Professor de Entomologia Florestal, Diretor da Unesp-Botucatu e Coordenador do Protef/IPEF
A produção de madeira baseada em plantações florestais, utilizando principalmente espécies de eucalipto e pinus, tem viabilizado com sucesso da produção industrial de papel e celulose, painéis e chapas e da siderurgia, baseada em carvão vegetal. Para isso, a silvicultura intensiva aplica conhecimentos e tecnologias avançadas, como a melhoramento para seleção de híbridos mais produtivos e adaptados, clonagem, fertilizantes mais eficientes, mecanização de operações florestas, etc. Entretanto, os ganhos de produtividade são afetados pelo ataque de pragas e doenças florestais.
As espécies e híbridos de Eucalyptus são as que mais têm sofrido, nas últimas décadas, com o problema de pragas. Além das pragas nativas, como formigas-cortadeiras, cupins e lagartas, as pragas exóticas, originárias da Austrália, são as que mais têm afetado a produção de madeira no Brasil.
As principais pragas exóticas do eucalipto são psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis) e vespa-de-galha (Leptocybe invasa).
Com exceção do gorgulho-do-eucalipto, que foi introduzido na década de 1950, as demais pragas exóticas foram constatadas a partir de 2003. A globalização e o aumento do comércio internacional têm sido considerados fatores-chave na introdução de pragas e doenças exóticas em nível mundial.
Entretanto a maioria dos casos está relacionada a insetos broqueadores de árvores, como os casos do besouro asiático Anoplophora glabripennis (Coleoptera: Cerambycidae) e besouro-verde do freixo Agrilus planiplennis (Coleoptera: Buprestidae), que já causaram mais de um bilhão de dólares em prejuízos na arborização urbana na América do Norte.
Os insetos broqueadores têm mais risco de serem introduzidos por estarem associados à madeira, principalmente de pallets e caixotaria. No caso das pragas exóticas de eucalipto, insetos sugadores e formadores de galhas, que necessitam de tecido vegetal vivo, como folhas e ramos, os de maior ocorrência.
Nesse caso, a introdução pode ser devida ao transporte clandestino de mudas e/ou estacas para propagação vegetativa, introduzindo as pragas de forma acidental ou mesmo intencional. O percevejo bronzeado, detectado no Brasil em 2008, causa redução no incremento médio anual (IMA) entre 15% a 20% em MG e SP.
A estimativa de prejuízos econômicos no período de 2010 a 2015 chega a R$ 1,1 bilhão. Os danos causados pelo psilídeo-de-concha e vespa-de-galha ainda não foram completamente determinados. Porém essas três pragas inviabilizaram a continuidade dos plantios de Eucalyptus camaldulensis e de híbridos com essa espécie no Brasil, sendo esse o principal material genético utilizado nos programas de melhoramento, visando à resistência ao déficit hídrico e à produção de carvão vegetal.
A principal estratégia de manejo dessas pragas é o controle biológico, com a introdução de inimigos naturais da Austrália (região de origem dessas pragas). Hoje, temos resultados que comprovam a efetividade do controle biológico para o percevejo bronzeado, após quatro anos das primeiras liberações.
Para o psilídeo-de-concha, os resultados são de controle parcial, ou seja, há regiões ou estados onde há controle satisfatório, e, em outros, a praga continua a causar surtos, mesmo após 12 anos de introdução do parasitoide. Em suma, o controle biológico é o método recomendado para pragas exóticas ou invasoras e de aceitação pela certificação florestal, mas sua resposta é de médio a longo prazo, e nem sempre uma única espécie de inimigo natural é suficiente.
A resistência de plantas às pragas é outra opção, porém é de longo prazo. A prevenção deve ser considerada método prioritário. Evitar a entrada de novas pragas no Brasil e na América do Sul é prioridade zero, pois, após a chegada de uma nova espécie de praga, dificilmente se conseguirá erradicá-la em seu novo ambiente.
Há pragas exóticas em outros países que também plantam eucalipto em larga escala, com risco de serem introduzidas em nosso continente ou País, como a vespa-de-galha Ophelimus maskelli e O. eucalypti, presentes no Chile, e outra espécie de psilídeo-de-concha, Spondyliaspis plicatuloides na África do Sul.
Além disso, há pragas nativas em outros países que se adaptaram ao eucalipto e que também podem chegar por aqui. A prevenção envolve principalmente medidas de fiscalização em portos e aeroportos, de responsabilidade do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Para tanto, há necessidade de se terem estudos e documentos como análise de risco de pragas (ARP) e planos de contingência para cada praga ou doença exótica.
O Comitê de Sanidade Vegetal – Cosave, órgão normativo do Mercosul, com apoio da Embrapa Florestas, tem elaborado listas de pragas quarentenárias para as plantações florestais (eucalipto e pinus). Entretanto essas listas têm que ser revisadas com maior frequência, devido ao aumento de ocorrência de novas pragas anualmente, e ainda faltam os planos de contingência. Novas parcerias entre as universidades e as Embrapas, com o MAPA, com o apoio da IBÁ, tentarão auxiliar a elaboração e a atualização desses documentos.
A recomendação para a introdução de novos materiais genéticos de eucalipto e pinus é realizá-la oficialmente, passando pelas quarentenas vegetais brasileiras (Embrapa, Cenargen e IAC – Instituto Agronômico de Campinas. A quarentena assegura a introdução de novas espécies, procedências ou genótipos isentos de agentes daninhos, que já causaram prejuízos bilionários para o País.