Gerente de Sustentabilidade da Veracel Celulose
Op-CP-21
O aquecimento global, a violência em grande escala, a globalização, o desenvolvimento tecnológico, a perda da biodiversidade e outras situações em nosso dia a dia são desafios que trazem em si oportunidades. A oportunidade de reflexão sobre as escolhas que a humanidade fez que nos conduziram a esses resultados.
A oportunidade de não só fazer diferente como também de fazer melhor. A oportunidade de usar todos os recursos e aparatos tecnológicos para a coexistência de tantos interesses conflitantes que, apesar disso, possam ser harmonizados pelo bem comum. Onde está o ponto de equilíbrio? A sustentabilidade que foi pensada como o ponto de equilíbrio entre as ações ambientais, sociais e econômicas deixou de lado as ações políticas. Mas como ter equilíbrio de produção e consumo sem discutir comportamento político?
Quanto maior a carência e o risco social, maior o desafio da articulação institucional, trabalhando para além dos impactos positivos do negócio e dos processos produtivos, sejam eles quais forem, e ser parte da construção de uma nova realidade. O natural é pensar que não é responsabilidade das empresas implantarem sistema de abastecimento de água, escolas, postos de saúde e estradas, mas como avançar em outras frentes quando as pessoas com quem interagimos não recebem esses serviços básicos.
Bem, ao invés de dizer apenas “não é responsabilidade da empresa”, apresenta-se aqui uma reflexão: como participar da construção de um arranjo institucional que possibilite a conquista desses serviços? Como fazer isso e não concorrer com o governo ou não ser confundido no seu papel? Esse pode ser o viés saudável do fazer político.
No entanto, também abriga fragilidades nas quais a percepção nem sempre favorece a empresa. Ser o catalisador da gestão de conflitos e quebrar as barreiras que isolam os atores sociais do processo de desenvolvimento são papéis possíveis para as empresas.
Por exemplo, atuando quando os prefeitos de interface são de partidos de oposição ao governador do estado; quando as instituições públicas e privadas atendem a critérios dissonantes das prioridades das comunidades em que atuam; quando os orçamentos são restritos; quando impera a falta de gestão ou má gestão de recursos disponíveis...
Enfim, um mosaico de premissas e interesses que nem sempre são sinérgicos e, nem necessariamente, conflitantes. Às vezes, é mais fácil e barato construir tudo sozinho, mas qual a legitimidade dessa atitude? Qual é a curva de aprendizado que se conquista? Como as instituições (empresas, poder público e comunidades) podem ser desafiadas a mudar se não são envolvidas e não encaram as dificuldades inclusive de dialogar? Como buscar protagonismo, quando não há espaço para o exercício do aprender-a-ser-e-fazer?
Em alguns anos de estrada, já é possível afirmar que não há receita de bolo. Há mais perguntas do que respostas. A construção da sustentabilidade passa, antes de tudo, pelo exercício da inclusão. É importante aprender como levar conhecimento a quem não sabe ler; convidar a construir junto com quem está habituado ao isolamento; a colocar, na mesma mesa de diálogo, instituições que têm lógica de atuação antagônicas; a buscar entender os sistemas e processos legítimos que têm que ser obedecidos; a não desanimar; a ter foco no que mais pode ser tentado, ao invés de ficar preso ao mesmo jeito de fazer; a ouvir os outros; a tentar descobrir como deve ser feito de maneira legítima e obter reconhecimento como tal...
A lista é grande, mas honesta! Dessa forma, pode ser que empresas, comunidades, sociedade, organizações governamentais e não governamentais construam uma realidade mais próxima do equilíbrio. Talvez porque o grande desafio da sustentabilidade não consista em desenvolver novas e mirabolantes tecnologias produtivas, mas sim desenvolver e aplicar novas tecnologias de relacionamento capazes de construir o tão desejado desenvolvimento sustentável.