Presidente da International Paper do Brasil
Op-CP-02
O Brasil tem um posicionamento de destaque no cenário mundial de celulose e papel. Este é um segmento de capital extremamente intensivo, no qual a integração da cadeia produtiva, desde as plantações de espécies reflorestadas até a linha de papel acabado, exige altos níveis de investimento. Porém, o diferencial do Brasil, como participante global, é que o País possui uma grande vantagem competitiva, no ponto mais importante deste fluxo: o baixo custo da fibra.
O eucalipto é a espécie predominante, especialmente para a produção de celulose aplicada na confecção de papéis para imprimir e escrever e papéis sanitários. Enquanto no Brasil a maturidade do eucalipto para corte, visando à produção de celulose, se dá em sete anos, as plantações no sul dos EUA precisam de 30 anos e as da Rússia, mais de 45 anos.
Fatores como qualidade do solo e o clima são cruciais para esse rápido desenvolvimento, e a rápida rotação das florestas passa a ser uma vantagem estrutural e de longo prazo. Porém, não podemos atribuir esse diferencial apenas às condições naturais favoráveis do país. Extensos trabalhos de aperfeiçoamento de clones de eucalipto permitiram que as plantações atuais apresentem alta produtividade e altíssima qualidade, com baixos teores de lignina.
A evolução da participação do Brasil no mercado mundial de celulose de fibra curta branqueada cresceu de 15% para 26% entre 1990 e 2004, e a perspectiva é que aumente ainda mais. Hoje, o País já é o maior produtor deste tipo de celulose. Nos últimos dez anos, as companhias brasileiras aplicaram US$ 12 bilhões na expansão de sua capacidade e vão investir mais US$ 14,4 bilhões até 2012. Isso confirma a tendência de migração da oferta do hemisfério norte para o hemisfério sul, especialmente para o Brasil.
Já o consumo nacional de papel representa apenas 2% da demanda mundial. Apesar de ter uma representatividade ainda pequena, oferece grande potencial. Enquanto o Brasil consome 40 kg per capita por ano, os EUA consomem 300 kg, o Reino Unido 207 kg, a França 180 kg e o Chile 56 Kg. O mercado norte-americano e da Europa Ocidental já estão próximos de sua maturidade e as novas tecnologias eletrônicas podem começar a impactar o consumo de papel, devido à sua substituição.
Já o mercado brasileiro apresenta perspectiva de crescimento à medida que a economia doméstica cresce, as taxas de analfabetismo diminuem, o nível de escolaridade da população aumente e a renda per capita seja maior. Aqui, a substituição eletrônica não vai aparecer de forma tão rápida, uma vez que, antes disso, deverá acontecer um aumento da população economicamente ativa e consumidora de papel e seus derivados, como livros, revistas, cadernos, papéis sanitários mais sofisticados, embalagens e outros produtos.
Hoje, o Brasil tem capacidade de produção maior que sua demanda interna. Considerando todos os segmentos de papéis, a produção em 2004 foi de mais de 8,5 milhões de toneladas e o consumo foi 7,3 milhões de toneladas. Exportamos, portanto, por volta de 1,2 milhão de toneladas. Com o crescimento da demanda doméstica, o Brasil tende a sair de uma posição de exportador para importador nos próximos anos, se não houver investimentos.
Por isso, também há ótimas oportunidades para expansão da base produtiva de papel. A International Paper tem um projeto em estudo, a ser concluído em meados de 2006, sobre um investimento de aproximadamente US$ 1,4 bilhão para construir uma fábrica no município de Três Lagoas, estado do Mato Grosso do Sul, visando produzir 900 mil toneladas de celulose anualmente, com a possibilidade de converter 500 mil toneladas para a produção de papel branco não revestido.
Além dos custos competitivos da fibra e mercado com tendência de crescimento, existe um outro fator favorável ao Brasil: o engajamento das pessoas em seu ambiente de trabalho, o compromisso e a forte dedicação fazem com que o país tenha ótimos níveis de eficiência em suas operações. Fica claro para nós que o Brasil tem vantagens competitivas para desenvolver florestas de eucalipto, mas isso não é suficiente.
Faz dez anos que o País não tem nenhuma nova máquina para produzir papel instalada. Hoje, existe essa possibilidade. Para isso é preciso desenvolver as vantagens competitivas do Brasil para participar da produção de papel para o mercado global. Se isso não for feito, outro país (China, Rússia, Índia, etc.) acabará ocupando esse lugar.
Desenvolver vantagens competitivas é responsabilidade de todos – iniciativa privada, empresas públicas, executivo e legislativo, investidores e fornecedores. É um desafio e uma oportunidade. O Brasil tem contra si quatro fatores macroeconômicos que determinam perda de competitividade: juros altos, carga tributária elevada e complexa, deficiência logística (infra-estrutura de transportes e apoio) e, neste momento, câmbio supervalorizado. Para assumir a posição privilegiada no mercado de celulose e papel que lhe parece reservada, o país precisa contornar esses obstáculos e mostrar ser uma alternativa competitiva a fim de atrair os investimentos necessários. Sem isso, corre o risco de ver o seu potencial florestal desperdiçado.