No Brasil, embora existam entidades representativas de variados segmentos econômicos há décadas, o associativismo no setor privado ainda não é merecidamente compreendido, de forma a contribuir para a otimização de sua atuação e, consequentemente, de seus resultados.
Podemos afirmar, com segurança, que uma significativa parcela dos avanços obtidos e do posicionamento institucional conquistado por cada um desses segmentos é devido ao trabalho, muitas vezes despercebido, que as associações realizaram diante das demandas enfrentadas.
A questão que proponho apresentar não é a intensidade ou o volume da atuação das associações, tampouco sua forma de organização, e sim a estratégia, o modelo de governança e os direcionamentos para obter resultados que transformam positivamente a realidade de seus representados, e, nesta oportunidade, farei um breve recorte sobre a evolução da representação do setor de florestas cultivadas em Minas Gerais.
A Associação Mineira da Indústria Florestal - AMIF, é resultante de uma transição do posicionamento e relacionamento institucional setorial que ocorreu ao longo dos últimos cinco anos, catalisada por empresas que são, simultaneamente: concorrentes, parceiras, clientes e fornecedoras no mesmo mercado. Embora com aparentes conflito de interesses, distintas estruturas organizacionais e modelos de governança diversos, essas empresas se alinharam para um mesmo propósito: ressignificar e conduzir a indústria florestal mineira para uma nova forma que resultasse na melhoria da competitividade e no desenvolvimento do setor em Minas Gerais, em bases sustentáveis.
Mas, na prática, como é possível alcançar essa sinergia entre os diferentes? Essa, talvez, seja uma das questões que mais ouvimos quando apresentamos a AMIF e, sem dúvida, é o que mais nos motiva a desenvolver e exercer o que acreditamos ser a nova representação setorial.
Primeiramente, o que possibilita essa sinergia é o reconhecimento do ponto de equilíbrio de forças. Compreender que, dentro da associação, serão todos reconhecidos, tratados e se comportarão como iguais. Diferenças de porte, segmento de atuação, abrangência territorial ou qualquer outra distinção que exista entre as associadas no mercado, dentro dos muros da associação ou na condição de representados, são realmente zeradas. Inclusive, apesar de diferentes, como condição básica de ingresso, todos devem ter em comum a adoção das melhores e verificáveis práticas ambientais, sociais e econômicas em seus negócios. A paridade de forças é basilar no novo modelo de representação setorial.
Uma vez garantido o basilar equilíbrio de forças, é necessário identificar e consolidar a unificação de propósito. É preciso estabelecer um planejamento estratégico eficaz, com objetivos racionais e metas factíveis, de forma a orientar com clareza a estratégia adotada. Esse planejamento é vital, é ele quem evidencia para a sociedade a convergência dos diferentes; deixando evidente quais são os interesses comuns que justificam a sinergia, que justificam a própria existência da associação setorial.
Paridade de forças e unificação de propósito garantidos, é hora de montar um time forte, altamente capacitado para conduzir a associação, de forma a se tornar um centro de excelência e referência. A experiência nos mostrou que, diante da contínua busca e investimentos dentro das organizações representadas, a associação, no mínimo, deve apresentar igualdade de condições de seu capital humano e intelectual para ser devidamente respeitada, valorizada e, consequentemente, alcançar os objetivos propostos, que, naturalmente, já garantem alta dose de desafio, técnica e estratégia.
Atualmente, ao buscar a associação setorial para auxiliar em uma questão crítica, na maior parte das oportunidades, a empresa já buscou internamente os melhores meios para resolvê-la, até mesmo contou com consultorias externas, de forma que a questão chega, em grande parte, já em nível crítico de complexidade e urgência e que exige condução diferenciada.
Diante dessa realidade e da experiência que o exercício executivo nos traz, as questões que sempre surgem para os líderes nas organizações são:
1. Qual a efetividade em levar uma questão desse nível de complexidade a uma associação que não tem excelência técnica, práticas éticas e reais condições de me auxiliar, de forma eficaz, na solução necessária?
2. Quais os diferenciais representativos que essa associação possui e com que poderei contar para alcançar os melhores resultados para esse caso?
Para a representação setorial, penso que a resposta deve ser: essa associação é reconhecidamente um centro de excelência contínua, pois evolui e se prepara constantemente diante
dos inúmeros desafios e oportunidades que o exercício estratégico da representação setorial proporciona − na dúvida, olhe com atenção nossos resultados.
Essa excelência é desenvolvida tendo como critérios os princípios valores compartilhados entre os associados, aliados a uma substancial base técnica com metodologia rastreável, argumentação focada, evidenciação robusta e relacionamentos assertivos, que certamente resultam na redução ou até mesmo na erradicação das subjetividades.
É o claro exercício do advocacy, a defesa dos interesses setoriais de forma equilibrada, ética e democrática, que proporcione a atuação junto aos governos, à sociedade civil organizadas e ao setor privado, de forma a contribuir para resultados positivos esperados e necessários para o desenvolvimento do setor e dos territórios onde ele se relaciona.
A nova forma de representar o setor não quer convencer sobre sua importância e relevância, tampouco sobre os benefícios comprovados que carrega em suas múltiplas atividades; na verdade, trabalha árduo para conquistar espaços e apresentar conteúdo, argumentações adaptadas às linguagens e realidades que proporcionam o exercício do pensamento crítico.
Assim, utilizando as melhores ferramentas que as organizações possuem, a associação setorial que se propõe ser referência deve ampliar com paridade de forças a participação e a representatividade do setor em seu território, considerando sua rica e complexa diversidade, de forma a alcançar, com autonomia, os interesses comuns identificados pelos diferentes associados.
A nova forma de representar o setor florestal certamente é responsável por grande parte dos avanços de que hoje as empresas se beneficiam. Em Minas Gerais, por exemplo, a AMIF conseguiu, junto ao governo estadual, racionalizar e otimizar condições tributárias e ambientais que, até pouco tempo, ameaçavam criticamente a sustentabilidade e a própria permanência do setor. Até mesmo nesse crítico e adverso momento pandêmico que vivemos, a AMIF obteve, junto ao governo, as condições legais necessárias para o pleno exercício das atividades, que resultaram em um expressivo crescimento e expansão de mercado, não visto há décadas.
Sem dúvida alguma, a nova representação está, de fato, contribuindo para a ampliação do exercício da democracia, entregando, com transparência e objetividade, contribuições singulares para a construção de um ambiente favorável aos negócios do setor. Dessa forma, juntos, alcançamos um merecido reconhecimento e abertura que não tínhamos ainda vivenciado, mesmo cientes de que ainda há muito a ser feito; estamos trilhando um caminho certeiro para uma colheita produtiva para o presente e o futuro do setor florestal.