Diretor Florestal da Eco Brasil Florestas
Op-CP-22
A silvicultura brasileira, em seus anos de existência, teve fases de crescimento e desenvolvimento com características bem marcantes. A turbulenta fase inicial embalada pelos incentivos fiscais, o surgimento das grandes indústrias, os programas de pesquisas e experimentações, os avanços tecnológicos e os questionamentos sociais e ambientais são algumas das importantes questões vividas pelo setor.
Foram superações que fortaleceram cada vez mais o setor. O resultado tem sido o reconhecimento, em nível internacional, do sucesso da atividade: somos os campeoníssimos de produtividade e competitividade. Manter essa posição e dar sustentabilidade ao crescimento dos próximos anos são os grandes desafios de todos que participam do processo produtivo da silvicultura brasileira. Nesse contexto, algumas evidências são destaques:
1. A necessidade do fortalecimento institucional: há necessidade de endereço institucional que cuide da elaboração e da execução de um programa nacional, com metas definidas e políticas públicas adequadas para promover, de maneira planejada, o crescimento da atividade.
Nada de favores ou excepcionalidades. Somente segurança institucional e reconhecimento pelos valores econômicos, sociais e ambientais que a silvicultura pode prestar à sociedade. É inaceitável que uma atividade com geração de tantos empregos, tantas possibilidades de alavancar exportação, alto potencial para geração de energia, recuperação de áreas degradadas e mitigação do efeito estufa continue sem um endereço institucional para cuidar dos seus interesses. Poderia ser parte do Ministério das Florestas, de uma Secretaria Especial, etc. Só não pode continuar sendo portas e salas com meia dúzia de abnegados servidores em vários ministérios discutindo separadamente os pedaços do setor florestal.
2. A desejável integração de pequenos produtores rurais:
As áreas com silvicultura consolidada, como as regiões Sul e Sudeste, seguramente, terão ainda possibilidade de crescimento, na medida em que os pequenos e médios produtores rurais sejam integrados de forma justa e segura aos programas de produção de madeira. Nos últimos anos, alguns avanços foram alcançados, no entanto, os retrocessos promovidos por algumas empresas marcaram negativamente os programas de fomento florestal, que se expandiam crescentemente. Há de se fazerem essas correções para que a atividade resgate a credibilidade junto a essa importante e estratégica clientela.
3. Os novos proprietários das florestas: as florestas plantadas, que, por muitos anos, tinham como proprietários, exclusivamente, grandes indústrias, tendem a se tornar um bem disputadíssimo por diferentes investidores nacionais e internacionais.
Está se transformando em negócio independente e, para tal, há necessidade de se manter produtiva e competitiva. É o rumo da sustentabilidade cada vez mais presente na atividade. Ganha a silvicultura, ganham os investidores, ganha a sociedade, e o crescimento industrial fica assegurado.
4. As novas fronteiras e o uso de tecnologia: a expansão da silvicultura para novas fronteiras será sempre uma preocupação, enquanto não for precedida de amplo programa de pesquisa e experimentação.
Nesses trabalhos pioneiros, há necessidade de se integrarem os conhecimentos técnicos e os cuidados sociais e ambientais, comprovadamente bem-sucedidos, para que os empreendimentos não sejam surpreendidos por grandes dificuldades. Nada que não possa ser resolvido com os conhecimentos existentes, mas que fatalmente poderá comprometer investimentos mal orientados ou influenciados pelo excessivo arrojo empresarial.
A silvicultura de sucesso das regiões Sul e Sudeste não pode ser transferida para essas novas fronteiras sem as devidas adequações. As observações iniciais mostram a importância da escolha do material genético, a forma e a quantidade de adubo e por aí vão as inúmeras necessidades.
São limitações que demandarão muitas pesquisas e experimentações. Nessas novas regiões, os erros em procedimentos silviculturais podem levar empreendimentos a produtividades próximas de zero. Um desastre que precisa ser evitado.
5. O governo e as legislações: o sucesso da silvicultura, principalmente nas novas fronteiras, vai sempre depender de ações governamentais com adequações das legislações, estruturação dos organismos estaduais, programas de infraestrutura e implementação de políticas públicas visando à industrialização da madeira.
Essas iniciativas só avançam e se concretizam com apoio governamental. O papel do empresário florestal é formar florestas produtivas e competitivas. Infelizmente, essas atribuições institucionais em nível estadual e federal ainda estão longe de atender ao crescimento setorial, e a consequência mais desastrosa tem sido o enovelado da legislação florestal e ambiental nos diferentes estados.
Esse desafio se arrasta há anos, e a complexidade da legislação só tem se agravado. A silvicultura respeita integralmente o Código Florestal, do início ao fim do processo produtivo, mas o emaranhado legal para se estabelecer em determinadas regiões tem demandado custos elevadíssimos e sem a mínima contribuição para o sucesso e segurança dos empreendimentos. Essa sangria é inaceitável.
6. O uso de espécies nativas: há que se assegurar, também para os próximos anos, o uso comercial de espécies nativas. Precisamos sair desse samba de duas notas só (eucalipto e pinus). Mas isso, com certeza, só irá acontecer se houver um amplo programa de pesquisa e experimentação que possa garantir o mesmo sucesso dos empreendimentos alcançados com as espécies exóticas.
Há competência nas universidades e instituições de pesquisa, no entanto falta a decisão política e o apoio financeiro para que os programas de pesquisas se transformem em realidade. O Brasil triplicou a produtividade das espécies exóticas em pouco mais de 30 anos, e a probabilidade de se alcançar esse sucesso com inúmeras espécies nativas é muito grande, mas a fase de pesquisas e experimentações será sempre imprescindível à sustentabilidade da proposta.
A silvicultura dos próximos anos continuará crescendo e se fortalecendo na medida em que as dificuldades vão sendo deixadas para trás. O Brasil, além da base científica, que tem garantido o sucesso da silvicultura até aqui, dispõe de profissionais competentes e comprometidos com a causa florestal, que, com certeza, cuidarão de despertar para os novos rumos de nossa silvicultura.