Pesquisador Florestal da International Paper
Op-CP-26
O uso da madeira como fonte de energia caminha lado a lado com a existência do ser humano. Foi o fogo da queima da lenha que proporcionou a vida em sociedade. Da energia gerada pela combustão da madeira foi possível a fundição de metais, resultando na elaboração de ferramentas mais eficientes para a caça e para o cultivo agrícola.
A madeira como fonte de energia também está diretamente relacionada com a ascendência e decadência das antigas civilizações. Desde o fim da era glacial, há cerca de 10.000 anos, a disponibilidade de madeira caminhou como o melhor parceiro do homem no desenvolvimento das civilizações e a sua escassez com a decadência da riqueza das sociedades.
No Brasil, as florestas plantadas tiveram a sua origem no interior do estado de São Paulo, com o intuito de, entre outros, servir como fonte de energia para a antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Graças à visão de um notável estudioso chamado Edmundo Navarro de Andrade, que, no início do século XX, após andanças mundo afora, selecionou as essências florestais com potencial de adaptação às condições físicas e climáticas do Brasil.
Dentre os gêneros testados, estava o eucalipto, que, segundo ele, “... de maneira peremptória e insofismável é a essência para o reflorestamento do País”. Os números mostram que ele estava certo. O Brasil é líder mundial em área e produtividade de florestas plantadas de eucalipto, e, dessa área, 62% são destinados à produção de madeira para energia.
Portanto, o uso das florestas plantadas para fins energéticos, definitivamente, não é algo inovador. Então, o que de fato seria a “atual” inovação tecnológica? Os plantios adensados? Voltando também na história, no mesmo livro, o autor relata que: “... podemos concluir que não é aconselhável efetuar plantios inferiores a 4 m² por planta. As distâncias mais amplas apresentam as seguintes vantagens:
1. dão maior renda do capital empregado;
2. possibilitam, mais facilmente, a mecanização de várias operações agrícolas após o plantio;
3. A ocorrência de menor percentagem de árvores mortas, bem como de árvores dominadas ...”. Isso nos parece muito atual.
Em estudo detalhado, realizado recentemente em áreas da International Paper, baseado em 12 repetições de um ensaio que abrange espaçamentos entre 2 m² e 40 m² por planta, observou-se que o estoque mais viável para a produção de biomassa se situa entre 900 e 1.600 plantas por hectare, com um ciclo de 6 a 8 anos. Esse manejo corresponde, em termos de espaçamento, ao conhecido intervalo que vai de 3x2m a 4x3m.
Comparando, como exemplo, um plantio adensado no espaçamento 3x0,7m e colhido aos 2 anos com um plantio convencional de espaçamento 3x2,5m colhido aos 7 anos, temos que o custo final da madeira seria 123% maior no plantio adensado (R$ 185,00 versus R$ 83,00 por tonelada de biomassa).
Supondo uma necessidade anual de 100.000 toneladas de biomassa, a necessidade de área para plantios adensados seria 39% maior (5.922 versus 4.247 hectares), e a quantidade de mudas deveria ser 431% maior (29,6 versus 5,6 milhões de mudas). Bom para os negócios de terras e de mudas, ruim para o produtor.
Além dos aspectos econômicos, devemos levar em consideração os impactos ambientais, principalmente em relação ao solo e à água. É preciso lembrar que o nosso sistema é mais frágil do que o modelo adotado nas florestas de clima temperado, onde a ciclagem de nutrientes, carbono e água é mais lenta e menos dinâmica, em função das baixas temperaturas.
Em ecossistemas tropicais, as rotações de ciclo curto e o aumento de intervenções no solo podem acarretar desequilíbrio desses processos de ciclagem, comprometendo a sustentabilidade da produtividade florestal.
Acompanhando a crescente busca por fontes renováveis de energia, a International Paper, na unidade de Mogi Guaçu-SP, inaugurará, no final de 2012, uma caldeira de biomassa que irá substituir praticamente todo o uso de combustíveis fósseis no processo fabril. O manejo adotado para essa “floresta energética” é o mesmo recomendado para a produção de madeira para celulose.
O consagrado tripé da sustentabilidade – econômica, ambiental e social – fica assegurado. Para o bem do setor florestal brasileiro e da saúde das nossas valiosas florestas nativas, o uso das florestas plantadas como fonte de energia realmente é uma inovação. À “descoberta” feita há mais de um século e ao aprimoramento do manejo desenvolvido pelas diversas gerações de silvicultores cabem toda a nossa admiração e respeito. Com isso em mente, seguiremos em frente para manter a energia do nosso setor.