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Marcelo Santos Ambrogi

Diretor Executivo da IMA Gestão e Análise Florestal

Op-CP-56

Geotecnologia: o passado e a tendência
Um dos principais passos do uso da geotecnologia para o setor florestal foi quando se efetivou a integração das bases cartográficas com os sistemas de informações, o banco de dados alfanumérico, pois, no início do uso das geotecnologia, era necessário trabalhar com duas bases de dados em separado, o que criava uma série de dificuldades e erros.

Essa integração aconteceu entre 1997 e 2000. Vimos isso sendo desenvolvido pela principal empresa de sistema de tratamento de imagens e informações cartográficas, na cidade de Boulder, no estado de Colorado, EUA. Colegas da antiga Aracruz participaram desse desenvolvimento que foi a base de sustentação do Sistema de Informações Florestais implantado naquela empresa e que se transformou, posteriormente, no sistema de gestão florestal mais usado no setor. Com esse desenvolvimento, o uso da geotecnologia pôde ser aplicado a inúmeras atividades.
 
A geotecnologia pode ser dividida, de forma simplista, em três grandes grupos: gestão de base de dados, sistemas informatizados e captura de dados. A captura de dados saiu do 100% topografia, imagens de satélite de baixa para alta resolução até as  imagens de pequeno formato e alta resolução obtidas por VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) ou drones. Em uma outra vertente de tecnologia, entraram os sensores baseados em feixes de laser, os chamados LiDAR (Light Detection And Ranging).
 
A geotecnologia já não é só aplicada em um plano horizontal. A tecnologia de processamento de imagens e LiDAR também são aplicadas na vertical, como ferramentas de medição de pilhas de madeira, inventários florestais, cargas de caminhões e estudos diversos. 
 
Sensores embarcados em tratores, como medição de profundidade de subsolagem, e em máquinas e caminhões associados a equipamentos de GPS embarcados permitem monitorar operações, treinar operadores e estudar melhorias operacionais. Todos esses dados vão ser alocados em base de dados e processados e disponibilizados em um sistema de gestão. 

Atualmente, não é possível desassociar geotecnologias dos drones e seu potencial ainda não explorado. Considerando a grande evolução dos equipamentos de voo e dos sensores e que podem ser embarcados, estamos ainda no início do uso dessa tecnologia. Atualmente, o uso se concentra em atividades de planejamento e controle operacional, algumas atividades de aplicações de insumo. Existe um grande potencial para substituição de atividades, mas, principalmente, para criar atividades que eliminam grupo de atividades atuais e, com isso, otimizar custos.
 
Olhando para o futuro ? o uso de drones e seus sensores e ferramentas ?, podemos ver uma grande lista de oportunidades nos processos operacionais, de vigilância patrimonial e proteção florestal. A viabilidade deverá estar associada ao uso de drones de maior autonomia e capacidade de carga e mudança em processos administrativos e operacionais. Drones com autonomia de voo de 12 horas e boa capacidade de carga já existem e são, inclusive, desenvolvidos no Brasil. Dentro desse grupo de atividades, drones podem ser usados para transportar peças, ferramentas, insumos, material de primeiros socorros, etc. Podem ser usados para verificação e primeiro combate a incêndios, pragas e doenças. 
 
O monitoramento das divisas, das invasões, dos roubos em áreas de preservação permanente pode ser otimizado e mais eficiente. A LiDAR pode ser usada em grandes áreas de preservação, identificando furtos abaixo da copa, por exemplo. Essa aplicação poderia estar sendo feita em Áreas de Preservação Permanente nos diversos biomas no Brasil.
 
A comunicação de dados em áreas com dificuldade de uso de telefonia móvel pode ter maior eficiência e menor custo com uma agenda de coleta de dados com drones, que acessam sensores embarcados em máquinas, equipamentos, que podem transmitir por tecnologia de bluetooth. Um exemplo é a tecnologia de uma startup Israelense, com a qual um sensor de tecnologia sísmica conectado na árvore monitora brocas dentro de troncos. Esses sensores transmitem dados e os disponibilizam em um coletor de dados em uma árvore na beira do talhão. Essa árvore pode enviar os dados via telefonia 3G ou transferi-los via bluetooth para coletores de dados ou para um drone.
 
A otimização do uso de drones vai passar por mudanças dos processos de planejamento e controle operacional, onde parte das atividades deixarão de ser departamental para serem uma estrutura centralizada. Praticamente, todas essas tecnologias mais modernas estão no Brasil, e algumas delas já há algum tempo, mas ainda não são aplicadas em escala operacional. 
 
A LiDAR, por exemplo, é utilizada operacionalmente na  América do Norte e na Europa desde a primeira década dos anos 2.000. Isso indica que o setor está ainda evoluindo na redução do conservadorismo em aplicação de tecnologias. Tive duas experiências que demonstram isso.

O uso de imagens de alta resolução de tecnologia israelense, que foi utilizado por gestores de fundo de investimentos ou TIMO. Esses novos gestores viram, na tecnologia, ferramenta para avaliar ativos e controlar a agregação de valor do ativo. A segunda experiência foi com sensor LiDAR. Realizamos um seminário em São Paulo para apresentar a tecnologia e oferecer o serviço em 2011, em parceria com empresa europeia. Tivemos um bom seminário, mas nenhum resultado. 
 
 
Dois pontos foram fundamentais para inviabilizar a entrada no mercado: 1) a necessidade de grandes áreas para viabilizar a aplicação e, 2) a prerrogativa das empresas do controle das ferramentas que tratam os dados e processam resultados. Essa prerrogativa afastou as empresas dessa tecnologia deste mercado. Atualmente, as empresas do setor desenvolvem tecnologia através de empresas externas e startups. 
 
Para o desenvolvimento de prestação de serviços e de novos usos, a escala deve ser aumentada e, com isso, os custos serão cada vez mais competitivos. Como perspectiva para o futuro, indicaria que deverá haver uma separação e especialização entre os três grandes grupos, que são o gerenciamento da base de dados, os softwares especialistas e a operação aérea para diferentes objetivos e tarefas. 

A especialização de empresas de coleta de dados, onde estarão os drones de diferentes dimensões, sensores, ferramentas operacionais, pilotos, manutenção de aeronaves, etc., dará maior foco operacional na estrutura e nos investimentos e terá como mercado todas as cadeias de negócio que demandam esses serviços. A alocação e administração de banco de dados e sua segurança serão feitos por empresas especializadas, eliminando investimento para o cliente. 
 
A geração de produtos, desenvolvimento de algoritmos, sistemas especialistas, estarão em empresas na área de geotecnologias. Essas empresas poderão focar no desenvolvimento de novas soluções e produtos e podem trabalhar para diferentes atividades, como no agronegócio. Dessa forma, um cliente pode contratar uma empresa de drone regional para capturar imagens e dados de sensores ou executar serviços operacionais. Esses dados são transferidos para nuvens onde podem ser acessados pelo cliente, que poderá processar ou encaminhar para uma empresa de tecnologia, que processa e retorna via nuvem o produto final. 
 
Apenas com a especialização da cadeia e o aumento de escala, além do setor de base florestal, iremos aumentar a velocidade do desenvolvimento das aplicações, a otimização de custos e, com isso, o aumento da abrangência de usuários.