também promovendo o desenvolvimento sustentável, pois a cada seis ou sete anos a floresta renova-se e assim sucessivamente. Entretanto, com todos os benefícios já mencionados, plantar árvores no Brasil constitui um exercício de paciência, pois nos deparamos, constantemente, com excessivos procedimentos burocráticos.

Tendo como referência os produtores de madeira, que precisam cumprir uma série de exigências para concluir o processo produtivo, desde a Licença de Operações para atividades silviculturais do Conselho de Política Ambiental (COPAM), Autorização para colheita do órgão estadual, Declaração de corte e colheita DCC, Certidão de Registro técnico federal de utilizadores de recursos ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Guia de Controle de Consumo (GCC), Outorga de uso de águas públicas do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), Permissão de Trânsito de Vegetais (PTV), Certificado Fitossanitário de origem CFSO, e inúmeras outras licenças e declarações que se repetem nas esferas municipais, estaduais e federais, desde o plantio, colheita, até autorizações especiais para o transporte da madeira, procedimentos estes, que não são exigidos para nenhuma outra produção agrícola.