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Umberto Caldeira Cinque

Presidente da ABTCP

Op-CP-01

O apagão florestal

A ABTCP é uma associação técnica estratégica que, embora tenha foco nas questões industriais, está atenta a toda cadeira produtiva do setor de celulose e papel. Sendo a madeira a sua principal matéria-prima, o assunto não poderia ficar de fo-ra da pauta de discussões da ABTCP. O chamado apagão florestal não é questão recente.

O modelo adotado no passado levou-nos a esta situação. As grandes empresas, por razões estratégicas, preocuparam-se em adquirir grandes áreas, deixando num outro plano o relacionamento com as partes interessadas, sob influência direta e indireta dos empreendimentos, mais precisamente aqueles pequenos agricultores, que teriam, através de uma adequada política de fomento e de uma melhor disponibilização da tecnologia, condição de entender o plantio florestal como um negócio.

Este modelo vem sendo alterado com o crescimento da escassez de madeira e, ao mesmo tempo, a intensificação desta prática fará com que a chegada do apagão florestal tenha a sua velocidade reduzida ou jamais venha a acontecer de fato. Outro ponto a observar é que a sociedade começou a manifestar-se contra a ocupação de grandes áreas de terras, questionando os efetivos benefícios transferidos destes grandes empreendimentos florestais para a comunidade local.

Em verdade, há de ressaltar-se que, se considerarmos as áreas dedicadas exclusivamente ao plantio, e não a área total, com toda a infra-estrutura operacional necessária, estas não são tão grandes, como podem inicialmente parecer. As grandes empresas dedicam hoje, pelo menos, 30% das áreas à preservação ambiental. Inicialmente, em razão desta pressão, o setor passou a viabilizar o plantio de outras espécies de cultura como feijão, mandioca, entre outras, plantadas em sistema consorciado com eucalipto.

O setor tem dificuldade de viabilizar a expansão da sua base florestal, mas sou otimista com relação à resolução desta questão, em função da criatividade que muitos grupos empresariais têm demonstrado possuir e por ver, na relação com os pequenos produtores rurais, uma oportunidade de solução desta questão.

Fronteiras de expansão: As fronteiras de expansão do setor papeleiro estão localizadas no Sul, especificamente no RS, no Sudeste, envolvendo o estado de MG, SP e RJ e no extremo Sul da Bahia. Em Roraima, temos um projeto da Brancocel nascendo, mas é só. Estas são as fronteiras mais conhecidas.

Mercado Mundial: O Mercado mundial é altamente demandante de produto de celulose e papel de alta qualidade, exatamente a que produzimos, com reconhecimento mundial. Na medida em que sua demanda aumenta, há proporcionalmente a necessidade de ajuste da oferta de produção florestal. Em outras palavras, a estratégia de crescimento do mercado está ligada à estratégia de crescimento das áreas florestais.

Restrições da sociedade: Temos, na questão da monocultura, os fatos de que o eucalipto seca a terra e que a floresta ocupa o lugar que poderia dedicar-se à produção de alimentos, entre outras mais. No entanto, temos florestas com boas condições de produção, onde o eucalipto é plantado há mais de 50 anos.

Se fosse verdade, o lugar já teria virado um deserto. Com relação à ocupação do solo, o plantio de florestas dá-se em áreas já degradadas, como pastos, por exemplo. Você nunca desmata uma área para plantar eucalipto. Penso que a questão está mais ligada ao fato de que a comunidade não discerne claramente o benefício que o plantio florestal traz e nós já somos sensíveis a isto e estamos nos movimentando na medida em que estimulamos o plantio fomentado, a poupança florestal, envolvendo a comunidade.

Atendendo esta questão levantada pelas sociedades locais, temos plantios menores, concentrações menores, plantios intercalados com áreas nativas e áreas destinadas a alimentos. Até o consórcio com gado tem sido usado. A obtenção de uma licença ambiental, hoje, é uma operação muito transparente. A comunidade, o Ministério Público, os órgãos ambientais e ONGs participam de uma forma bem ativa e detêm, na prática, real poder de veto.

Quanto à visão estratégica para a solução do chamado apagão florestal, penso que o caminho seja o do estreitamento do envolvimento das empresas com os pequenos produtores rurais, mostrando-lhes os benefícios desta parceria. Nas áreas próprias, a estratégia é fazer uso múltiplo do espaço, viabilizando o plantio do eucalipto consorciado a outras culturas de ciclo rápido.

Melhoramento Tecnológico: Além destes mecanismos, dispomos também de uma importante ferramenta de médio e longo prazo. O melhoramento genético vai otimizar ainda mais o ciclo de crescimento e permitir um aumento realmente representativo do volume produzido por árvore. Na questão de melhoramento de produtividade e da qualidade da madeira, nós somos referência diante de qualquer outro país. Por estas razões, eu sou muito otimista e penso que o setor saberá lidar com a questão do apagão florestal com muita competência.