Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP
Op-CP-16
O IPCC lançou uma nova era na maneira como o mundo passou a enxergar as mudanças climáticas. O tão almejado desenvolvimento sustentável está intimamente ligado às mudanças climáticas e, consequentemente, aos desafios energéticos que o mundo enfrenta hoje. O desenvolvimento sustentável é aquele que vai ao encontro das necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de suprir suas próprias demandas.
Esse conceito contém dois pontos chaves: o primeiro é o das necessidades, em particular dos países mais pobres, que deve ser priorizada. E, em segundo, as limitações impostas pelas condições atuais da tecnologia e das organizações sociais na habilidade de satisfazer as necessidades presentes e futuras. O primeiro conceito é ligado à equidade, e o segundo, à disponibilidade de recursos.
Uma matriz energética segura e sustentável será crucial para o desenvolvimento. Os combustíveis fósseis representam cerca de 80% do abastecimento mundial de energia, contra cerca de 6% de energia nuclear e 14% de energias renováveis. Com relação aos fósseis, eles somente poderão ser utilizados dessa maneira por mais uma ou duas gerações. Adicionado aos problemas de depleção, sua queima gera sérios problemas ambientais, com ênfase para as mudanças climáticas.
Hoje, tornar a energia utilizada mais eficiente não é uma solução completa para os atuais problemas. Isso pode apenas ajudar a ganhar algum tempo até a criação de uma matriz energética totalmente limpa. O IPCC já concluiu que as mudanças climáticas provocadas pelo homem é um evento quase certo, destacando que:
Embora a redução da poluição atmosférica tenha tido um progresso considerável em grande parte do mundo, a realidade é que ainda dependemos muito dos combustíveis fósseis, que, além da ameaça de escassez, enfrentam problemas territoriais e políticos. Outro elemento essencial para um futuro mais sustentável é a questão das externalidades, que não se encaixam nas transações de mercado modernas.
Por exemplo, apesar do aquecimento global ser um problema que afeta toda a humanidade e que seja causado em sua maior parte pela queima de combustíveis fósseis, uma das grandes falhas do mercado é não considerá-la e não definir um preço para as emissões de carbono. Estima-se que precificar o carbono a US$ 100 a tonelada pode reduzir, de imediato, o desmatamento das florestas tropicais, que contribuem em aproximadamente 15% das emissões totais de carbono.
Cada hectare de floresta contém algo próximo a 100 toneladas de carbono. Os desafios atuais são mais sérios do que há 20 anos. Os altos preços do petróleo, os indícios do fim da era dos recursos naturais abundantes e baratos, o aumento dos conflitos geopolíticos, as disputas pelo suprimento de gás da Rússia para a Europa Oriental e as preocupações sobre as mudanças climáticas e suas consequências reforçam a convicção de que o momento das decisões é agora.
O maior desafio é fazer com que os EUA (maiores emissores per capita de gases de efeito estufa), assim como a China (maior emissor global), Índia, Brasil e outros emissores significantes concordem em introduzir metas de redução. Uma mudança considerável de direção, apontando o sistema de energia mundial para um futuro mais sustentável, não será conquistada a tempo necessário para evitar riscos ambientais e energéticos significantes se os países em desenvolvimento simplesmente repassarem a trajetória energética histórica dos países já desenvolvidos.