Consultor e Escritor Especialista em Florestas
Op-CP-36
Tenho acompanhando com intrigante interesse e até mesmo devoção ou paixão as inúmeras discussões e opiniões que aparecem em diferentes tipos de mídia onde se fala ou se escreve sobre sustentabilidade, em especial acerca do setor de base florestal. Parece que, de um momento para outro, todos no mundo dos negócios se tornaram sustentáveis ou se autoproclamam como tal.
Essa parece ser a palavra mágica do momento, que agrega valor às empresas, às pessoas e aos produtos. Surgiram iniciativas em praticamente todos os setores para demonstrar esforços para cuidar melhor dos impactos das empresas sobre a saúde do planeta Terra. Nada mais natural que ações e exemplos surgissem também no setor de base florestal, que tem uma identidade notável com a natureza e com a renovabilidade dos insumos que utiliza a partir das florestas, em especial das plantadas.
São inúmeros os exemplos positivos que o setor florestal carrega em seu portfólio de ações nos aspectos ambientais e sociais, o que é uma excepcional virtude da gente que atua no setor e que está acreditando que esse seja o caminho a trilhar. É muito bom se notar que as certificações ambientais, florestais, de segurança e responsabilidade social, até mesmo os selos verdes, tenham sido adotadas com tanta intensidade por grande proporção das empresas do setor, independentemente de seu tamanho.
Nosso setor deveria responder dessa forma mesmo, afinal, nossos impactos ambientais, e mesmo os sociais, são de magnitude muitas vezes significativas, e temos responsabilidade para garantir um ambiente adequado para as gerações que nos sucederão. Temos grandes extensões de terra sendo utilizadas, gastamos muita energia, água e outros insumos, que também têm efeitos ambientais.
Portanto estamos tentando cuidar bem desses quesitos e também dos problemas gerados pelas nossas contaminações (efluentes e resíduos). Quanto aos aspectos sociais, também evoluímos muito, basta dar uma espiadela no passado e notar que, se o Brasil melhorou, nós também, no setor florestal, melhoramos bastante.
Entretanto todas essas ações que empresas e dirigentes têm procurado relatar como sendo suficientes para colocar suas empresas em nível adequado de sustentabilidade esbarram no dilema conceitual de que a sustentabilidade nunca será atingida plenamente, uma vez que, a cada dia, sempre teremos novas gerações que deveremos procurar contemplar com um ambiente justo e adequado.
Portanto sustentabilidade é uma rota sem fim – nunca estaremos sustentáveis –, isso porque estaremos sempre buscando a sustentabilidade. Além disso, sustentabilidade é um processo que, em sua conceituação central, tem características essencialmente antropocêntricas, já que foi criado pelo ser humano para tentar garantir a sua própria existência futura, em condições de felicidade e cercado das melhores condições ambientais, econômicas e sociais possíveis de serem atingidas em momentos que chamaremos de futuro.
Evidentemente, essa carga antropocêntrica exagerada acaba cabresteando a visão em relação ao que seria a própria sustentabilidade do planeta Terra ao invés de apenas a do ser humano no planeta Terra. Da forma como vem sendo colocada, a sustentabilidade esbarra em diversos conflitos difíceis de serem tocados, principalmente no mundo dos negócios, como é o caso do crescimento populacional, que, cada vez mais, tenderá a consumir recursos finitos e escassos da natureza.
Maior população significa mais votos, mais devotos e mais consumidores, todos altamente desejados pelas forças de maior poder na sociedade. Outro ponto que não é considerado nos critérios de sustentabilidade são os aspectos emocionais, dentre os quais os indicadores de felicidade.
Se o ser humano é movido tanto pela razão como pela emoção, esse ponto poderia fazer parte das atuais formas de se demonstrar que empresas e pessoas trabalham pela sustentabilidade em seus lares, empregos e negócios. Se isso aparecesse com mais força nos critérios de sustentabilidade, acredito que teríamos grandes avanços da qualidade de vida não apenas do ser humano, mas de suas relações com a natureza.
O ser humano privilegiaria mais a natureza e apoiaria mais sua conservação se descobrisse, com mais intensidade, a sua beleza e a sua singularidade e não apenas a enxergasse como fonte de recursos para seu usufruto. Empresas talvez pudessem praticar a gestão com mais positivismo, enfatizando mais os aspectos positivos do que os negativos.
Ao invés de seus programas reducionistas de diminuição de custos (“mundo do menos”), estariam mais focadas em programas de eficiência no uso dos recursos (“mundo do mais”), já que tudo que utilizam são recursos naturais e que, se mal utilizados, aumentam os custos, diminuem os resultados e, além do mais, reduzem o estoque de recursos naturais do planeta.
Não estariam, obviamente, sustentáveis, considerando que essa é e sempre será uma meta diária e eterna, mas fariam seus esforços com maior grau de felicidade e de adesão das pessoas que costumamos denominar de partes interessadas. Há muito ainda a ser feito e conquistado – o mundo do mais precisa se sobrepor urgentemente ao mundo reducionista do menos que nos ameaça frequentemente.
Será que um dia as culturas dos cidadãos e das pessoas de nossas empresas conseguirão fortalecer a visão positiva de sustentabilidade como uma rota sem fim a ser perseguida sempre? Eu sempre acreditei que a bandeira da sustentabilidade e da ecoeficiência no uso adequado dos recursos naturais é algo muito mais fácil de ser agitada com paixão do que as inúmeras bandeiras reducionistas que nos são apresentadas praticamente todos os dias em nossa vida diária (e também em nossas empresas).
Enfim, o ser humano é emocional mesmo – pena que tenda a carregar bandeiras inglórias grande parte das vezes em sua vida. Talvez a gente consiga mudar isso, mas, para mudar, há que se começar a fazer muito mais, em adição ao que já conquistamos até hoje – vocês não acham? Caso concordem, que tal começarmos agora mesmo?