O planeta sofreu uma série de ocorrências ambientais na última década e, com isso, percebemos uma melhora sobre o conhecimento a respeito da importância das florestas na luta contra as mudanças climáticas. Em meio a tudo isso, um grupo de cientistas estabelecido pelas Nações Unidas para monitorar e assessorar toda a ciência global relacionada às mudanças climáticas lançou seu novo relatório de clima, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), que divulgou, recentemente, que as alterações no clima já estão causando um aumento na frequência e/ou intensidade de eventos extremos desde os tempos pré-industriais, como tempestades, alagamentos, secas, incêndios florestais e outros fenômenos climáticos; além disso, segundo o relatório de agosto de 2021, os seres humanos são responsáveis por um aumento de 1,07 °C na temperatura do planeta. Ainda de acordo com o IPCC, não há como baixar a temperatura global, o desafio é evitar que ela continue a se elevar.
Para entender isso, é preciso analisar sob a óptica de um período em que a mentalidade era a de ver a poluição das fábricas como símbolo de vitória e prosperidade, sem perceber os possíveis efeitos colaterais do modelo industrial, marcado pelo uso irracional dos recursos naturais, pela desigualdade social e pelas péssimas condições de vida dos operários.
Buscando frear o avanço das emissões de carbono no globo e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, surgiu, a partir do Protocolo de Kyoto, em 1997, o conceito do crédito de carbono. Foi o primeiro tratado internacional para controle da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, de acordo com publicação da Agência Senado.
Os créditos de carbono se tornaram um incentivo, pois permitem que se tenha um maior retorno financeiro, recurso que pode ser usado para projetos de infraestrutura sustentável e de bioeconomia, principalmente para o pagamento dos serviços ambientais e da preservação do estoque de recursos naturais. Esses créditos, além de neutralizar as emissões próprias das companhias, podem ser comercializados entre empresas que buscam neutralizar suas emissões, evitando, assim, possíveis sanções ambientais.
Diante desse cenário, a silvicultura entra com protagonismo, pois é capaz de reduzir a pressão sobre a vegetação nativa, contribuindo para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Segundo o site pensamentoverde.com.br, os principais benefícios da silvicultura são:
• Diminuição da pressão sobre florestas nativas;
• Reaprimoramento de terras degradadas pela agricultura;
• Sequestro de carbono;
• Proteção do solo e da água;
• Ciclos de rotação mais curtos em relação aos países com clima temperado;
• Maior homogeneidade dos produtos, facilitando a adequação de máquinas na indústria.
Ou seja, tem como função cuidar da exploração e da manutenção racional das florestas, desde o pequeno agricultor às grandes indústrias.
Brasil:
Durante a última Conferência em Glasgow, na Escócia, as entidades que representam o mercado mundial de crédito de carbono foram unânimes em dizer que o Brasil está atraindo cada vez mais investidores internacionais. A lógica desse mecanismo é permitir que uma nação mais poluidora invista em projetos de sustentabilidade em outro país e ganhe crédito de carbono.
O Brasil, por sua vez, possui aproximadamente 9,8 milhões de hectares de florestas plantadas, o que corresponde a menos de 1% do território nacional, com estoque de, aproximadamente, 1,88 bilhão de toneladas de gás carbônico (CO2) equivalente, sendo que 76% da produção total de florestas no País é destinada ao eucalipto, segundo o IBGE, com base nos dados de 2021.
Tanto as empresas de florestas plantadas quanto fundos internacionais de investimentos florestais, conhecidos como Timber Investment Management Organization (TIMO), que é um grupo de gestão que auxilia os investidores institucionais na gestão de suas carteiras de investimento em ativos florestais, seguem avançando no País, investindo no aumento de áreas plantadas, com o objetivo de abastecer suas indústrias (mercado verticalizado), e no chamado mercado aberto de madeira reflorestada. As árvores plantadas, mesmo após serem colhidas, são transformadas em produtos, que seguem estocando o carbono sequestrado. Além disso, milhões de toneladas de carbono deixam de ser emitidas no uso de energia renovável em substituição aos combustíveis de origem fóssil, na produção de produtos em substituição aos derivados do petróleo.
Esse mercado global de produtos derivados da madeira proveniente de florestas plantadas exige certificações internacionais que atestam o emprego de práticas responsáveis durante toda a cadeia de valor do manejo florestal. Os plantios ocorrem em áreas antropizadas, ou seja, áreas cujas características originais foram alteradas pela ação do homem, sem fazer pressão sobre áreas de florestas nativas. Além de sequestrar carbono e contribuir para a geração de energia de fontes renováveis, esse mercado cumpre à risca a legislação, protege e preserva serviços ecossistêmicos.
Com base nessa análise que contempla o contexto histórico e traz uma visão sistêmica do momento atual que vivemos no mundo, acredito que a silvicultura exerce um papel de extrema importância para a desaceleração das mudanças climáticas mundiais. O Brasil se destaca nessa cultura de maneira global e tem condições de liderar o processo de expansão das atividades de base florestal no planeta, carregando a plena convicção de que cumprimos os mais rígidos padrões de sustentabilidade e leis ambientais.
Outro ponto que não posso deixar de fora dessa análise é o papel social desempenhado pelas empresas de base florestal, que proporcionam conhecimento e geram empregos e renda em suas regiões de atuação, o que nos dá, no plano geral, uma contribuição direta para o desenvolvimento socioeconômico do País.
O plantio de florestas, portanto, além de gerar divisas e ter um manejo responsável, é ambientalmente correto e melhora a vida das pessoas.