O setor florestal brasileiro tem experimentado, nos últimos anos, um crescimento muito acelerado. A base florestal atingiu o marco de 10 milhões de hectares, especialmente formada por plantios de eucalipto. Além disso, houve um aumento significativo dos conhecimentos e tecnologias com a aceleração dos diferentes ecossistemas de inovação.
Mas, por outro lado, ocorreu também uma estabilização da produtividade florestal, sem avanços nas duas últimas décadas. Desse modo, recentemente, uma pergunta acabou ganhando destaque. O máximo potencial produtivo florestal foi alcançado? Para responder a essa questão, precisamos, antes de mais nada, entender como se deu a expansão dos plantios e quais foram os desafios que surgiram ao longo do caminho.
Os plantios florestais, historicamente, foram implantados em áreas marginais sob o ponto de vista de potencial produtivo, sobretudo por substituição de pastagens degradadas, em um primeiro momento no eixo Sul-Sudeste.
Mais recentemente, os novos projetos foram estabelecidos na região Norte e, finalmente, expandiram para a região Centro-Oeste. Nesta nova onda de expansão florestal, duas diferenças importantes ocorreram. A primeira é sobre a maior velocidade e as grandes dimensões dos novos projetos. A segunda diferença se deu por conta das novas condições de clima e solo.
As novas fábricas de celulose, em virtude da tecnologia, atingiram altas capacidades produtivas. Em função disso e da necessidade de maximizar o retorno sobre o investimento, em um ambiente mais acirrado de competição por terras, os novos plantios estão sendo estabelecidos em uma velocidade nunca vivenciada anteriormente.
Nestas condições, qualquer desvio pode causar grandes impactos e, muitas vezes, sem tempo suficiente para aprimorar o processo. Para complementar, a nova fronteira florestal continua, majoritariamente, no processo de substituição de pastagem, em áreas marginais para produtividade, porém agora com mais risco. Nestes últimos 30 anos, a expansão da silvicultura foi relativamente maior em regiões de menor altitude, em solos de textura mais arenosa e em regiões com chuvas mais sazonais, ou seja, de maior risco para a produção de madeira.
O cenário de expansão acelerada, em grandes dimensões e sob condições de maior risco de clima e solo, torna-se ainda mais desafiador quando avaliamos as condições e os recursos necessários, sejam eles técnicos ou operacionais. Nestas novas fronteiras de plantio, vários fatores são limitantes como mão de obra, prestadores de serviços especializados, disponibilidade de viveiros e mudas, materiais genéticos, bem como conhecimentos mais específicos de manejo. Logicamente, estes fatores limitantes dificultam o estabelecimento dos plantios no estado da arte do conhecimento e podem causar grandes prejuízos para a produtividade florestal.
Para completar esta análise inicial, é importante também lembrar os fatores redutores de produtividade. Nos últimos anos temos observado maior frequência de eventos atípicos de clima, especialmente de secas severas. Estes eventos são associados aos fenômenos El Niño e La Niña, que ocorrem aparentemente de forma cíclica e com maior intensidade, em função das mudanças climáticas. Adicionalmente, novas pragas e doenças foram introduzidas ou dispersaram entre as regiões de plantio, aumentando ainda mais os desafios. Estas condições mais instáveis de clima, bem como as novas pragas e doenças, têm limitado a seleção e o plantio de novos clones de eucalipto.
Importante mencionar que uma grande proporção das novas áreas de plantio, em uma mesma região, tem sido realizada com poucos clones de eucalipto, quase que exclusivamente selecionados em outras regiões do País. Essa é uma questão importante, talvez a principal dentre aquelas técnicas, que tem limitado o ganho em produtividade, além de representar um alto risco para a produtividade e produção de madeira.
Para se ter uma ideia disso, tive a oportunidade de detectar, pela primeira vez, o distúrbio fisiológico do eucalipto na região norte do Espírito Santo e extremo sul da Bahia. Nesta região, em poucos anos, a partir do final de 2007, um dos clones mais plantado foi praticamente dizimado por essa doença. Além disso, essa doença abiótica, de causa ainda não determinada, ainda é a principal limitação para o desenvolvimento de novos clones e de ganho de produtividade para essa região. Para contornar todos estes problemas técnicos, torna-se necessário investir em silvicultura de precisão.
Sendo assim, é necessário conhecer, no detalhe, os ambientes de produção, a resposta dos clones e determinar as técnicas de manejo aproveitando a melhor interação possível entre todos estes fatores. Com o avanço das tecnologias de informações, ciência de dados e modelagem, aqui também cabe destacar o potencial destas novas ferramentas para otimização da produtividade florestal.
Além disso, é importante quebrar alguns paradigmas, os quais têm impedido de repensar a silvicultura e desenvolver novas tecnologias. Ao analisar todos estes fatores fica fácil entender que precisamos, urgentemente, eliminar os vários gargalos operacionais, bem como encontrar soluções técnicas para as questões limitantes dos novos ambientes de produção e de materiais genéticos. Após isso, será necessário buscar alternativas para aumentar o potencial produtivo e, principalmente, desenvolver maneiras de transferir, de forma estruturada, estes ganhos para a escala operacional.
Este último ponto é muito importante, pois é comum observar em escala de pesquisa ou mesmo em plantios piloto altas produtividades, em torno de 40-50 m³/ha/ano, muito acima dos valores médios do Brasil (33,7 m3/ha/ano, ano referência 2023, IBÁ). Mas estes ganhos, muitas vezes, são perdidos quando as tecnologias, recomendações e técnicas precisaram ser transferidas para grandes áreas de plantio.
Aqui cabe destacar a importância da excelência na execução. Apesar de existirem várias ferramentas, no geral avaliamos o resultado final da floresta, seja qualitativamente, seja de produtividade, mas sem monitorar e corrigir, quando necessário, a qualidade e a precisão na execução.
Para finalizar e responder à questão principal, entendo que há espaço para ganho de produtividade, mas para isso é necessário disponibilidade de material genético de alto potencial, técnicas mais precisas de manejo e excelência na execução.
Mas para que a aliança destes três fatores possa funcionar é importante compreender que o setor florestal atingiu outro patamar de tamanho e velocidade de crescimento, o que demanda novos conceitos, quebra de vários paradigmas técnicos e de gestão, bem como maior velocidade na implementação de novas tecnologias.