A crescente demanda por alimentos, fibras e energia, aliada às mudanças climáticas e à escassez de recursos naturais, tem impulsionado a transformação digital no setor agroflorestal. Tecnologias digitais como Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), sensoriamento remoto, Big Data e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) precisam estar alinhadas na forma como produtores e gestores florestais tomam decisões, otimizando recursos e aumentando a produtividade de forma sustentável.
Silvicultura digital: eficiência e precisão:
A silvicultura digital, ou chamada por alguns de Silvicultura 4.0, busca integrar sensores, drones, softwares de gestão e algoritmos inteligentes para monitorar e gerenciar plantações florestais em tempo real. Essa abordagem permite, entre outros processos, o monitoramento climático e do solo, com sensores instalados no campo para coletar dados sobre umidade, temperatura, pH e nutrientes do solo, possibilitando ajustes precisos na irrigação e adubação; o mapeamento de produtividade, usando drones, rovers (veículos como robôs autônomos) e imagens de satélite para capturar informações sobre o desenvolvimento das culturas, identificando áreas com baixo desempenho e possibilitando intervenções localizadas; gestão de insumos, com o uso da base em dados georreferenciados, para a aplicação mais assertiva de fertilizantes, defensivos e mudas de forma variável, reduzindo desperdícios e impactos ambientais; e previsão de produtividade e riscos, aplicando modelos preditivos baseados em IA, que auxiliam na antecipação de ataques de pragas, doenças e eventos climáticos extremos, permitindo ações preventivas.
Essas ferramentas aumentam a eficiência operacional, reduzem custos e promovem uma silvicultura mais resiliente e sustentável.
Digitalização na silvicultura: monitoramento e sustentabilidade:
No nosso setor, as tecnologias digitais têm papel fundamental na gestão de florestas plantadas e nativas, podendo citar algumas aplicações, destacando-se:
• Inventário florestal digital: O uso de drones, LIDAR (Light Detection and Ranging) e imagens de satélite permite estimar volume de madeira, altura das árvores e densidade da vegetação com alta precisão;
• Monitoramento de desmatamento e incêndios: Plataformas como MapBiomas e Global Forest Watch utilizam dados de sensoriamento remoto para detectar alterações na cobertura vegetal quase em tempo real, sendo relevante nos dias atuais, frente a novas regras e políticas contra o desmatamento;
• Gestão de ativos florestais: Softwares de planejamento florestal integram dados de crescimento, colheita e transporte, otimizando a cadeia produtiva e garantindo o manejo sustentável. Exemplos de sistemas para criação de cenários e geração de recomendação de alocação clonal em macroambientes específicos, manejo otimizado de talhadia ou alto fuste, recomendação de adubação são casos concretos que trazem retorno financeiro imediatos.
• Rastreamento e certificação: Tecnologias como blockchain estão sendo exploradas para garantir a rastreabilidade da madeira, desde a origem até o consumidor final, fortalecendo a transparência e a conformidade com normas ambientais.
Big data e Inteligência Artificial: tomada de decisão baseada em dados:
A coleta massiva de dados no campo só se torna útil quando transformada em informação relevante. É nesse contexto que a Big Data e a IA ganham destaque. Plataformas analíticas processam grandes volumes de dados históricos e em tempo real para identificar padrões de produtividade e fatores limitantes, otimizar o uso de recursos naturais e insumos, apoiar decisões estratégicas, como o melhor momento para plantar, colher ou aplicar defensivos e personalizar recomendações para cada talhão ou propriedade.
Com algoritmos de aprendizado de máquina, os sistemas se tornam cada vez mais precisos e adaptativos, aprendendo com os resultados obtidos e ajustando suas previsões.
Desafios e oportunidades:
Apesar dos avanços, a adoção de tecnologias digitais no campo ainda enfrenta desafios importantes:
• Conectividade rural: A falta de acesso à internet em áreas remotas limita o uso de soluções baseadas em nuvem e comunicação em tempo real;
• Capacitação técnica: Ainda há uma lacuna da aplicação de ferramentas digitais, exigindo programas de capacitação e assistência técnica;
• Custo de implementação: O investimento inicial em equipamentos e softwares pode ser elevado, mesmo para grandes empresas;
• Integração de sistemas: A interoperabilidade entre diferentes plataformas e dispositivos ainda é limitada, dificultando a consolidação de dados. Neste caso, a construção de um robusto banco de dados é vital, como a construção de bons alicerces nas edificações.
Por outro lado, o avanço da conectividade via satélite, a popularização de dispositivos móveis e o surgimento de startups agrotecnológicas (agtechs) estão tornando essas soluções mais acessíveis e escaláveis.
O futuro da produção agroflorestal digital:
O futuro da agricultura e da silvicultura será cada vez mais orientado por dados. Espera-se que tecnologias emergentes como computação em nuvem, redes 5G, robótica autônoma e biotecnologia digital ampliem ainda mais as possibilidades de inovação no campo.
Além disso, a integração entre agricultura e florestas — por meio de sistemas agroflorestais e práticas regenerativas — poderá se beneficiar enormemente da digitalização, promovendo paisagens produtivas mais resilientes, biodiversas e alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).