Presidente da Voith Paper Máquinas e Equipamentos
Op-CP-29
Há mais de 200 anos, a produção de papel deixava de ser uma atividade artesanal para se transformar em um processo industrial e contínuo. Esse processo foi liderado pelos países do hemisfério norte, que também iniciaram estudos sobre a utilização das fibras de madeira, em substituição aos farrapos de tecidos que eram utilizados como matéria-prima na época. Portanto as fibras celulósicas longas, provenientes de madeiras desses países, reinaram absolutas por muito tempo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a restrição na oferta de fibras fez com que alguns empreendedores no Brasil iniciassem estudos com outros tipos de fibras em escala industrial, encontrando resultados positivos com uma espécie originária da Austrália, o eucalipto.
A fibra do eucalipto é curta e não tem a mesma resistência da fibra longa. Porém características como baixo comprimento, alta uniformidade e o alto número de fibras por grama do eucalipto proporcionam excelente formação, lisura e maciez, que são requisitos importantes para papéis de escrever e imprimir, papéis especiais e papéis tissue (papel higiênico, papel facial, guardanapo e papel toalha).
No caso específico do papel tissue, realizou-se um “casamento perfeito” da fibra de eucalipto com o papel. Além da maciez já comentada, essa fibra é menos compressível, conduzindo a uma maior espessura e, portanto, a uma maior absorção, característica fundamental nesse tipo de papel.
Além da qualidade que contribui ao papel, o eucalipto encontrou, em território brasileiro, ótimas condições de clima e de solo para se desenvolver, com crescimento rápido e podendo ser cultivado em terrenos de baixa fertilidade natural. Aliado ao forte investimento das empresas brasileiras em melhoramento genético e técnicas de manejo florestal, proporcionou que as nossas florestas se tornassem uma das mais produtivas e sustentáveis do mundo.
Passados mais de 60 anos, a fibra curta de eucalipto atravessou um longo caminho, que começou com uma grande resistência por parte dos produtores, até o momento atual, em que presenciamos uma consistente substituição da fibra longa pela fibra curta na produção de papéis que se adaptem bem às características proporcionadas pela fibra curta.
Esse processo nitidamente se intensificou após a crise econômica global de 2008, que evidenciou, ainda mais, a vantagem comparativa de países, como o Brasil, com baixos custos de produção, levando a fechamento de capacidades ineficientes de fibra longa no hemisfério norte. Um dos principais “papéis” desse processo de substituição tem sido desempenhado pelo crescimento em termos de volume e importância que o papel tissue vem apresentando na indústria de papel e celulose.
O crescimento da população, uma maior urbanização, a melhoria dos padrões socioeconômicos e o baixo nível de substituição desse produto são fatores com forte correlação e que sustentam o aumento do consumo no longo prazo, com previsão para os próximos 10 anos de uma taxa de crescimento global em torno de 4% ao ano, superior aos demais tipos de papel.
Interessante notar que, em mercados maduros, como o americano, onde o consumo per capita já é muito alto, o principal direcionador é a qualidade. Dessa forma, evidencia-se o crescente emprego da fibra curta de eucalipto onde os produtos premium, com alta absorção e também maciez, têm ampla procura. Já em mercados como a China, que possui a maior capacidade de instalação de papéis tissue para os próximos anos e é um país deficitário de fibras, a exportação da fibra curta, especialmente a de eucalipto proveniente do Brasil, desempenha um papel importante.
A introdução da fibra curta no processo produtivo de papel também exigiu dos fabricantes de máquinas e equipamentos o desenvolvimento de tecnologias que se adequassem às características dessa nova matéria-prima, como, por exemplo, sua menor resistência quando comparada à fibra longa, num cenário em que os produtores de papel também demandavam por máquinas mais velozes, com maior eficiência e produtos com maior qualidade.
Várias inovações foram implementadas, e, à medida que o conhecimento do desempenho da fibra curta em uma instalação industrial foi sendo gerado, novos desenvolvimentos surgiram, visando sempre desafiar os limites da fibra. O Brasil possui também um centro de tecnologia mundial para a produção de papéis tissue, onde importantes desenvolvimentos são realizados em parceria com os produtores desse papel.
Desde o início da sua história, a fabricação de papel passou por grandes mudanças, e inovações ocorreram em seu processo de produção. Neste novo contexto global, onde a sustentabilidade é um importante direcionador para as empresas e a sociedade, a biotecnologia arbórea, que ainda se encontra em fase de testes e sujeita a regulamentações, será fundamental no desenvolvimento da indústria de papel e celulose.
As espécies não apenas serão adequadas para atender ao aumento de produtividade florestal e ao microclima, mas também serão cada vez mais direcionadas à necessidade final dos produtos, levando a um menor consumo de recursos e insumos (terra, água, energia, fibras e químicos). Para uma indústria que, além de ser capital intensivo, é também de consumo intensivo, essas novas possibilidades permitirão sua competitividade no futuro. Para os fabricantes de equipamentos que são desenvolvedores de tecnologia, a contínua parceria com os produtores se faz cada vez mais necessária nesse contexto para o atendimento das futuras demandas.